Para reflexão, uma análise muito interessante, feita pelo dr. Wesley Aragão ( médico e antropólogo antroposofósico), a partir dos últimos acontecimentos na França...
From: Wesley Aragão (10 de janeiro de
2015)
A grande
questão é o etnocentrismo ingênuo, ou seja, "a minha cultura é a melhor que as
outras, nela o mal é menor, o bem é maior, Deus está conosco e não está com
eles, somos mais humanos, mais civilizados, não bárbaros e imperfeitos como os
outros"....esta maneira de pensar norteou grandes males nos últimos séculos,
quando um povo se julga "escolhido" ou melhor do que os outros e assim perde a
visão universalista da condição humana como um todo. A pessoa assim se torna
preconceituosa, tanto quanto um radical muçulmano ou outro radical
qualquer....Os radicais são sempre aqueles que tem certeza absoluta que o seu
povo, a sua cultura, a sua crença, está acima do mal, melhor que as demais, e
que está espiritualmente privilegiado...isto cria também uma arrogância enorme e
uma visão desumana das pessoas, que não vê o bem em lugar algum além de no
próprio umbigo. Fora do próprio umbigo, só a imperfeição....
A outra grande
questão é que, além de nao sermos melhores, as outras formas de civilização, as
outras culturas, também nao são perfeitas, não são isentas do mal, assim como
não são isentas de bons aspectos do bem e do belo e do verdadeiro.
Os seres
humanos sobre a terras estao todos no mesmo pé, o que é imperfeito é um povo é
melhor em outro, mas o que neste outro povo é imperfeito, em outro povo é mais
bem elaborado, como as pessoas. Uma forma bela de ser ver isto é quando fazemos
uma análise comparada das expressões artísticas dos povos.
Como as pessoas, os povos têm beleza e feiura, aprimoramentos e bestialidades, luzes e trevas, nenhum povo é superior ou inferior a outro, apenas diferentes.
A França por exemplo. que defende até hoje os ideais (dos iniciados iluminati do século XVIII), liberté, fraternité, egalité, só tem como válido estes ideais nobres e belos para os próprios cidadãos franceses, pois ainda têm colônias na África e tinham na Ásia (Indochina, atual Vietnã, INdia oriental), e o exército frances reprimia e reprime cruelmente qualquer esboço de liberdade e de expressão dos nativos por liberdade....A maioria destes nativos é muçulmana. E isto explica o ódio de radicais muçulmanos ao povo francês (explica, embora nao justifique). Mas os franceses esquecem de falar disto....Aqui vai uma lista das colônias francesas que se libertaram, às custas de sangue, só na África, ainda no final do século XX, enquanto intelectuais franceses em Paris gritavam nas ruas "liberdade, igualdade e fraternidade" (mas só para eles próprios, os franceses nativos brancos). Este tipo de mentalidade é que criou o terrorismo, a partir de um sentimento de injustiça e de crueldade do colonizador. Por que os jornalistas e analistas políticos que falam em acabar com o terrorismo não tocam nas causas do terrorismo, quais sejam, a colonização e exploração dos países ricos sobre os pobres - coisa que continua e continua e continua. É como se falar em combater uma doença epidêmica, sem querer combater as suas causas, só os efeitos. Os americanos invadiram o Iraque para roubar petróleo, no governo Bush, alegando que Saddan Hussein (um tirano cruel, de fato, mas que assim mantinha tribos e seitas inimigas sob controle) usava armas de extinção em massa - numa história ainda muito mal contada que envolve jogo de interesse, venda de armas, corrupção do governo Bush, e vingança porque Saddan disse que ia quebrar a cara do pai dele, e outras coisas infantis (os governantes modernos geralmente tem argumentos muito infantis disfarçados de afirmações sensatas), que, afinal, levaram à morte milhões de pessoas, na sua maioria civis inocentes, e fomentaram justamente o Talibã e outros movimentos fundamentalistas reacionários. O Al Qaeda, aliás, em suas origens, foi criado pelos próprios norte-americanos, quando os soviéticos invadiram o Afeganistão. Os americanos aparelharam e treinaram guerrilheiros muçulmanos para lutarem contra os russos, serem bucha de canhão. Só que depois que os russos foram expulsos da região, os guerrilheiros se voltaram contra o imperialismo norte-americano, que os treinou, e assim surgiu a Al Qaeda.
Como as pessoas, os povos têm beleza e feiura, aprimoramentos e bestialidades, luzes e trevas, nenhum povo é superior ou inferior a outro, apenas diferentes.
A França por exemplo. que defende até hoje os ideais (dos iniciados iluminati do século XVIII), liberté, fraternité, egalité, só tem como válido estes ideais nobres e belos para os próprios cidadãos franceses, pois ainda têm colônias na África e tinham na Ásia (Indochina, atual Vietnã, INdia oriental), e o exército frances reprimia e reprime cruelmente qualquer esboço de liberdade e de expressão dos nativos por liberdade....A maioria destes nativos é muçulmana. E isto explica o ódio de radicais muçulmanos ao povo francês (explica, embora nao justifique). Mas os franceses esquecem de falar disto....Aqui vai uma lista das colônias francesas que se libertaram, às custas de sangue, só na África, ainda no final do século XX, enquanto intelectuais franceses em Paris gritavam nas ruas "liberdade, igualdade e fraternidade" (mas só para eles próprios, os franceses nativos brancos). Este tipo de mentalidade é que criou o terrorismo, a partir de um sentimento de injustiça e de crueldade do colonizador. Por que os jornalistas e analistas políticos que falam em acabar com o terrorismo não tocam nas causas do terrorismo, quais sejam, a colonização e exploração dos países ricos sobre os pobres - coisa que continua e continua e continua. É como se falar em combater uma doença epidêmica, sem querer combater as suas causas, só os efeitos. Os americanos invadiram o Iraque para roubar petróleo, no governo Bush, alegando que Saddan Hussein (um tirano cruel, de fato, mas que assim mantinha tribos e seitas inimigas sob controle) usava armas de extinção em massa - numa história ainda muito mal contada que envolve jogo de interesse, venda de armas, corrupção do governo Bush, e vingança porque Saddan disse que ia quebrar a cara do pai dele, e outras coisas infantis (os governantes modernos geralmente tem argumentos muito infantis disfarçados de afirmações sensatas), que, afinal, levaram à morte milhões de pessoas, na sua maioria civis inocentes, e fomentaram justamente o Talibã e outros movimentos fundamentalistas reacionários. O Al Qaeda, aliás, em suas origens, foi criado pelos próprios norte-americanos, quando os soviéticos invadiram o Afeganistão. Os americanos aparelharam e treinaram guerrilheiros muçulmanos para lutarem contra os russos, serem bucha de canhão. Só que depois que os russos foram expulsos da região, os guerrilheiros se voltaram contra o imperialismo norte-americano, que os treinou, e assim surgiu a Al Qaeda.
O presidente
americano Reagen recebe seus amigos e aliados, guerrilheiros
muçulmanos
afegãos, treinados pelo seu governo, e que posteriormente se
tornarão talibãs e membros da al Qaeda. Enquanto lutavam contra os russos eram aliados dos americanos. Depois da vitória sobre os russos - tão imperialistas quanto os americanos - estes e os talibás tornaram-se inimigos também, pois os últimos resistiram á proposta americana de colonizar o Afeganistão. Por que os jornalistas nao relembram isto quando falam dos fanáticos do taliba?
tornarão talibãs e membros da al Qaeda. Enquanto lutavam contra os russos eram aliados dos americanos. Depois da vitória sobre os russos - tão imperialistas quanto os americanos - estes e os talibás tornaram-se inimigos também, pois os últimos resistiram á proposta americana de colonizar o Afeganistão. Por que os jornalistas nao relembram isto quando falam dos fanáticos do taliba?
Ainda tenho
que insistir, para a nossa sanidade anímica e social, que está equivocada, é
preconceituosa, ignorante sobre os povos e suas histórias, esta forma de ver que
"o Islã é uma religião do mal" - ("inspirada ahrimânicamente com humor
luciférico", como diz Steiner( GA 300a)), sem ver o mal também na civilização em
que vivemos (a Igreja, a inquisiçao e suas torturas e fogueiras, as perseguições
a hereges a a cientistas e filósofos, as cruzadas, o poder material e a ganância
da cristandade, o racismo, o nazismo, a escravidão, o colonialismo, o
capitalismo selvagem, o preconceito etc, não são também algo ahrimânico e
luciférico da mesma forma? Porque os erros do outro sao demoníacos e os nossos
erros são apenas "errinhos" sem importância?Porque outros homens são
inconscientes e atrasados e um povo que massacrou outros e causou guerras
mundiais e exterminou povos por causa da cor de sua pele e da sua religião são
menos bárbaros ou mais civilizados?. Aqui vai uma lista das colônias francesas
que a duras penas, com muito sangue, libertaram-se, igualaram-se e
fraternizaram-se, apesar do opressor frances (ressalto que sou admirador da
língua e da cultura francesa, mas crítico desta hipocrisia racista de muitos
franceses xenófobos e seus aliados igualmente xenófobos, povos ditos cristãos,
mas totalmente despreparados para uma vida planetária em comunhão entre os
diferentes, tanto quanto muitos muçulmanos mais radicais, o que não quer dizer
que haja exceções belas e boas nos dois lados). Libertaram-se da opressão
francesa, criando assim uma alma ex-colonial ressentida e disposta á vingança,
entre grupos mais hipersensíveis e agressivos:
A imagem que posto abaixo é bem chocante, são cabeças de africanos decepadas por franceses, há algumas décadas atrás e muçulmanos executados em público pelo governo francês, isto no século XX, há algumas décadas atrás. Os militares franceses gostavam de decapitar os "terroristas" africanos que tentavam libertar sua terra do opressor:
- Marrocos (2 de Março de 1956)
- Tunísia (20 de Março de 1956)
- Guiné (2 de Outubro de 1958)
- Camarões (1 de Janeiro de 1960)
- Togo (27 de Abril de 1960)
- Senegal (20 de Junho de 1960)
- Madagáscar (26 de Junho de 1960)
- Benin (1 de Agosto de 1960)
- Níger (3 de Agosto de 1960)
- Burkina Faso (5 de Agosto de 1960)
- Costa do Marfim (7 de Agosto de 1960)
- Chade (11 de Agosto de 1960)
- Congo (15 de Agosto de 1960)
- Gabão (17 de Agosto 1960)
- Mali (22 de Setembro de 1960)
- Mauritânia (28 de Novembro de 1960)
- Argélia (5 de julho de 1962)
- Comores (6 de Julho de 1975)
- Djibouti (27 de Junho de 1977)
- República Centro Africana (13 de agosto de 1960 )
A imagem que posto abaixo é bem chocante, são cabeças de africanos decepadas por franceses, há algumas décadas atrás e muçulmanos executados em público pelo governo francês, isto no século XX, há algumas décadas atrás. Os militares franceses gostavam de decapitar os "terroristas" africanos que tentavam libertar sua terra do opressor:
Nao são
apenas radicais muçulmanos que decapitam pessoas....
Enforcamento
público de muçulmanos imposto pelo governo francês na Argélia.
Enfim, temos
que ter um pensamento justo, que vê as sombras e as luzes em todos os lados, e
não somente sombras no lado do outro, e luzes no nosso lado. Isto pode ser a
diferença entre lucidez e o equívoco ingênuo de não entender o que é a condição
humana universal, que em toda parte todo ser humano é feito de sombras e luzes,
de bem e de mal, e que nao é porque se falam palavras belas que as pessoas vivem
uma vida bela, e que a mídia não é critério de verdade, porque serve a
tendenciosidades políticas e ideológicas diversas..Se não pudermos enxergar isto
seremos indivíduos eternamente alienados e preconceituosos. E parece que foi
Einstein quem escreveu: "é mais fácil romper a estrutura do átomo do que romper um
preconceito'..
O Ocidente
libertou-se da opressão religiosa - o oriente não. Mas esta liberdade da
opressão religiosa do ocidente não ensinou as pessoas a serem de fato livres.
Talvez tenha sido um caminho de torna-las apenas mais arrogantes e iludidas de
uma suposta superioridade, porque acham que podem mais. Afinal, como escreveu
Dostoievsky ("irmãos karamazov"): Se Deus morreu, tudo é permitido. E se "tudo é
permitido' ou existe esta crença Narciso se sente poderoso, grande, amplo, maior
do que os outros....mais perto dos deuses do que os mortais bárbaros comuns,
mergulhados na ignorância e na cegueira de uma fé tacanha (que não é diferente
da fé de seus próprios avós, aliás muito semelhante).
Abraços
sócio-históricos
Wesley
Em 9 de janeiro de 2015 12:05, Wesley
Aragão <wama933@gmail.com> escreveu:
A grande
liberdade de expressão, o senso democrático, a relativa amplidão de
possibilidades dos eus ocidentais só aparece nos últimos 200 anos de
historia da Europa e suas então colônias americanas. Esta liberdade do
indivíduo ocidental não é devida ao cristianismo (entendido como exoterismo
religioso, ou seja, a Igreja e o protestantismo). Esta liberdade democrática
aparece justamente devido ao colapso do cristianismo instituído - o
Renascimento começou a minar o poder moral da Igreja, e a modernidade do
século XVIII, com a revolução francesa, a revolução industrial, a
independência das colônias, a invenção da máquina a vapor as ciências, etc,
tudo isto, trouxe o que o filósofo Nietzsche chamou "a morte de Deus" (o
declínio da religião cristã no ocidente) - "foi a maior façanha do indivíduo
ocidental" (Nietzsche). Podemos nos sentir livres (relativamente livres, nao
totalmente) e iludidos de que vivemos regimes democráticos e "do povo para o
povo", "transparentes", porque a Igreja perdeu seu poder de controle sobre
os indivíduos, porque estes indivíduos não acreditam mais em Deus como um
Ente Central e controlador, mas o colocam meio que de lado em suas vidas -
primeiro vem o dinheiro, a profissão, a carreira, as relações, o sexo, a
comida, a mídia, a moda, o carro, etc, etc.. Ou seja, a vida burguesa do
ocidental e sua respectiva imitação pelo cidadão das ex-colônias. Esta vida
leiga, desligada da religião, é o que os entendidos chamam de SECULARIZAÇÃO.
O ocidente e suas ex-colônias americanas são plenamente secularizados e a
isto os americanos chamam de "american way of life". E os ocidentais acham
isto o máximo, mesmo sabendo, as vezes, que se paga um preço pelas vantagens
disto (uma boa dose de decadência das sociedades e mal estar dos indivíduos
e sua falta de sentido existencial, o consumismo, a alienação burguesa,
etc). Steiner chama este mundo ocidental secularizado de "época da alma da
consciência" (criando com o termo "época" a noção problemática de que o
mundo todo está ou deveria estar no mesmo compasso, o que é impossível).
Esta forma de pensar assim de Steiner reflete bem o modo de ver de um homem
ocidental do século XIX e XX, que vê em sua própria civilização o ápice da
evolução espiritual humana global - não analisando o Todo do entorno. É a
mentalidade dita colonialista. Os antropósofos, em sua maioria, como todo
ocidental acrítico, acaba repetindo este modo de ver, sem refletir muito a
respeito. É cômodo.
As
civilizações que não se secularizaram
Há outros
povos, culturas, civilizações, todavia, que não se desvincularam do modelo
de cultura centrado numa crença espiritual, sejam as mais simples
(como índios, aborigenes, pigmeus africanos, etc) ou mais complexas (como a
civilização islamica e suas vertentes árabe, persa, turca, indonésia,
malásia, etc; ou a civilização hindu; ou a civilização budista do Nepal,
Butão, Tibet, etc.).
Até o
século XIX, e meados do século XX, em alguns casos, o europeu
secularizado vivia em seu mundo, colonizando os "outros" de longe,
colonizando a África, o Oriente Médio, a Índia e Indochina, ou tendo
exterminado a maioria dos povos aborígenes, sem ter tido o incômodo de
sofrer uma "invasão" destes "outros" em seu território - a não ser em tempos
medievais passados e já semi-esquecidos quando bárbaros e mouros estiveram
em terras ocidentais. Os outros, os não-secularizados, por sua vez, em seu
próprio território, eram colonizados e explorados pelo ocidental
secularizado, de todas as formas, inclusive como trabalho escravo além de
toda sorte de violência peculiar ao modelo colonialista de exploração do
homem pelo homem. Toda vez que os nao-secularizados colonizados se rebelavam
contra o colonizador secularizado eram chamados de "terroristas". As guerras
coloniais, os massacres e extermínios praticados pelo colonizador
secularizado, por sua vez, eram justificados até mesmo pela fé, pela religião
(mesmo quando esta fica meio que de lado), afinal, são eles, os civilizados
ocidentais, os "escolhidos" para ensinar ao mundo sobre liberdade e
progresso aos bárbaros primitivos atávicos atrasados sem
democracia.
Todavia,
após a descolonização moderna do terceiro mundo, no século XX - não sem o
preço do derramamento de muito sangue de "terroristas" e inocentes (na
Argélia, Marrocos, Egito, África negra, Oriente Médio, India, Malásia, etc,
etc.) - começou a acontecer uma invasão, ou seja, migração, dos
ex-colonizados não secularizados para o território ocidental secularizado. E
isto causou o que se chama CHOQUE CULTURAL. Temos na
França, na Inglaterra, na Belgica, na Alemanha, na Espanha, Portugal,
Itália, etc, uma população de "terceiromundistas" de pele escura e de
crenças não cristãs vivendo e ocupando empregos ou subempregos na terra de
seus ex-donos, ex-colonizadores. E o europeu mediano reage com xenofobia a
isto. A questão é que sobreviveu entre os povos antes colonizados uma
espécie de ressentimento misturada com admiração por seus antigos
colonizadores. Este ressentimento foi alimentado por outras formas atuais e
vigentes de domínio colonial que não parou até hoje: por exemplo, a certeza
do ocidental que sua civilização é melhor e mais humana do que as dos
colonizados, o domínio econômico e a pobreza das ex-colônias (cujas riquezas
naturais foram extorquidas para que o atual ocidente hoje seja rico e
próspero - toneladas de ouro, prata, pedras, petróleo, madeira, escravos,
foram levadas pelo colonizador em detrimento do colonizado, durante mais de
500 anos).
Os índios das tres Américas sentem este misto de ressentimento e admiração pelo homem ocidental e sua cultura - e acabam imitando-o. Também os africanos negros, ex-colonizados de Portugal, Holanda, Alemanha, Inglaterra, etc. Os africanos islamicos do norte da África, como marroquinos, argelinos, egípcios, líbios, etc, os palestinos, os iranianos, os afegaos, os indianos (onde o Islã e o hinduísmo convivem), etc..
Os índios das tres Américas sentem este misto de ressentimento e admiração pelo homem ocidental e sua cultura - e acabam imitando-o. Também os africanos negros, ex-colonizados de Portugal, Holanda, Alemanha, Inglaterra, etc. Os africanos islamicos do norte da África, como marroquinos, argelinos, egípcios, líbios, etc, os palestinos, os iranianos, os afegaos, os indianos (onde o Islã e o hinduísmo convivem), etc..
Por outro
lado, há um racismo subliminar do ocidental mediano que ve outros povos
ex-colonizados como inferiores nao apenas culturalmente, mas também
racial-biologicamente - sentimento este que justificou a colonização
anterior: "eles são inferiores, menos ingeligentes, não cristãos como nós,
vamos dominá-los e ensina-los a ser civilizados, assim como nós".
O hindu
que vive na Inglaterra sofre o choque cultural de viver numa cidade
secularizada, onde os valores religiosos sao menos presentes do que na sua
terra natal. O hindu inglês sabe que vive na terra de seus antigos
colonizadores, que exploraram e mataram seus avós e saquearam a sua terra,
enriquecendo com isto - mas, ao mesmo tempo, admira os progressos e a
liberdade secularizada que ele respira em terras inglesas e o melhor salario
que ganha ali, mesmo sendo apenas faxineiro e não passe disto. O muçulmano
que vive na França, idem, só que a índole do muçulmano é diferente da do
hindu ou do budista. O africano negro que saiu de uma tribo do Mali ou do
Senegal e que vive na Europa, tem um (res)sentimento igual. O índio que saiu
de uma reserva - um pedaço de terra para onde o seu povo foi empurrado,
depois de massacrado - tem um (res)sentimento parecido quando vai viver e
ganhar dinheiro na cidade do homem branco e ocupar um subemprego na
construção civil. E o homem branco ocidental convive, contra a vontade, com
estes "inferiores" e protesta, como fazem os franceses ouu os ingleses
brancos e cristãos, "ha imigrantes demais aqui".
Cultura da Alma da Consciência (ou da Alma Contemporanea)
Eu diria
que tudo isto demonstra o quanto o ser humano moderno ainda não está
preparado para o convívio entre diferentes. Ele só fica bem enquanto vivendo
numa sociedade mais homogênea, enquanto todos, "livremente', pensam igual,
agem igual, comem a mesma comida, veem os mesmos filmes e a mesma versão dos
fatos, tomam a mesma Coca Cola, e se divertem da mesma forma, riem-se das
mesmas piadas e acham graça das mesmas charges - inclusive lutam pelo
direito seu de assim viverem. Quando, entretanto, outras formas de se viver,
outros valores, outras crenças e outras formas de sentir a vida forçadamente
ou não passam a conviver com este indivíduo, ele não as tolera, ou zomba
destas (embora não goste que zombem dele), ou as acha ultrapassadas ou
ridículas, em relação á sua forma de viver - tanto quanto os "outros" também
têm dificuldade de tolerar a forma de viver dele, enquanto diferente. A
palavra aqui é intolerância... recíproca. O indivíduo moderno é
essencialmente intolerante....E, "moderno", eu incluo os ocidentais e os
ex-colonizados não ocidentais.
Eu diria
que a alma da consciência, enquanto cultura coletiva, é este desafio,
justamente, de todo ser humano, de culturas diferentes, vivendo valores
diferentes, crenças diferentes, formas de se viver distintas, é este desafio
de aprender a conviver com e entre os diferentes, vendo-os como irmãos e não
como inimigos, deixando os ressentimentos para o passado (o perdão é uma
dificuldade humana das mais desafiadoras e difíceis).
Por que
muitos (não todos) ex-colonizados islamicos são violentos?
São
violentos, em minoria, porque primeiramente sao jovens e jovens
problemáticos, tão violentos como jovens do exército israelense que atiram
em palestinos, sentindo-se justificados e por que "matar um inimigo dá uma
certa adrenalina". Da mesma forma sao violentos como os jovens soldados
norte-americanos têm prazer em metralhar e em bombardear outros jovens
iraquianos ou afegãos do talibã ou de outro grupo terrorista qualquer, ou
como são violentos os jovens revolucionários de esquerda que militavam na
época da ditadura no Brasil - nao hesitaram em torturar ou matar milicos,
como também os jovens milicos fizeram com os adversarios São violentos como
os jovens desajustados que servem ao trafico. A violência é um assunto
juvenil muito peculiar. São violentos também porque o Islã, semelhante ao
cristianismo e ao judaísmo (as tres religiões monoteistas) têm princípios
morais que endossam a recusa, a não aceitaçao da injustiça (ou do que seja
considerado como tal), da exploração, e o "Deus de Israel" estimula a
resistencia, a luta, contra o que se considera o mal, ou contra aqueles que
representam o mal. Isto pode ser interpretado simbolicamente, ou
literalmente. Na época da escravidao, no Brasil, os escravos africanos
muçulmanos (chamados Malés) eram os mais dificeis de domar, e planejaram e
executaram oito rebelioes negras, chegando a tomar de assalto, por duas
vezes, Salvador, então capital do Brasil. Sua religião lhes proibia aceitar
passivamente a condição de escravos ou explorados e convidava que
declarassem guerra (Jihad) aos opressores. São violentos alguns muçulmanos
atuais tambem porque seus jovens movidos por ideologias assim advém de
países antes colonizados, explorados e que guardam coletivamente este
ressentimento, ou mesmo ódio, ou desejo de vingança, contra os seus antigos
colonizadores, as vezes não tao antigos assim. Juntam-se então tres coisas:
o ardor juvenil pela aventura (no caso, a guerra, o jovem islamico radical
sente-se em guerra contra os antigos colonizadores e os que negam o
espiritual, os secularizados contra os que vivem na secularidade e ainda se
acham os tais, como ele os vê). Junta-se a este ardor juvenil guerreiro (o
termo árabe é Jihad, guerra), a interpretação literal e estreita da moral
reliigosa que é inspirada na imagem de um Deus irado e monopolizador, que
protege seus fiéis e se indispõe contra os inimigos destes. E junta-se a
estes dois elementos a questao da descolonização, o racismo, a menos valia
dos cidadãos das ex-colônias, considerados e tratados como seres humanos de
segunda classe pelo ocidental mediano, e também pelas potencias militares
ocidentais e seus aliados, e que herdou a arrogância dos avós colonizadores.
O resultado é a violência terrorista.
Então, o
Islã é uma religiao tão moderna ou tão arcaica quanto o catolicismo ou o
judaísmo. Mas este arcaísmo das religiões nao significa que sejam
instituiçoes ultrapassadas. Significa que elas vêm do passado, mas estão ái,
modernas, contemporâneas, reinvidicando o seu espaço dentro do secularismo
no ocidente, ou sua hegemonia em suas terras natais.
O mundo
islâmico que vemos atualmente é atual, está aí, e seus problemas resultam (é
o Carma, diríamos) de situações sócio-políticas bem recentes, ligadas ao
colonialismo e ao choque cultural entre povos e civilizações, dominantes e
dominados economicamente e militarmente, em alguns casos.
Os índios
americanos têm ressentimento mas não executam atos de terrorismo contra seus
antigos algozes, os homens brancos, porque sao uma minoria derrotada (as
vezes matam algum madeireiro ou garimpeiro). Foram expulsos de suas terras e
sobrevivem em reservas, e, mesmo protestando de vez em quando, acabam se
conformado e vão vivendo.Os aborígenes australianos se comportam de forma
semelhante, e muitos outros povos tribais - como os Maori das ilhas do
Pacífico ou Papuas das Guinés.
Os hindus,
herdeiros de uma civilização não ocidental das mais antigas, assim como os
chineses, foram colonizados mas recuperaram sua terra e sua cultura,
tomando-a de volta dos ingleses em 1948. Sua religiao, todavia, tem
múltiplos deuses, e muitas sub-formas culturais, diversas línguas, e
diversas formas de se viver. Seus deuses sao deuses que ensinam que deve-se
aceitar o carma e a reencarnação e que toda injustiça sofrida, afinal, é
fruto do carma. E assim, os hindus vao vivendo e deixando para trás as dores
de seu carma. E acabam fazendo concessões ao mundo ocidental, desenvolvendo
tecnologias ou aprendendo as vantagens de uma vida confortável com seus
ex-colonizadores, ao mesmo tempo em que ainda consideram as vacas sagradas,
sao vegetarianos, fazem rituais a diversos deuses e mantém o sistema de
castas e casamentos arranjados, sem que a mulher hindu tenha o mesmo grau de
liberdade da mulher do ocidente secularizado, por exemplo. Um "atraso"
incompreensível ao ocidental, ao mesmo tempo deslumbrado com a
espiritualidade hindu preservada justamente às custas deste tradicionalismo
não-secularizado.
Mas os
muçulmanos são um caso peculiar de ex-colonizados. Seu território cresceu,
tornaram-se maioria - e não, como os judeus, seus primos, uma minoria (a não
ser em Israel). Diferente dos primos judeus, os muçulmanos árabes (e seus
seguidores de outras etnias), não se ocidentalizaram - não passaram a se
vestir como ocidentais (a não ser em alguns países islâmicos mais
ocidentalizados, com Líbano, Argélia, Turquia etc), a apreciar música
europeia, a adotar costumes ocidentais, como fizeram os judeus, seus primos.
Ao contrário, mantiveram, como os judeus, sua forte identidade religiosa,
mas, mais do que os judeus, não aceitaram misturar seu estilo de vida com
valores ocidentais que consideram contraditórios ao seu modo de ver o mundo.
Os judeus fizeram concessões à civilização ocidental que os muçulmanos não
aceitaram. O que os faz não aceitarem esta mistura de valores? O
ressentimento, a certeza da fé em um Deus único que os protege e a certeza
de que a secularização do mundo ocidental oferece mais perdas do que ganhos,
de seu ponto de vista. Porque o judeu que pensa de forma semelhante ao
muçulmano não é violento? É violento sim, mas em seu território, Israel,
onde é maioria - basta ver o comportamento do Estado de Israel diante dos
palestinos e outros povos árabes: um massacre. Por que o cristão, que
pensava religiosamente igual aos muçulmanos e judeus atuais ("povos
escolhidos") não era ou é violento? Claro que sempre foi violento e
continua: cruzadas, massacres, inquisição, bruxas queimadas vivas, a guerra
entre protestantes e católicos, a colonização, a escravidão e o racismo, o
nazismo e duas guerras mundiais, tudo isto demarca a sangrenta história de
violência e intolerância dos povos ditos cristãos. A religião, em certos
aspectos, é sempre nociva ao imaturo ser humano que não sabe conviver com os
semelhantes e menos ainda com os dessemelhantes, incluindo aqui os reinos
naturais. Aliás, uma das reinvindicações dos muçulmanos é que o ocidente
"cristão" tem destruído a natureza - que o Alcorão afirma ser a obra de
Allah, pois Allah ama a diversidade de criaturas e sua beleza. Os muçulmanos
foram os primeiros ecologistas, já na Idade Média, e um dos argumentos de
que a civilização ocidental secularizada tem erros é a evidente destruição
das espécies naturais e a poluição do planeta. Outro argumento dos
muçulmanos é de que o capitalismo selvagem é um mal que desagrada a Allah.
Eles são contra a cobrança de juros bancários e acham o FMI uma obra
diabólica por exemplo, porque produz pobreza e desigualdade. Há uma certa
sintonia entre ideias islâmicas e algumas ideias da esquerda
ecológica
Por que as
leis islâmicas são tão arcaicas?
Faltam
iniciados no mundo islâmico, iniciados que ensinem ao povo que a letra mata
e o símbolo liberta. Existiram alguns lá, mas são meio que desconhecidos do
povão islâmico - foram os sufis. Como diz um muçulmano, Garoudy
(ex-católico, convertido ao isla e socialista), o mundo islâmico confundiu
"sharya" (a lei cósmica) com o "Fiqr" (a lei humana) e transplantaram uma
moral da Fiqr medieval para tempos modernos, pensando estar perpetuando a
"sharya', a lei divina - porque os ulemás (doutores muçulmanos da lei) são
homens ignorantes e do povo, sem sutileza intelectual. Mas isto é assunto
complicado...
Espero ter
contribuído a se ver com mais amplidão, evitando que caiamos todos na forma
de pensar ingênua do senso comum seduzido pela mídia.
Abraços
antropológicos
(Eu não
sou Charlie, sou Wesley)
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