Mais grave porém foi o ministro ter-se metido num conflito de poderes já muito delicado entre o Legislativo e o Judiciário, que ainda não apresentou todas as suas consequências. O presidente do Senado, Renan Calheiros, já havia deixado Brasília quando a Mesa foi comunicada da Operação Métis. Numa sexta-feira, com os senadores já dispersos, limitou-se a emitir uma dura nota, mas é provável que fato tão revelador do conflito aberto não se esgote nisso. Uma das reações pode ser a votação do projeto que define e estabelece punições para o abuso de poder. Com a intromissão do ministro da Justiça, fazendo juízo de valor sobre a ação dos agentes da polícia legislativa, a eventual reação do Senado terá que alcançar também o Executivo. O seja, banzê geral.
O diretor-geral da PF, Leandro Daielo, até tentou consertar as coisas mas piorou tudo. "Estamos falando da Polícia do Senado. É uma operação focada em possível desvio das atividades da Polícia do Senado", afirmou ele descartando que os senadores tenham estado no alvo. "É óbvio que nós respeitamos o poder do Senado, o Poder Legislativo, nós fizemos com muita cautela, na hora certa foram comunicadas a Mesa e a Presidência de que estava acontecendo o procedimento, de modo a não trazer nenhum risco [à investigação]." Uma gafe e uma hipocrisia na mesma declaração. Gafe porque ao dizer que Mesa e a Presidência foram avisadas na hora certa para evitar riscos à operação, Daielo sugere que, se estas autoridades fossem informadas antes, poderiam prejudicar a investigação. E foi hipócrita a primeira parte de sua declaração, tentando restringir a operação aos policiais legislativos, quando é óbvio que os alvos reais são os senadores. Até os tapetes do Congresso sabem que a polícia legislativa não tem a “autonomia” da PF, só agindo a mando de senadores ou de quem os representa, a Mesa.
Então, poupem nossos neurônios. A operação foi contra o Senado e o alvo são alguns senadores. O resto, veremos na semana que vem.
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