11.10.2016

Com disparos de arma de fogo, polícia invade Escola Nacional do MST



Mesmo sem mandado judicial, Polícia Civil invadiu a Escola Nacional Florestan Fernandes em Guararema dando tiros no chão e realizando prisões arbitrárias. Estrangeiros de mais de 30 países estavam no local, que ficou tomado pelo pânico com a truculência.

Políciais invadiram portando armas letais. Foto: MST
A manhã desta sexta-feira 4 de novembro ofereceu momentos de terror para estudantes e funcionários da Escola Nacional Florestan Fernandes, centro de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra localizado na cidade de Guararema, em São Paulo. A escola foi invadida pelo Grupo Armado de Repressão a Roubo do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado do Estado de SP - GARRA/DEIC; que entrou no local disparando tiros de armas de fogo, causando pânico e correria.
Testemunhas relatam que a polícia chegou por volta das 9h25 da manhã, sem mandato judicial, em busca de um homem procurado pela justiça. Informada que a pessoa não se encontrava na escola, a polícia decidiu, então, invadir o local. Câmeras de segurança mostram a ação policial, evidenciando a truculência e despreparo das autoridades no trato com os movimentos sociais. Detenções arbitrárias, com uso de violência, deram a tônica da participação da polícia. Nem pessoas idosas foram poupadas de agressões, o que pode indicar motivação política para a ação.
Vestígios da ação da polícia. Foto: MST
Para piorar, as detenções foram aleatórias. Paulo Almeida, um dos coordenadores da escola, conta que entre os detidos está um idoso de 72 anos que trabalha de forma voluntária na escola. Acometido por Mal de Parkinson, foi jogado no chão pela polícia e algemado, mesmo sem nenhuma atitude que justificasse a sua prisão. Uma artista que está de passagem pela casa nestes dias também foi detida sem acusação formal, mais uma vez sugerindo perseguição política contra o movimento.
Pra nós foi muito surpreendente a chegada da polícia na escola, que é um espaço de formação de movimentos do Brasil e da América Latina. Eles forçaram a entrada buscando uma pessoa que nem está aqui. Não houve muito diálogo, houve invasão da polícia. Levaram 2 companheiros, um senhor de 72 anos que tem mal de parkinson e trabalha de forma voluntária na escola, e também uma artista que está passando uns dias no espaço.
A escola
A Escola Nacional Florestan Fernandes é um centro de formação do MST com endereço conhecido e excelentes relações com a comunidade. Além de vivências, o local também recebe pessoas de todo o mundo interessadas em saber um pouco mais sobre a luta pelo direito à terra empreendida pelo movimento. Na manhã de hoje, pessoas de 30 países diferentes encontravam-se na escola para a realização de um curso, o que pode resultar em um incidente diplomático com estas nações em função da arbitrariedade e truculência da ação.
A criminalização
A perseguição e criminalização de movimentos sociais pelo governo Temer ganhou novos contornos nesse início de novembro. Não bastasse a falta de diálogo no trato com militantes, agora integrantes desses movimentos são 'caçados' pelas autoridades, que usa e abusa de truculência para cumprir a 'missão'. Na manhã desta sexta-feira (4) oito pessoas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram presos pela polícia paranaense. Entre eles, um vereador.
Momento em que a polícia invade a escola. Foto: MST
As prisões aconteceram nas cidades de Quedas do Iguaçu, Francisco Beltrão e também nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Acusam os militantes de diversos crimes tais como furtos, lesão corporal e constrangimento ilegal, entre outros. Para piorar, referem-se ao movimento e a seus integrantes como uma 'organização criminosa', explicitando o viés preconceituoso e beligerante das autoridades.
A ação policial se deve em função da ocupação da fazenda Dona Hilda, feita em março deste ano. Segundo as autoridades paranaenses, o MST teria mantido funcionários do local em cárcere privado, além de terem 'sumido' com aproximadamente 1.300 cabeças de gado. O movimento nega as acusações. Em março, durante a ocupação, dois camponeses do MST foram mortos pela polícia militar em confronto na área da fazenda, com características que sugerem a execução dos militantes, visto que foram abatidos com tiros nas costas.
Vestígios da ação desmedida da GARRA. Foto: MST
O MST também afirma que as mortes foram decorrentes de uma emboscada feita pela Polícia Militar em conjunto com funcionários da empresa Araupel, proprietária da fazenda. Aproximadamente 20 integrantes do movimento foram surpreendidos por viaturas da PM quando faziam uma ronda de rotina no acampamento. A polícia militar, por sua vez, acusa o MST de ter atacado as forças de segurança, afirmado que a corporação apenas reagiu, matando dois militantes e ferindo outros sete. Diante das informações conflitantes, a Polícia Federal entrou no caso.
Criminalização de movimentos sociais não é novo no Brasil. Entretanto, desde a chegada de Michel Temer à presidência, parece que o governo está empenhado em destruir qualquer foco de resistência e oposição, direcionando as forças repressoras do Estado contra o próprio povo. Reedição de técnicas utilizadas pelos militares durante a ditadura são feitas sem constrangimento, inclusive contra crianças e adolescentes, como verificado em Brasília. Lá, o juiz Alex Costa da Oliveira, da vara da infância e juventude, ordenou o uso de instrumentos sonoros para impedir o sono dos estudantes, além de privá-los do contato com familiares.
A ação de hoje se soma à outras do mesmo calibre, com supressão do diálogo e perseguição de opositores, em flagrante conflito com os preceitos democráticos. A era de prisões arbitrárias e silenciamento das visões contrárias já é uma realidade. Quanto tempo para o Estado voltar com os desaparecimentos e assassinatos de 'subversivos'?
Abaixo, vídeo mostra ação truculenta da Garra/Deic:
O senho caído no chão é o que foi detido arbitrariamente. Foto: MST
Situação dos detidos
"Temos a informação agora dos companheiros que estão em Guararema, acompanhando os dois que foram levados pra delegacia, então eles passaram por acompanhamento médico na Santa Casa.O seu Ronaldo que é o senhor que tem Mal de Parkinson, pressão alta, enfim, foi medicado e houve uma fratura de uma costela dele, mesmo assim, agora vão fazer depoimento na delegacia, e a informação que se tem é que eles possam ser liberados ainda hoje."
Afirmou Rosane, coordenadora da Escola Nacional Florestan Fernandes, à Mídia NINJA.
Não era com bala de borracha. Foto: MST
Agora, na escola
A ação da polícia na reconhecida escola aconteceu durante diversos cursos e atividades educacionais, que contam com representantes de mais de 45 nacionalidades.
"Nós somos de fato muito perigosos para o sistema" afirmou o coordenador do MST, Gilmar Mauro, ao relatar a tentativa de invasão da Polícia Civil do Estado de SP, na Escola Nacional Florestan Fernandes com expressivo efetivo policial, que contou inclusive com agentes da Garra, especializados em lidar com crime organizado.
A assembleia, que reúne diversas autoridades, parlamentares e representantes dos movimentos sociais acontece horas após a invasão da Polícia no local.
Gilmar Mauro, coordenador do MST. Foto: Mídia NINJA

Entenda o que aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST

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