4.03.2017

Lula é a única saída por dentro do sistema político

Ricardo Stuckert
Lula é a única saída por dentro do sistema político e partidário vigente. O ex-presidente é o único personagem do sistema em condições de oferecer uma agenda de reconstrução do Brasil depois da destruição aterradora promovida pelo golpe.
Dificilmente outro candidato ou candidata à eleição presidencial – seja num pleito antecipado pela queda do Temer, seja no calendário de 2018, se a eleição não for cancelada pelos golpistas – terá a mesma legitimidade popular e a autoridade moral do Lula para pacificar o país em torno a um projeto de reconstrução nacional e de restauração democrática.
Lula é um mito vivo. A transposição das águas do São Francisco freqüenta o imaginário do povo nordestino como um acontecimento de significado bíblico. Pode-se concordar ou discordar com esta analogia popular, mas a verdade é que somente alguém da estatura histórica dele tem o poder de produzir tal associação simbólica na subjetividade do seu povo.
Em todas as pesquisas de todos os institutos Lula é apontado com maiores chances de vencer a eleição. A cada nova pesquisa, esta tendência inclusive aparece mais forte. Os índices dele disparam na medida direta da desmoralização e deslegitimação do bloco golpista e da cleptocracia que assaltou o poder.
Lula pertence ao Partido mais preferido na sociedade, a despeito da estigmatização jurídico-midiática da qual é o PT é vítima. O desejo de “exterminar a raça dos petistas” e de liquidar com o PT não só não se efetivou, como parece ter se voltado contra a oligarquia fascista.

O PT tem 15% da preferência das pessoas pesquisadas. Esta preferência, que até recentemente era de quase 30%, diminuiu com a crise de todo sistema político, mas mesmo assim o PT continua sendo, de longe, o Partido preferido. Marcos Coimbra, do Vox Populi, explica que os 15% “significam uma coisa simples: que algo como 22 milhões de pessoas [eleitores] identificam-se com o partido; significa que há milhões de petistas distribuídos em todas as faixas e regiões brasileiras, apesar da campanha arrasadora e cotidiana que o partido sofre”.
Depois do PT aparece o PSDB, com 5%; seguido pelo PMDB, com 2%. Ou seja, o PT detém, na média do país, mais que o dobro das preferências somadas dos partidos pilares do bloco golpista, sendo 3 vezes mais preferido que o PSDB e 7 vezes mais que o PMDB.
Não é disparate prognosticar o crescimento, na próxima eleição, das bancadas de deputados e senadores, bem como do número de governadores eleitos pelo PT e pela esquerda, catapultados pela candidatura Lula. O contexto da eleição geral será muito distinto daquele da municipal de 2014, a começar pela presença do Lula na urna eletrônica e pela centralidade do debate sobre a reconstrução econômica, o resgate de direitos e a restauração democrática.
Em vista destes dilemas, a oligarquia testa novas e velhas estratégias. Uma delas seria a condenação arbitrária do Lula e a implosão da sua candidatura. O arbítrio, todavia, poderá deflagrar um enfrentamento violento, de proporção imponderável. A simpatia, o encanto e a empolgação das classes médias com o golpe e com a seletividade da Lava Jato diminuiu muito.
Outra alternativa seria o cancelamento da eleição de 2018 para evitar a vitória do Lula, evento que significaria o encerramento do golpe e o fim do regime de exceção. Com este novo golpe, a oligarquia arrisca gerar conflitos sociais de enorme magnitude.
A terceira alternativa, que está sendo testada, é a fabricação de um candidato por fora do sistema político e partidário convencional; um candidato competitivo para duelar com Lula. A inviabilidade do Aécio, Alckmin e de outros candidatos da direita não deriva somente do baixo potencial eleitoral e da identificação deles com os retrocessos do golpe, mas, também, da revelação do envolvimento deles em esquemas monumentais de corrupção.
O prefeito paulistano João Dória, do PSDB, é o corpo que veste o disfarce do “anti-sistema”, de um outsider. Ele faz uma manipulação explícita da própria condição de político tradicional para, assim, simular a imagem de gestor, de alguém de fora da política, de uma pessoa feita por si mesmo; um batalhador, um empreendedor.
Esta empulhação, porém, também tem seus limites. A construção da imagem deste candidato a Berlusconi brasileiro foi financiada por anúncios publicitários da alta burguesia paulista e por generosas verbas públicas dos governos tucanos. Dória não é um anti-político, é o pior dos políticos; é um fascista que faz do combate à política e à corrupção um instrumento de poder e de dominação da oligarquia

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