9.23.2010

EGO: DEFESA OU INSEGURANÇA

Em seus primeiros escritos, Freud já mencionava a existência do ego, mas não o especificava com tanta riqueza de detalhes, até porque o descrevia como a personalidade em seu conjunto e esta noção só foi sendo renovada a partir das contribuições feitas pelos estudos da psicanálise e principalmente, pela experiência clínica das neuroses. Muitos autores dedicam-se ao estudo do ego procurando estabelecer as diferenças entre o ego, enquanto instância psíquica e o ego como pessoa, como “eu”, como objeto de amor para o próprio indivíduo, investido de libido narcísica. O ego possui um conceito muito estreito com o conceito de consciência.

O ego é uma instância psíquica como o id e o superego. Do ponto de vista tópico, a psicanálise refere-se ao ego como mantendo uma relação de dependência com as reivindicações do inconsciente e com a censura exercida pelo superego e pela realidade, tendo uma autonomia relativa. Freud define o ego sob o ponto de vista dinâmico como defensor da personalidade, na medida em que aciona os mecanismos de defesa, que impedem que conteúdos inconscientes e ameaçadores passem para o campo da consciência.
O ego ainda possui uma definição do ponto de vista econômico, onde é definido como fator de ligação entre os processos psíquicos, sem perder de vista que nas operações defensivas as tentativas da ligação da energia pulsional sofrem interferência das características específicas do processo primário, assumindo um aspecto compulsivo, de repetição e distanciado do real. Na histeria, o ego funciona com instância defensiva. Neste caso o ego, como campo da consciência, defende-se de um situação conflitiva incapaz de ser dominada, e inconciliável com ele, defendendo-se dela. Diz-se que, neste caso, acontece um recalcamento pelo ego. O ego é parte do conflito e isto é motivo para agir de forma defensiva. Apesar da operação defensiva da histeria ser atribuída ao ego, ela não é considerada consciente e voluntária.

Outra idéia caracteriza o ego como instância responsável pela diferenciação que o indivíduo é capaz de realizar entre seus próprios processos internos e a realidade. Apesar das características deste conceito, Freud trata de deixar claro que o acesso direto à realidade é realizado pela percepção e não pelo ego, como se pode pensar. O ego é descrito como uma organização de neurônios que facilita as vias associativas interiores a este grupo de neurônios, investimento constante realizado por uma energia de origem pulsional e a distinção entre uma parte, que é permanente e outra que tem características variáveis. Para Freud o ego possui um nível de investimento permanente que permite a inibição de processos primários, que poderiam não só levar o indivíduo a alucinações como também provocar desprazer.
Autoria: Diogini Albano Gomes

REAÇÕES DE DEFESA DA INDIVIDUALIDADE

Vimos que o vivenciar o mundo imanente significa basicamente um constante interagir do “eu” com tudo aquilo que a mente considera “outros”. Para que isso funcione assim, no estabelecimento da imanência aquilo que é consciência clara, ilimitada e Una se torna mente limitada, fragmentária. Considerando-se ser um “eu” entre os “outros”, a mente para assim se manter requer o desenvolvimento de perceber, de ter percepções e como conseqüências ter sensações e sentimentos.
No indivíduo há três níveis básicos de condições que respondem pela integridade da invidualidade, conforme a fig. 1.
Figura 1
Aqui estão representadas três áreas nas quais se agrupam as reações oferecidas como defesa do “ego” em nível mental. Na primeira área - afetivo/emotiva constam reações (sintomas) que dizem respeito aos sentimentos, a segunda à vontade, e a terceira ao intelecto.

Na verdade a área volitiva é a área de comando das demais, é a que controla as reações conforme as percepções, os sentimentos e as sensações.
Essas áreas são representam os níveis das reações mentais desenvolvidas a partir dos estímulos (percepções). São as reações oferecidas pelo “eu” ante o “meio exterior” visando manter a inviolabilidade de uma presumível individualidade. Sendo assim podemos dizer que este esquema é representativo da resposta mental do ser aos estímulos, ou seja, repostas que significam os mecanismos de defesa do “ego”.

A primeira e a terceira área são mais representativas dos níveis de reações passivas, enquanto a segunda de reações ativas. É a partir da área volitiva que se origina a resposta cuja natureza, e intensidade dependem da integridade, da natureza e da duração do estímulo.
Nem sempre a primeira área envolve uma resposta volitiva, pois depende da intensidade, da duração, da significação, e de outros fatores inerentes ao estímulo e ao ser receptor. Um estímulo que em uma pessoa pode desencadear um estado de pânico, numa outra pode, quando muito, gerar um estado de suave ansiedade, ou de insegurança sem que a própria pessoa consiga definir o objeto causal. Na verdade um estímulo por menor que seja ainda desencadeia algum tipo de ação volitiva, mas muitas vezes isto acontece em um nível muito suave que nem ao menos é notado.

Outro ponto que merece ser mencionado diz respeito à origem de um estímulo. Nem sempre ele é associado à uma causa exterior, muitas vezes nasce no próprio ser como resultado de associações mentais com estados, de alguma forma, vivenciados antes, nesta vida; ou para os adeptos da reencarnação, em outras vidas; ou desde o momento primeira individuação; a partir da personalização. A resposta neste caso se faz sentir geralmente na área afetivo/emotiva. Na verdade sempre existe uma percepção objetiva ou subjetiva, mas isto pode ocorrer em um limiar que a pessoa não se dá conta, como acontece com a mais primária de todas, a angústia existencial, que, como já dissemos, é uma conseqüência da divisibilidade do um; pela perda da certeza da unicidade do existir como “eu” e a admissão do estado mental ilusório do existir como “eu” e os “outros”. Trata-se do agente causal da angustia existencial (Psora Latente) que não é gerada pelo existir como unicidade, mas pela idéia ilusória de integrar um mundo constituído por miríades de competidores.
Pela insegurança do existir em multiplicidade o indivíduo sente “consciente” ou “inconscientemente” um estado de inquietude primariamente caracterizado por uma sensação sutil, uma anormalidade indefinida, caracterizando um estado de ansiedade. Se o meio ambiente, ou psíquico, continuar injetando estímulos a ansiedade pode se transformar num estado de angústia, que pode gerar expressões de tristeza existencial, e indo mais profundamente atingir um estado de medo de existir. Estas reações, de início, ainda ocorrem com um estado indefinível, como algo sem causa aparente e a pessoa não oferece reações de defesa, ela apenas sofre. Somente quando os estímulos se intensificam mais é que a mente lança mão de alguns mecanismos bem elementares, em nível que não pode ser considerado como distúrbio de comportamento reprovável, ou menos ainda alguma doença mental. A isto a Psicologia chama de Mecanismo de Defesa do Ego, ou Mecanismos Hióicos de Defesa do Ego. Estes fazem parte da primeira área - afetivo/emotiva - é visam possibilitar a pessoa a conviver com aquilo que a ameaça.
Para compensar a insegurança essencial, a mente lança mão de mecanismos psicológicos considerados bem simples, configurando aquilo que em Homeopatia é denominado de Sintomas Psóricos. Neste estágio ainda não há danos físicos, e nem psicológicos apreciáveis, e as respostas são muito singelas. São formas defensivas que de forma alguma têm por objectivo atingir outras pessoas, pelo que se pode dizer se tratar de uma maneira de se mostrar, de aparentar um estado de auto-afirmação através de representações no modo de ser. São características que visam impressionar, que visam individualidade se fazer notar, que visam a busca de compadecimentos. Por exemplo, o choro quando não é uma descarga de alguma pressão psicológica, é interna, é um meio de atrair a atenção e o compadecimento de outrem.
São muitas as formas de atrair a atenções como meios de fortalecimento da individualidade. O orgulho pessoal, por exemplo, em sua expressão mais simples, é uma forma de expressar a auto-estima, sem se apresentar como um estado de prepotência daninha sobre os demais. A ambição no sentido de ter bens, de possuir “status” mas sem prejuízo de terceiros. No mesmo sentido, outras características como ambição, inveja, economia, usura, prudência, avidez, avareza - não dissipar bens para que não venha a se colocar na posição de inferioridade; ciúme com o que possui, medo de perder aquilo que julga lhe ser importante. Pode tender ao atrair a atenção como uma pessoa piadista, brincalhona, divertida, exibicionista, gaiata, sorridente, que assim procura sempre ser simpática e desejável. Até mesmo a vaidade corporal, o empenho em mostrar beleza física por diversos meios, o esmero no vestir, no uso de cosméticos e de tantas outras coisas nesse gênero. Poderemos dizer que esses mecanismos são em grande número, mas de um nível que não prejudica aos “outros”. Não são projetivos, mas sim são estados passivos, ou sejam, formas de apresentações pessoais.
Nos citados casos a área volitiva - vontade - só é mobilizada no sentido passivo, como formas de demonstração de condições que fortifiquem a individualidade. Até mesmo a chamada vaidade feminina, como a elegância no vestir, as maquiagens, e tantas outras coisas essencialmente refletem uma forma de compensação para a insegurança essencial, uma forma da individualidade se fazer notada e, como tal, atrair um emprego, um esposo de não perde-los. A vontade comanda isto, mas vemos com tanta freqüência que uma mulher toda engalanada, depois que se casa, sentindo-se segura, bem cedo muda totalmente, deixa de cuidar da aparência pessoal, isto porque já tendo um lar com filhos e outros elementos inerentes à família já não têm o temor da perda. Antes a volição atuava no sentido “plus” para depois atuar no sentido “minus”.







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