Um em cada quatro entrevistados já se arrependeu alguma vez por ter trocado de emprego
Esses profissionais estão mais exigentes: 41% deles só aceitam trocar de emprego por ofertas de mais de 30% de aumento de salário (leia o quadro abaixo). “O mercado está bem aquecido, com muitas ofertas de trabalho. Com mais oportunidades, o profissional fica mais valorizado”, diz Carlos Eduardo Dias, sócio-diretor da Asap. Foi o que aconteceu com o gerente comercial Thales Baldinotti, de 33 anos. Ele mudou de emprego há três meses, depois de ficar dois anos e meio na mesma empresa do setor de cartões de pagamento, para ganhar salário um terço maior que o anterior. “Eu ganhava bem no antigo trabalho, mas sabia que podia ganhar ainda mais. Além disso, passei da condição de pessoa jurídica para a de contratado.”
Dinheiro sempre foi a principal razão para trocar de emprego. Isso transparece na pesquisa (leia o quadro abaixo), não só nos 25% que dizem ser a remuneração o principal fator para aceitar uma oferta de trabalho, mas também nos 18% que desejam ascensão na carreira e nos 13% que ambicionam ter mais desafios (que pressupõem, claro, recompensas à altura). Isso fica ainda mais claro quando os entrevistados se lembram de suas mudanças de emprego passadas: três quartos delas envolveram aumento de salário.
O problema de prestar atenção demais no dinheiro é que ele nem sempre traz satisfação: 23% dizem já ter se arrependido de mudar de empresa. Em geral, isso ocorre porque um aumento de salário chama a atenção, e por isso mesmo pode ocultar possíveis problemas futuros – como um ambiente de trabalho ruim, a falta de oportunidades de crescimento ou uma rotina que não permita o desenvolvimento profissional.
As pessoas parecem conscientes disso. Dois terços dos entrevistados disseram que não trocariam de emprego, por maior que fosse a oferta, sem considerar outras condições, como horário, chances de ascensão e ambiente de trabalho. Baldinotti é um exemplo. Desde que mudou de emprego, ele diz já ter recebido quatro sondagens para entrevistas, mas recusou: “Agora, não saio por salário. Encontrei visibilidade na nova empresa. Quero fazer carreira”.
Faz sentido, de acordo com especialistas em carreira. Uma vez que o salário tenha atingido um nível satisfatório, outros quesitos ganham importância na avaliação profissional. “Muitas vezes, a diferença de salário entre dois empregos é mínima, e as pessoas mudam pensando em outro tipo de promoção”, diz a consultora de RH s Andrea Huggard-Caine. “A troca é boa se mostrar que o profissional está se desenvolvendo, ganhando competitividade.”
Profissionais que trocam de emprego com muita frequência ou de maneira precipitada se expõem a riscos. “A pessoa deve ter cuidado para não permitir que o currículo vire a descrição de um leilão de empregos”, afirma Karen Parodi, da consultoria de RH Career Center.
Uma das boas consequências do aquecimento do mercado de trabalho, como mostra a pesquisa da Asap, é que as mudanças de emprego hoje se dão muito mais por fatores positivos – aumento de salário e de perspectivas – do que por fatores negativos – insatisfação com a empresa ou com o chefe. Tradicionalmente, analistas consideram a relação com o chefe um dos principais motivos para uma carreira sair dos trilhos. Só 6% dos entrevistados disseram querer trocar de emprego agora por causa do chefe, e 9% por causa da empresa. Por outro lado, um mercado aquecido parece também significar que a qualidade de vida está mais distante dos profissionais urbanos de elite. O discurso sobre equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional tem crescido muito nos últimos anos, no mundo inteiro, mas sua interferência nas decisões práticas se mostra pequena. Ao pensar em motivos futuros para mudar de trabalho, só 12% dos entrevistados colocaram “qualidade de vida” em primeiro lugar. Quando observamos o campo das escolhas reais (as mudanças efetivamente feitas no passado), a situação fica ainda mais nítida. Apenas um terço das pessoas citou essa preocupação (aqui, a pergunta permitia múltiplas respostas, ou seja, dois terços dos trabalhadores nem sequer têm qualidade de vida em seu radar).
ESTRATEGISTA
A publicitária Camila Badaró, no quinta da agência em que trabalha. Ela trocou de emprego por achar que teria mais chances de subir
A publicitária Camila Badaró, de 27 anos, é um exemplo. Ela estava havia um ano e quatro meses num emprego. Aborreceu-se por ter passado um semestre no que descreve como funções burocráticas. “Quando surgiu uma vaga e a empresa optou por buscar um profissional de fora, vi que ali não havia espaço para eu crescer”, diz. Em fevereiro, ela conseguiu um novo trabalho, como coordenadora de uma área de publicidade on-line numa agência. O aumento de salário foi pequeno, mas ela diz que aceitaria a mudanç
até para ganhar menos. “Tive um avanço muito rápido no novo emprego.”
“Esse dilema vai marcar principalmente os profissionais mais jovens, que dizem querer, ao mesmo tempo, alta qualidade de vida e rápida ascensão profissional”, diz Dias, da Asap. “Vai ser difícil ter as duas ao mesmo tempo.” Mesmo assim, a simples possibilidade de escolher entre esses dois caminhos é uma ótima notícia. Ciclos de economia aquecida não duram para sempre. Cabe a cada profissional aproveitar o atual momento da economia da melhor maneira possível.
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