12.15.2010

 Plástica sem silicone

Técnica, que dispensa silicone e não deixa cicatriz, é indicada especialmente a mulheres que enfrentam a reconstrução mamária depois do câncer

Novo metódo aumenta os seios usando tecido adiposo da própria mulher Novo metódo aumenta os seios usando tecido adiposo da própria mulher 
Em 2006, vinte mulheres que haviam retirado parte do seio devido a um tumor se submeteram a uma experiência arriscada no Japão. Elas receberam enxertos de células-tronco nos seios mutilados na esperança de que eles se reconstituíssem. Um ano mais tarde, o cirurgião plástico que liderou o estudo, Keizo Sugimachi, anunciaria radiante no Simpósio de Câncer de Mama em San Diego, nos Estados Unidos, que todas as vinte mulheres não só passavam bem, mas que os seios haviam de fato sido reconstituídos – sem uma gota sequer de silicone. Mais: 79% delas ficaram satisfeitas.
Hoje, o método está se popularizando. A máquina responsável pela “mágica”, chamada de Celution System, foi aprovada para uso em toda a Europa, em julho deste ano. Os Estados Unidos devem seguir o exemplo europeu em 2011 e o Brasil, embora sem previsão de lançamento, não será esquecido – promete a empresa americana Cytori Therapeutics, fabricante da máquina e criadora do método.
 
Celution System
Líquido enriquecido com células-tronco é extraído do Celution System.
Mesmo criado com o objetivo de ajudar as vítimas de câncer de mama, o procedimento inventando pela Cytori tem inegáveis vantagens estéticas. Reúne dois dos maiores sonhos das mulheres: reduzir a barriga enquanto aumenta os seios. O sistema só se tornou possível depois da descoberta de que a gordura contém células-tronco. Livres de discussões éticas, por não virem de embriões, essas células são retiradas do corpo da própria paciente e são capazes de se transformar em tecidos de todos os tipos, inclusive mamário.
Na experiência criada por Sugimachi, as pacientes passam por uma lipoaspiração e a gordura retirada é tratada com enzimas e centrifugada pela máquina até que as células-tronco sejam isoladas. Depois, essas células são misturadas com uma pequena quantidade de gordura e reinjetadas com seringas nos seios. Por serem células do corpo das próprias pacientes, as novas “próteses” não são rejeitadas nem geram deformações. Não deixam cicatriz (mesmo a cicatriz da lipoaspiração tem apenas três milímetros de diâmetro), não doem no dia seguinte, não tiram a sensibilidade, nem diminuem a capacidade de amamentar. O crescimento do seio não sai de controle – os médicos dizem que é muito difícil que as células se multipliquem de maneira perceptível depois da cirurgia.
Enxertos de gordura nos seios não são novidade – estão no mercado desde 1983. Mas a grande diferença desse novo método é que, como o implante é enriquecido com células-tronco, essas células se incorporam aos tecidos dos seios e atraem os vasos sanguíneos, que irrigam a área e impedem que a gordura se dissolva, como acontecia no procedimento anterior. A técnica já tem sido usada no Brasil, porém, com um nível de enriquecimento muito menor do que o atingido com o Celution System.
 
Celution System
O Celution System isola as células-tronco contidas na gordura e torna possível que elas sejam usadas na reconstrução da mama pós-câncer.
Câncer de Mama - Como as células-tronco têm potencial para se diferenciar em diversos tipos de células, a comunidade científica resolveu avaliar os riscos da inserção em pacientes que passaram por remoção de tumores. “Em testes, as células-tronco não se desenvolveram em células cancerígenas. O único fator que nos assustava um pouco era a possibilidade de que, aumentando o número de vasos sanguíneos na região, eles eventualmente alimentassem os tumores”, conta Ronaldo Golcman, chefe da Equipe de Urgência de Cirurgia Plástica do Hospital Israelita Albert Einstein. “Mas, mesmo depois de muitos estudos, não há evidência científica de aumento de nenhum tipo no câncer.”
“O grande problema desse método são as limitações que ele apresenta”, comenta Golcman. Para fazer um enxerto de 200 mililitros nas duas mamas é preciso extrair, pelo menos, cinco vezes esse volume em gordura. "Estamos falando de quase um litro. Quantas mulheres tem essa quantidade de gordura para doar com segurança em uma única cirurgia?”, diz. Por essa razão, Golcman duvida que a metodologia possa substituir o silicone por completo nos procedimentos estéticos, mas reitera sua utilidade no que se refere à reconstrução dos seios após a mastectomia – cirurgia de remoção das mamas ou de parte delas, devido ao câncer.
A equipe da Cytori Therapeutics afirma ter o mesmo objetivo. “O nosso foco é ajudar vítimas de câncer de mama a reconstruir os defeitos deixados pela doença”, afirma Tom Baker, porta-voz da empresa. “E com certeza estamos de olho nos cirurgiões e pacientes do Brasil.”
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