SE VOCÊ já dirige há anos, nem pensa mais a respeito. Mas se ainda está aprendendo, como meus alunos na faixa dos 18, 19 anos, tem a clara noção de como é difícil executar uma sequência complexa de movimentos, selecionando a ação certa na hora certa -e sem perder a noção do conjunto, enquanto o carro se move pela rua.
Para quem está começando, é preciso muita supervisão atenta do seu córtex cerebral para lembrar de, primeiro, tirar o pé direito do acelerador; depois, colocar o pé esquerdo na embreagem; tirar a mão direita do volante e estendê-la em direção ao câmbio; lembrar da posição em que a alavanca estava e fazer o movimento adequado para levá-la à marcha desejada; e voltar a mão para o volante, enquanto se tira devagar -devagar!- o pé esquerdo da embreagem e o pé direito volta a acelerar na medida certa.
Ficou angustiado só de ler? Compreensível, enquanto seu cérebro não dispuser de um programa motor unificado que dê conta de selecionar as ações certas na hora e na ordem certas sem que você precise prestar atenção no que está fazendo.
O alívio vem com a prática, conforme os núcleos da base, no centro do cérebro, vão aprendendo, com as tentativas e acertos, a encaixar as ações umas nas outras.
Graças à plasticidade sináptica, o próprio uso modifica aquelas ações que ativam os neurônios que representam cada ação, e as que dão certo em conjunto -tirar um pé do acelerador e pousar o outro na embreagem ao mesmo tempo, por exemplo- vão sendo reforçadas.
Com treino suficiente, esses neurônios têm oportunidade de se organizar em redes que precisam apenas ser acionadas pelo córtex cerebral para levar à execução de um programa motor completo, como passar a marcha, escrever seu nome ou tocar uma sonata de Beethoven inteira.
O único porém é que, quando os núcleos da base assumem a troca de marchas e o córtex fica dispensado para prestar atenção em outra coisa, vem a tentação de abusar. Pergunta perfeitamente procedente de um aluno, então: se eu não preciso mais prestar atenção para trocar de marcha, por que é que eu não posso falar ao celular enquanto dirijo?
Porque você ainda precisa voltar sua atenção, que é uma só, à rua, aos pedestres e aonde você leva o carro, e o celular rouba para si toda essa atenção. Falando ao celular, você não dirige o carro; apenas é levado por ele...
Para quem está começando, é preciso muita supervisão atenta do seu córtex cerebral para lembrar de, primeiro, tirar o pé direito do acelerador; depois, colocar o pé esquerdo na embreagem; tirar a mão direita do volante e estendê-la em direção ao câmbio; lembrar da posição em que a alavanca estava e fazer o movimento adequado para levá-la à marcha desejada; e voltar a mão para o volante, enquanto se tira devagar -devagar!- o pé esquerdo da embreagem e o pé direito volta a acelerar na medida certa.
Ficou angustiado só de ler? Compreensível, enquanto seu cérebro não dispuser de um programa motor unificado que dê conta de selecionar as ações certas na hora e na ordem certas sem que você precise prestar atenção no que está fazendo.
O alívio vem com a prática, conforme os núcleos da base, no centro do cérebro, vão aprendendo, com as tentativas e acertos, a encaixar as ações umas nas outras.
Graças à plasticidade sináptica, o próprio uso modifica aquelas ações que ativam os neurônios que representam cada ação, e as que dão certo em conjunto -tirar um pé do acelerador e pousar o outro na embreagem ao mesmo tempo, por exemplo- vão sendo reforçadas.
Com treino suficiente, esses neurônios têm oportunidade de se organizar em redes que precisam apenas ser acionadas pelo córtex cerebral para levar à execução de um programa motor completo, como passar a marcha, escrever seu nome ou tocar uma sonata de Beethoven inteira.
O único porém é que, quando os núcleos da base assumem a troca de marchas e o córtex fica dispensado para prestar atenção em outra coisa, vem a tentação de abusar. Pergunta perfeitamente procedente de um aluno, então: se eu não preciso mais prestar atenção para trocar de marcha, por que é que eu não posso falar ao celular enquanto dirijo?
Porque você ainda precisa voltar sua atenção, que é uma só, à rua, aos pedestres e aonde você leva o carro, e o celular rouba para si toda essa atenção. Falando ao celular, você não dirige o carro; apenas é levado por ele...
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
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