7.16.2012

MAUS TRATOS AO IDOSO: DENUNCIE

Dois entre três idosos agredidos no DF são vítimas dos filhos, diz estudo.

Trabalho da Central Judicial do Idoso considerou dados de 2008 a 2011.
Muitas vezes a violência não é percebida, segundo defensora pública.
Dois entre cada três idosos vítimas de violência no Distrito Federal são agredidos pelos próprios filhos, segundo uma pesquisa da Central Judicial do Idoso. O órgão, ligado ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, realizou o estudo com base em 2.379 casos coletados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2011. Nesta sexta-feira (15) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa.
Presidente do Conselho do Idoso do DF e coordenadora do Núcleo de Defesa do Idoso da Defensoria Pública, Paula Ribeiro afirmou que os dados refletem pesquisas feitas em âmbito nacional. Também disse que os abusos financeiro e psicológico e a negligência são os tipos de violência mais comuns, embora nem sempre o agressor e a vítima tenham consciência do que  representam.
“A violência contra a pessoa idosa está se tornando um lugar tão comum que não se percebe mais isso. O filho parte do seguinte pressuposto: meu pai e minha mãe já são velhos e por conta da idade não têm mais condição de decidir sobre o patrimônio deles. Então eu vou cuidar de tudo, vou me apossar de tudo e vou decidir o que fazer. Isso é uma violência, só que muitas vezes esse filho não entende isso como uma violência. E muitas vezes o próprio idoso não consegue visualizar. Ele entende que está sendo desrespeitado na sua liberdade de decisão, mas não consegue encarar que isso é uma violência”, afirma.
O trabalho também apontou, segundo Paula, que há baixa judicialização ou aplicação de medidas protetivas ao idoso. “O idoso não quer. Não quer, por exemplo, ser afastado do lar, ou que o agressor seja afastado. Ele se preocupa com o outro, não com ele. Ele pensa: e meu filho vai para onde?”, explica. “Ele não quer que o filho seja responsabilizado criminalmente ou não quer isso porque ele pode perder o emprego.”
Promotora da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência, Sandra Julião afirma que o descaso com os idosos é mais complexo do que parece. De acordo com ela, muitos dos casos atendidos pelo Ministério Público têm a ver com familiares com dependência de drogas ou álcool ou com falhas na execução de políticas públicas.
Para Sandra, a solução para a questão envolve o fortalecimento dos laços entre gerações e da autonomia dos idosos. “A pessoa idosa vai delegando seus atos, a sua autonomia, tudo ela vai delegando para o outro. Isso significa que ela abre mão dela mesma. E fica fragilizada”, disse.
“A pessoa vai lá, tira o dinheiro do idoso do banco e entrega só metade e isso é uma violência. Você tem que munir a pessoa de poder, de autonomia, de vontade de viver”, explica a promotora. “Acho que quando a gente fortalecer a pessoa, desde antes de ficar idosa, vai ser uma pessoa idosa ciente dos seus direitos de cidadão. Antes de idosos, somos cidadãos e temos que cobrar nossos direitos como cidadãos.”
Gênero
A pesquisa também apontou que 60% dos casos de violência são cometidos contra a mulher idosa. “É mais marcante contra ela justamente por causa dessa relação de maior fragilidade e dependência. Qual era o contexto dessa mulher idosa de hoje? De que época ela é? Qual era o papel dela na sociedade? Era o papel de cuidadora dos filhos, de cuidar do lar, do marido, muito pouco saía para o mercado de trabalho, vivia em uma relação de dependência do provedor. E essa relação muitas vezes é reproduzida hoje”, explica Paula.
Segundo a defensora pública, esse sentimento leva à baixa notificação dos casos de violência. Em geral, afirma, as mulheres idosas tendem a se sentir culpadas e credenciam a responsabilidade dos abusos às drogas, desemprego ou outras dificuldades. “Ela pensa: sou um peso para o meu filho, não tenho renda e não tenho como me sustentar.”

Acho que quando a gente fortalecer a pessoa, desde antes de ficar idosa, vai ser uma pessoa idosa ciente dos seus direitos de cidadão. Antes de idosos, somos cidadãos e temos que cobrar nossos direitos como cidadãos."
Sandra Julião, promotora da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência

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