Rio -  Com tamanho, população e problemas equivalentes aos de um bairro, a maior favela do Rio receberá um grande aparato de segurança. A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha será inaugurada nesta quarta-feira com uma das maiores estruturas do estado: 700 policiais militares, uma sede administrativa e oito bases avançadas de operações.

A gigante também nasce com novidade: o
investimento em motopatrulhamento, para que os os PMs cheguem com facilidade aos locais de difícil acesso.

A estrutura da 28ª UPP do estado quase pode ser comparada à que foi criada no Complexo do Alemão, que tem várias favelas, onde foram construídas quatro sedes para garantir a segurança de mais de 60 mil
moradores, segundo dados do Censo 2010.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
Mas os militares da nova UPP terão a missão de proteger área ainda maior e mais populosa: a Rocinha tem mais de 69 mil habitantes, distribuídos entre 25 subcomunidades, numa área de quase 850 mil metros quadrados.

Na primeira fase de implantação, a UPP Rocinha terá a sede inaugurada no Parque Ecológico — antigo ponto turístico em área de Mata Atlântica, que foi tomado pelo tráfico durante décadas —, além de bases na Cachopa e na Rua Dois.


Esta última terá um contêiner provisório e contará com a reforma do antigo Destacamento de Polícia Ostensiva (DPO). As outras bases serão inauguradas em uma segunda fase.


Já está definido que uma delas será no Parque da Cidade, área onde bandidos da antiga quadrilha que dominava a Rocinha chegaram a montar um braço armado.


Além do tamanho, a Rocinha se diferencia das demais favelas pela geografia: essencialmente íngreme, as construções da favela foram erguidas desenhando ladeiras, vielas e curvas sinuosas, em sua maioria difíceis de transitar.


De acordo com pesquisa feita durante o planejamento da UPP, veículos de quatro rodas não conseguem percorrer 92,5% da área da comunidade. Foi por isso que o projeto inovou ao adotar a maior frota de motos para o seu patrulhamento.


Já na fase inicial, a unidade contará com 12 veículos, número maior do que nas outras UPPs. As motocicletas modelo XRE-300 foram pintadas de azul e branco, com as iniciais da UPP.

Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Novas motocicletas modelo XRE-300 foram pintadas de azul e branco, com as iniciais da unidade | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Os novos veículos serão usados principalmente nas rondas escolares e no transporte rápido de policiais para atendimento de ocorrências, principalmente nos becos, como foi feito na ocupação da comunidade, há quase um ano, pelos batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque.

Varredura para garantir instalação


Às vésperas da inauguração da UPP, o Comando de Operações Especiais da PM fez megaoperação nesta terça-feira na Rocinha. Homens dos batalhões de Operações Especiais (Bope), Choque, de Ações com Cães (BAC) e do Grupamento Aero Móvel (GAM), fizeram cercos nas principais vias de acesso à favela, revistando motociclistas, motoristas e pedestres. Ninguém foi preso.


A ação finalizou a etapa de varredura da Rocinha para instalação da UPP, iniciada em novembro de 2010, quando forças de segurança ocuparam o território.


O líder da quadrilha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, foi preso, além dos principais comparsas. O processo de pacificação, porém, encontrou resistência de rivais do bando, que tentavam ocupar o lugar dos criminosos presos, o que culminou na morte de ao menos uma dúzia de moradores e policiais. Na semana passada, um PM foi morto em patrulhamento.

Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Na ação desta terça-feira, PMs revistaram motociclistas | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Parque Ecológico terá sede administrativa da unidade

Tomada por bandidos durante décadas e transformada em sinônimo de morte e sofrimento para dezenas de vítimas do "tribunal do tráfico", a área do Parque Ecológico da Rocinha vai sediar a parte administrativa da UPP.


O local, que agora vai virar símbolo da presença do estado naquela comunidade, foi cenário de uma das histórias mais trágicas do local: ali, a polícia acredita que foram enterrados os restos mortais da modelo Luana Rodrigues de Souza, de 20 anos, e da amiga, Andressa de Oliveira.


As duas desapareceram em maio do ano passado, e a investigação da polícia aponta que as jovens foram mortas por traficantes, que acusaram Luana de supostamente se envolver com um policial. Diversas buscas na mata foram feitas, mas os corpos das vítimas jamais foram encontrados.