A Proteste realizou uma pesquisa sobre tranquilizantes como ansiolíticos, antidepressivos e hipnóticos, com pessoas de cinco países, para analisar o uso destes medicamentos. O resultado revelou que a epidemia dos tranqüilizantes e afins no Brasil é mais grave do que nos demais pesquisados: Bélgica, Itália, Espanha e Portugal. Os brasileiros demonstraram um uso crônico significativamente mais alto, principalmente de antidepressivos. Dos entrevistados do país, 45% contaram já ter feito uso desses medicamentos e também declararam ter consumido mais de todas as categorias de remédios no último ano. E 35% dos brasileiros pesquisados apresentam sinais de dependência de ansiolíticos e hipnóticos.
O uso destes medicamentos está associado
a indivíduos com estilo de vida pouco saudável, que sofrem de insônia,
são fumantes, sedentários, estressados e portadores de transtornos de
ansiedade ou depressão.
Dos cinco países participantes da
pesquisa, o Brasil foi o que registrou os índices mais elevados de
usuários que começaram a usar tranquilizantes tanto antes de completar
26 anos (35%) como antes dos 18 anos (10%).
Mulheres brasileiras na faixa etária
entre 55 e 74 anos e com escolaridade baixa são mais propensas a
consumir, ao longo da vida, esses psicotrópicos, cujo uso idealmente não
deveria exceder quatro semanas. Além disso, 50% dos participantes
admitiram consumi-los por mais de um ano. Não bastasse, um quarto dos
usuários aumenta suas doses para manter a sua eficácia. Também 47% dos
brasileiros pesquisados usam ansiolíticos juntamente com
antidepressivos. Os principais motivos que levam a ingerir esses
remédios são problemas de insônia e acontecimentos traumáticos, como
morte de parente, divórcio ou desemprego.
Boa parte dos usuários, sob
acompanhamento médico, relatou não ter recebido qualquer orientação ou
advertência sobre os riscos de dependência, seus efeitos colaterais e o
perigo em associá-los ao álcool.
O estudo foi feito a partir de 13 mil
formulários respondidos por entrevistados belgas, italianos, espanhóis,
portugueses e brasileiros. O objetivo da entidade foi avaliar diversos
aspectos ligados ao uso de medicamentos tranquilizantes, que englobam
principalmente ansiolíticos, hipnóticos e antidepressivos.
A Proteste apresentou os resultados da
pesquisa à Associação Médica Brasileira (AMB), ao Conselho Federal de
Medicina (CFM), à Associação Paulista de Medicina (APM) e ao Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para que, por meio
de ações conjuntas junto aos profissionais e ao público em geral, haja
um alerta a respeito desses medicamentos e dos malefícios que podem
causar à saúde.
Uma importante descoberta da pesquisa
foi a declaração dos entrevistados sobre o fato de a insônia ser o
principal motivo de uso dos medicamentos. Deles, 21% disseram voltar a
experimentar problemas para dormir ao parar de usar os remédios, o que
gera um eterno ciclo vicioso. Outras razões incluem acontecimentos
traumáticos, como morte precoce de um parente, e problemas de saúde.
Confira as razões que levam ao uso destes medicamentos
50% Problemas para dormir
32% Problemas profissionais (excesso de trabalho, prazos pouco realistas)
41% Acontecimentos traumáticos (divórcio, morte de parente ou amigo, perda de emprego)
29% Problemas e conflitos familiares (discussões, problemas com filhos)
33% Doenças e problemas de saúde
28% Problemas financeiros (dívidas, despesas excessivas)
Fique atento
- Não dirija após o uso de tranquilizantes: 49% dos brasileiros relataram que dirigem com frequência ou sempre ao fazerem uso de tranquilizantes. Trata-se de um risco, já que esses medicamentos costumam causar sedação e podem retardar a coordenação motora;
- Não realize atividades perigosas: 28% dos entrevistados afirmou realizar, sob o efeito desses remédios, atividades consideradas perigosas, como usar furadeiras ou martelos;
- Não consuma bebidas alcoólicas: o álcool pode intensificar alguns dos principais efeitos colaterais de ansiolíticos e antidepressivos, como sedação, tontura e problemas de memória.
Os efeitos colaterais causados por tranquilizantes
33% Sonolência
18% Problemas de memória
11% Tontura
10% Alteração de humor
10% Sensibilidade emocional
(Fonte: O Globo)
Existem
medicamentos que têm a propriedade de atuar quase que exclusivamente
sobre a ansiedade e tensão. Estas drogas foram chamadas de tranqüilizantes,
por tranqüilizar a pessoa estressada, tensa e ansiosa. Atualmente,
prefere-se designar estes tipos de medicamentos pelo nome de ansiolíticos,
ou seja, que "destroem" (lise) a ansiedade. De fato, este
é o principal efeito terapêutico destes medicamentos: diminuir ou
abolir a ansiedade das pessoas, sem afetar em demasia as funções
psíquicas e motoras.
Antigamente
o principal agente ansiolítico era uma droga chamada meprobamato
que praticamente desapareceu das farmácias com a descoberta de um
importante grupo de substâncias: os benzodiazepínicos. De fato estes
medicamentos estão entre os mais utilizados no mundo todo, inclusive
no Brasil. Para se ter idéia atualmente há mais de 100 remédios
no nosso país à base destes benzodiazepínicos. Estes têm nomes químicos
que terminam geralmente pelo sufixo pam. Sendo assim é relativamente
fácil a pessoa quando toma um remédio para acalmar-se saber o que
realmente está tomando: tendo na fórmula uma palavra terminando
em pam, é um benzodiazepínico. Exemplos: diazepam, bromazepam, clobazam,
clorazepam, estazolam, flurazepam, flunitrazepam, lorazepam, nitrazepam,
etc. A única exceç! ão é a substância chamada clordizepóxido que
também é um benzodiazepínico. Por outro lado estas substâncias são
comercializadas pelos laboratórios farmacêuticos com diferentes
nomes de "fantasia", existindo assim dezenas de remédios
com nomes diferentes: Noan®, Valium®, Aniolax®, Calmociteno®, Dienpax®,
Psicosedin®, Frontal®, Frisium®, kiatrium®, Lexotan®, Lorax®, Urbanil®,
Somalium® etc., são apenas alguns dos nomes.
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Todos
os benzodiazepínicos são capazes de estimular os mecanismos no nosso
cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade.
Assim, quando, devido às tensões do dia a dia ou por causas mais
sérias, determinadas áreas do nosso cérebro funcionam exageradamente
resultando num estado de ansiedade, os benzodiazepínicos exercem
um efeito contrário, isto é, inibem os mecanismos que estavam hiperfuncionantes
e a pessoa fica mais tranqüila como que desligada do meio ambiente
e dos estímulos externos.
Como
conseqüência desta ação os ansiolíticos produzem uma depressão da
atividade do nosso cérebro que se caracteriza por: 1) diminuição
de ansiedade; 2) indução de sono; 3) relaxamento muscular; 4) redução
do estado de alerta.
É
importante notar que estes efeitos dos ansiolíticos benzodiazepínicos
são grandemente alimentados pelo álcool, e a mistura álcool + estas
drogas pode levar uma pessoa ao estado de coma. Além desses efeitos
principais os ansiolíticos dificultam os processos de aprendizagem
e memória, o que é, evidentemente, bastante prejudicial para as
pessoas que habitualmente utilizam-se destas drogas.
Finalmente,
é importante ainda lembrar que estas drogas também prejudicam em
parte nossas funções psicomotoras, prejudicando atividades como
dirigir automóveis, aumentando a probabilidade de acidentes.
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Efeitos no resto do corpo
Os
benzodiazepínicos são drogas muito específicas em seu modo de agir:
têm predileção quase que exclusiva pelo cérebro. Desta maneira,
nas doses terapêuticas não produzem efeitos dignos de nota sobre
os nossos vários outros órgãos
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Do
ponto de vista orgânico ou físico os benzodiazepínicos são drogas
bastante seguras, pois são necessárias grandes doses (20 a 40 vezes
mais altas que as habituais) para trazer efeitos mais graves: a
pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade
grande para ficar de pé e andar, a pressão do sangue cai bastante
e pode desmaiar. Mas mesmo assim a pessoa dificilmente chega a entrar
em coma e a morrer. Entretanto, a situação muda muito de figura
se a pessoa, além de ter tomado o benzodiazepínico, também ingeriu
bebida alcoólica. Nestes casos a intoxicação torna-se séria, pois
há grande diminuição da atividade do cérebro podendo levar ao estado
de coma.
Outro
aspecto importante quanto aos efeitos tóxicos refere-se ao uso por
mulheres grávidas. Suspeita-se que estas drogas tenham um poder
teratogênico razoável, isto é, que possam produzir lesões ou defeitos
físicos na criança por nascer.
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Os
benzodiazepínicos quando usados por alguns meses seguidos podem
levar as pessoas a um estado de dependência. Como conseqüência,
sem a droga o dependente passa a sentir muita irritabilidade, insônia
excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo podendo, nos casos extremos,
apresentar convulsões. Se a dose tomada já é grande desde o início
a dependência ocorre mais rapidamente ainda. Há também desenvolvimento
de tolerância, embora esta não seja muito acentuada, isto é, a pessoa
acostumada à droga não precisa aumentar a dose para obter o efeito
inicial.
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Conforme
já foi dito existem muitas dezenas de remédios no Brasil à base
dos ansiolíticos benzodiazepínicos. Até recentemente era comum os
médicos chamados de obesologistas (que tratam das pessoas obesas
para emagrecerem) colocarem nas receitas estes benzodiazepínicos
para tirar o "nervoso" produzido pelas drogas que tiram
o apetite (ver o nosso folhetim intitulado "Anfetaminas").
Atualmente a legislação não permite essa mistura.
Além
disso, há um verdadeiro abuso por parte dos laboratórios, nas indicações
destes medicamentos para todos os tipos de ansiedades, mesmo aquelas
que são normais, isto é, causadas pelas tensões da vida cotidiana
diária. Assim, certas propagandas mostram uma mulher com um largo
sorriso, feliz, pois tomou certo remédio que corrigiu a ansiedade
gerada pelos três bilhetes recebidos um do marido, avisando que
chegará tarde para o jantar; outro do filho, que afirma que chegará
com o time de basquete para um lanche; e o terceiro da empregada,
que avisa que faltou pois foi ao INAMPS. Ainda existem exemplos
de indicação dos benzodiazepínicos para as moças sorrirem mais (pois
a tensão evita o riso), ou para evitarem as rugas, que envelhecem
(pois a ansiedade faz as pessoas franzirem a testa, criando rugas!
). Não é portanto surpreendente que, em um levantamento sobre o
uso não médico de drogas psicotrópicas por estudantes em dez capitais
brasileiras, em 1997, os ansiolíticos estivessem em terceiro lugar
na preferência geral, sendo esse uso muito mais intenso nas meninas
do que nos meninos.
Os
benzodiazepínicos são controlados pelo Ministério da Saúde, isto
é, a farmácia só pode vendê-los mediante receita especial do médico,
que fica retida para posterior controle, o que nem sempre acontece.
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