Bala Juquinha tem produção suspensa e se despede depois de 64 anos
Primeira bala mastigável do Brasil, com receita de origem portuguesa, a tradicional Juquinha parou de ser produzida. Fábrica foi vendida, mas não se sabe se produção ainda será mantida
Francisco Edson Alves
O motivo do encerramento da produção
da primeira bala mastigável do país seria a falta de interesse dos
filhos do criador, o italiano Giulio Luigi Sofio, de 77 anos, que mora
em Santo André (SP) e não quer comentar sobre o negócio, adquirido por
ele do português Carlos Maia, em 1982.
Segundo alguns dos últimos 18
funcionários demitidos mês passado, porém, a maior parte do maquinário
da empresa — que chegou a ter mais de 200 empregados, produzir 600
toneladas de balas por mês e ter uma receita superior a R$ 15 milhões
mensais, na Avenida dos Estados, em Santo André — já foi retirada. Um
empresário carioca, que não seria do ramo alimentício, teria comprado a
original e ultrassecreta fórmula da bala Juquinha de tutti-frutti,
guardada a sete chaves.
“O empresário do Rio veio de helicóptero a
Santo André, cheio de seguranças, no final de maio. Em pouco mais de dez
minutos, levou, num cofre, a fórmula”, garante um ex-empregado. A
mistura clássica do mimo, foi desenvolvida por cozinheiras de Carlos
Maia, que começaram a escala de produção em tachos de cobre. Maia
batizou a guloseima em homenagem a Juca, um amigo português.Na Central do Brasil, os principais distribuidores da bala Juquinha lamentaram o fim da produção. “Vendíamos 200 fardos, cada um com 20 pacotes de 700 gramas, por mês. Hoje (sexta), temos menos de 50 pacotes nas prateleiras”, diz o gerente da Cia do Doce, Paulo dos Santos. “É uma pena. Herdei essa loja (Esplendor, na Lapa) dos meus pais, há 34 anos. A Juquinha era a bala que mais saía”, lamentou.
O aposentado José Alves, de 78 anos, diz que a bala Juquinha vai deixar saudades. “Quem não se lembra da famosa frase?: ‘quer enganar, dê bala Juquinha’. Ou seja, era a forma mais simples e divertida de se acalmar uma criança. Até hoje eu usava esse argumento com meu neto Olavo, de 4 anos”, diz. Agora, só resta a José e aos fãs da Juquinha, uma açucarada torcida pela possível volta da fabricação da bala. Um doce mistério.
Fórmula secreta
A Balas Juquinha Indústria e Comércio Ltda foi fundada em 1945 com uma outra razão social: Salvador Pescuma Russo & Cia Ltda. No início, dedicava-se apenas à fabricação de refresco em pó efervescente. Cinco anos depois, a empresa começou a fabricar balas mastigáveis. Pouco depois, a ‘docíssima e mole’ Juquinha virou febre no País, conquistando rapidamente o mercado.
O sucesso da tão falada bala foi ampliada ainda mais com Giulio Sofio na direção do empreendimento, comprado através de um simples anúncio num jornal, colocado por Carlos Maia, que, em 1979, atolado em dívidas, acabou vendendo para o italiano, a receita mágica, que deu origem a outros sabores como uva, abacaxi e coco. Atualmente, até os ex-funcionários foram orientados a não dar entrevistas sobre a delícia.
Um antigo funcionário conta que, quem ousava bisbilhotar e tentar descobrir a composição da fórmula, era demitido. “Muitos ‘espiões’ foram descobertos e mandados embora ao longo dos 30 anos. O segredo sempre foi o principal pilar de sobrevivência da empresa”, diz X., 56 anos, desempregado desde abril. “Nem sei se sei fazer outra coisa. Só bala”, lamenta, preocupado com o futuro.
O auge das vendas ocorreu em meados da década de 90, quando, durante o então Plano Real, as balas Juquinha viraram troco nos supermercados, bares e restaurantes. “Naquela ocasião faturei três vezes mais que agora”, disse Giulio, em entrevista a uma revista de economia em 2005.
Desde então, o faturamento da fábrica caiu para R$ 8 milhões, passando sua produção de 600 toneladas por mês para menos de 100 toneladas. E veio registrando queda através dos anos, assim como o número de empregados. Em abril deste ano, conforme testemunhas, somente 18 pessoas operavam a linha de produção, que tinha modernos maquinários. Metade das balas era destinada ao mercado externo.
Segundo especialistas, a queda é
atribuída, especialmente, a dois fatores: a falta de interesse dos
descendentes de Giulio para tocar os negócios no ramo, e a
competitividade no mercado. “A clandestinidade no setor atualmente
alcança mais da metade da produção de balas, pirulitos e doces. Como
competir com produtos até 40% mais baratos, embora tenham qualidade
duvidosa? Os fabricantes informais não pagam impostos e por isso assumem
cada vez mais a liderança de vendas”, justifica o economista Jaiber
Assumpção.
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