Relacionamento
Regina Navarro Lins
“Se eu fosse você''
A questão da semana é o caso da internauta que não aguenta mais as constantes brigas com o marido. Diz que faz tudo para agradá-lo, mas ele se irrita por qualquer coisa e é grosseiro com ela.Uma das coisas mais desagradáveis que existem é conviver com um casal que briga o tempo todo. Quando saem com um grupo de amigos e praticamente não precisam se comunicar, ainda passa. Mas quando só há mais uma ou duas pessoas e todos conversam juntos…
Muitas vezes, na maioria dos casos, eles aproveitam justamente a presença dos outros para se agredirem, criando uma situação constrangedora. Mesmo que os ataques sejam sutis e disfarçados. A primeira pergunta que nos vem à mente é: por que não se separam?
Não se separam porque dependem um do outro emocionalmente, precisam do parceiro para não se sentir sozinhos e, principalmente, para que seja o depositário de suas limitações, fracassos, frustrações e também para responsabilizá-lo pela vida tediosa e sem graça que levam.
Quanto maior a defasagem entre a expectativa que tinham do casamento e a impossibilidade de concretizá-la, piores são as brigas.
Aquela ideia de que, ao casar, se tornariam um só, com todas as necessidades satisfeitas, já foi abandonada há muito tempo. O que restou foi um profundo rancor matrimonial, exercitado no dia-a-dia.
Virginia Sapir, uma terapeuta de família americana conhecida no mundo todo, afirma que o sentimento mais comum entre os casais é o desprezo recíproco. Parece que se despreza o outro por ter falhado na sua principal função: tornar a vida do parceiro plena e interessante.
O longo tempo de convívio pode transformar os dois ou então tornar cada um mais preso a seu próprio jeito e hábitos. Isso para se defender das cobranças, vindas do outro, para que se modifique.
A consequência é um deles se tornar mais rígido, impedido de se desenvolver. O psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa, com sua prática clínica de mais de 50 anos, dizia:
“Esse rancor matrimonial é o pior sentimento que conheço; é a coisa mais peçonhenta, amarga, azeda e torturante de que tenho notícia ou experiência. Sim, experiência — terrível. Quem não a tem vez por outra? Mas quando ela dura muitos meses — até muitos anos — é, na certa, o pior veneno que se pode imaginar”.
Para solucionar essa questão crônica dos casamentos, só vejo duas saídas: ou as pessoas desistem de ter relações estáveis e duradouras, ou descobrem uma forma de se tornar inteiras e poder se relacionar com o outro pelo prazer de estar perto, não atribuindo a ele o que não lhe diz respeito.
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