1.03.2016

Tristeza não tem fim

Pelo direito de chorar em lugares públicos

É sempre assim. Os soluços são abafados e você tenta se esconder como pode: atrás dos óculos, cabelos, boné, capuz, gorro, blusa, lenço, livro, mochila. A primeira solução imediata é recorrer ao banheiro mais próximo, trancar-se na cabine e tentar não fazer muito barulho. Mas, se você não tem essa alternativa, vai ter que conviver com a sensação de olhos te examinado de cima a baixo, te fazendo sentir-se um incômodo ao ambiente inabalavelmente plastificado ao redor. Taxada de louca pelos sussurros mudos, vai levar consigo nos olhos vermelhos o atestado de insanidade ou vulnerabilidade feminina.
Porque às vezes você descobre que sua vida é uma merda. Ou que você odeia o seu emprego. Ou que você se pega na dúvida se realmente ama a sua mulher. Ou que você se sente uma fraude. Ou que você ainda sente saudades. Ou que você não sabe ou nunca vai saber qual é o sentido da vida e qual é a grande merda de diferença que a sua existência faz pra humanidade. Ou porque simplesmente você acordou triste, você está triste. Essas descobertas provocam uma catarse que deve ser extravasada na hora e no lugar da tomada de consciência. Engolir choro é a pior coisa do mundo.
Então as lágrimas vem, e a sensação de estar manchando a normas do convívio social também. Por que minha tristeza incomoda tanto o ideal de felicidade plena que nem sei se existe e que ninguém consegue explicar? O choro é uma reação. É o impulso desesperado que se sente quando algo não está bem. É a necessidade incontrolável de querer mudar e não saber como nem porquê. O choro é apenas a expressão de minha melancolia. Porque ninguém acorda bem todos os dias. Porque prefiro o choro de uma tristeza que possa sentir à apatia do cotidiano impassível.
   
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