Pelo direito de chorar em lugares públicos
É sempre assim. Os soluços são abafados e você tenta se esconder como
pode: atrás dos óculos, cabelos, boné, capuz, gorro, blusa, lenço,
livro, mochila. A primeira solução imediata é recorrer ao banheiro mais
próximo, trancar-se na cabine e tentar não fazer muito barulho. Mas, se
você não tem essa alternativa, vai ter que conviver com a sensação de
olhos te examinado de cima a baixo, te fazendo sentir-se um incômodo ao
ambiente inabalavelmente plastificado ao redor. Taxada de louca pelos
sussurros mudos, vai levar consigo nos olhos vermelhos o atestado de
insanidade ou vulnerabilidade feminina.
Porque às vezes você
descobre que sua vida é uma merda. Ou que você odeia o seu emprego. Ou
que você se pega na dúvida se realmente ama a sua mulher. Ou que você se
sente uma fraude. Ou que você ainda sente saudades. Ou que você não
sabe ou nunca vai saber qual é o sentido da vida e qual é a grande merda
de diferença que a sua existência faz pra humanidade. Ou porque
simplesmente você acordou triste, você está triste. Essas descobertas
provocam uma catarse que deve ser extravasada na hora e no lugar da
tomada de consciência. Engolir choro é a pior coisa do mundo.
Então
as lágrimas vem, e a sensação de estar manchando a normas do convívio
social também. Por que minha tristeza incomoda tanto o ideal de
felicidade plena que nem sei se existe e que ninguém consegue explicar? O
choro é uma reação. É o impulso desesperado que se sente quando algo
não está bem. É a necessidade incontrolável de querer mudar e não saber
como nem porquê. O choro é apenas a expressão de minha melancolia.
Porque ninguém acorda bem todos os dias. Porque prefiro o choro de uma
tristeza que possa sentir à apatia do cotidiano impassível.
http://www.deliriosemcomprimidos.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário