Ainda
que o mercado ofereça uma extensa gama de produtos financeiros, a
aplicação que ainda é a mais buscada e conhecida pelos brasileiros é a
caderneta de poupança. A força desta modalidade é tamanha, que mesmo na
atual conjuntura, em que o rendimento da poupança não consegue sequer
superar a inflação, a caderneta ainda continua como a principal
alternativa da população. Segundo a Fecomércio, cerca de 85% das pessoas
que economizam dinheiro colocam o que possuem na poupança.
A
baixa rentabilidade da caderneta e as alternativas a ela são assuntos
que abordo com frequência, hoje vou tocar em um aspecto diferente, mas
que é igualmente preocupante. O que você sabe sobre a forma como o
rendimento da poupança é calculado? Em linhas gerais, as pessoas sabem
que quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o rendimento é de 0,5% ao
mês mais a Taxa Referencial (TR). Com Selic igual a 8,5% a.a. ou menor
que isso, o rendimento passa a ser 70% da Selic mais a TR. Mas afinal,
como essa TR é calculada?
A
verdade é que o cálculo para chegar a ela é muito mais complexo do que
você pode imaginar. O valor da TR não é fixo, ele é feito com base em
uma fórmula que leva em consideração algumas variáveis. A primeira delas
é a Taxa Básica Financeira (TBF), que é obtida pela média ponderada das
taxas mensais de juros pagas em aplicações de CDB nas 30 maiores
instituições financeiras do país. O valor da TBF mensal é divulgado
todos os dias pelo Banco Central, ou seja, varia ao longo do ano.
Outra
variável que entra na fórmula da TR é o chamado "redutor", calculado
com base na soma de dois valores definidos pelo Conselho Monetário
Nacional e multiplicado pela TBF. Os valores definidos pelo conselho
também não são fixos e mudam de acordo com a Selic. Pelo que expliquei
até aqui, já deu para entender que a conta está longe de ser simples e
que depende de variáveis que estão constantemente mudando.
Não
vou entrar em explicações mais profundas sobre a fórmula da TR porque o
texto tornaria-se um artigo técnico, quando meu objetivo aqui é
justamente questionar a complexidade desta conta. O professor e
especialista em matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho
inclusive fez um projeto sugerindo a mudança deste cálculo, justamente
em função da complexidade do mesmo.
Se
estamos falando da aplicação mais utilizada pelos brasileiros, qual o
sentido do rendimento ser calculado de um jeito tão complicado? De modo
contrário, o investimento deveria ser estruturado de forma que o
entendimento fosse mais simples. Com um cálculo tão complexo, quem não
tiver um nível avançado de conhecimento em cálculo financeiro não terá
respaldo para entender se essa fórmula utilizada hoje é a mais adequada
para definir o rendimento da aplicação. Em suma, a maior parte dos
brasileiros investe na poupança sem entender ao certo como ela
funciona.
Além
disso, voltando ao que mencionei no início do texto, não deveria ser
permitido a oferta de uma aplicação que não seja capaz de acompanhar
sequer a inflação. Partindo do princípio que o instrumento não garante
nem o poder de compra da população, ele deixa de ser um investimento.
O
mais justo seria a poupança pagar pelo menos 75% da Selic ou garantir o
pagamento da inflação e dar um percentual a mais. Enquanto isso não
acontece, a maior parcela dos brasileiros segue economizando dinheiro
com um rendimento atrelado à TR, que mais atrapalha do que ajuda.
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