9.05.2016

Madre Teresa deixa legado de caridade na Lapa (RJ )

Madre Teresa deixa legado de caridade na Lapa (Rio)

Casa foi aberta no Rio por Madre que foi canonizada neste domingo

Rio - O Papa Francisco celebrou na manhã deste domingo a cerimônia de canonização da Madre Teresa de Calcutá, na Praça São Pedro, no Vaticano. A Madre, que fundou a Congregação Missionárias da Caridade em 1950, viajou o mundo para levar amor e dignidade aos mais pobres. Agora, teve o segundo milagre reconhecido, o que abriu caminho para sua canonização. Um de seus frutos desde 2000, a Casa das Irmãs Missionárias, que funciona na Lapa, é responsável pela alimentação de cerca de 200 moradores de rua que circulam pela região. Representada pela irmã Helen Mariott, a casa também está presente no Vaticano para a cerimônia deste domingo.

Um dos ‘velhinhos’ cuidados pela irmã Joana faz oração diante da imagem de Madre Teresa de Calcutá Estefan Radovicz / Agência O Dia

Em sua caminhada, Madre Teresa fundou, somente no Brasil, 13 casas. Três delas funcionam no Rio de Janeiro. Com a ajuda de aproximadamente 20 voluntários, as irmãs missionárias Joana, Délia Maria, Lélia e Helen Mariett dão vida diariamente ao trabalho de caridade iniciado há mais de meio século por Madre Teresa, também conhecida como a Santa das Sarjetas.
A casa sobrevive unicamente de doações de todos os tipos, menos do governo ou de instituições. “Se o prefeito vier aqui e doar de coração e do bolso dele, vamos aceitar. Mas se o município quiser doar, pra gente não há interesse. Porque o importante é que as pessoas sejam tocadas pelo coração para ajudar. Por exemplo: tem uma senhora de 80 anos que vem aqui à tarde só para colocar água nos copos e servir farinha nos pratos dos acolhidos. Ela diz que isso faz bem para ela”, explica a irmã Joana.
Além de ajudar os moradores de rua, as missionárias cuidam de 16 homens idosos, que irmã Joana chama carinhosamente de ‘velhinhos’. Ela conta que são pessoas abandonadas pela família nos hospitais ou deixados na casa por parentes próximos. A maioria possui alguma dificuldade mental.
A rotina começa com uma oração às 5h na capela, que fica dentro da casa. Em seguida, as madres e os voluntários dão início aos cuidados com a moradia, plantas e roupas. Depois disso, a cozinha é o foco principal. É que ao meio-dia os ‘velhinhos’ se reúnem no refeitório para uma oração antes do almoço. Assim que terminam a refeição, seguem para seus quartos para dar lugar aos acolhidos que vêm da rua, às 16h. Em ordem, eles entram, oram e se alimentam. Três vezes na semana, também são convidados para o asseio nos poucos banheiros que a casa tem.
>> Madre Teresa de Calcutá é canonizada pelo papa Francisco em missa no Vaticano
Para alimentar essas turmas, as irmãs chegam a preparar diariamente até 25 quilos de arroz e até 12 quilos de feijão. Nos dias de sopa, são de quatro a cinco panelões industriais da comida, revela irmã Joana. Nos fins de semana, elas seguem até Itatiaia para entregar cestas básicas a famílias carentes da cidade.
Doadores há anos, o casal Jhon e Iara, chegam de Teresópolis para levar uma cesta básica todo mês à casa. “É uma honra poder colaborar com esse trabalho. Somos abençoados”, diz Iara, bastante emocionada.
Voluntária na casa há sete anos, Saulina Alves mora em Vila Isabel e ajuda em todas as tarefas. “Gosto de estar aqui. Fui convidada por uma outra voluntária e nunca mais saí”, conta Saulina, que teve um câncer de mama há dois anos e só deu uma pausa no trabalho voluntário por causa da insistência das irmãs. “Aqui me sinto viva”, conclui.
Hábito veio pelas mãos da Madre
Irmã Joana já recebeu, na Casa das Missionárias, a visita de Marcílio Haddad Andrino, o homem curado de múltiplos tumores no cérebro por Madre Teresa, em dezembro de 2008. Ela conta que recebeu o hábito das mãos da religiosa. “Foi em 1991, na Califórnia. Depois, a reencontrei em uma missão em 1994, em São Paulo. Era sempre uma alegria”, lembra.
O cardeal arcebispo Dom Orani Tempesta lembra da passagem de Madre Teresa pelo Rio, quando fundou a Casa das Missionárias da Caridade de Bonsucesso. “No mundo de hoje, esse cuidado com os mais pobres lembra às pessoas a importância de sermos humanos no dia a dia. A canonização traz ao mundo esse olhar de amar ao próximo. E os cariocas revivem a lembrança do carisma da Madre Teresa quando esteve aqui”, disse.
Na Travessa Mosqueira, via movimentada nas noites da Lapa, a Casa das Missionárias da Caridade sofre com o barulho. Mas isso não desanima as irmãs. “Vejo esse lugar como um ponto de luz na escuridão da vida de muitos que estão na rua”, avalia irmã Joana.
Será realizada neste domingo, na Capela Cristo Redentor, às 17h, uma missa de ação de graças pela canonização da Madre.

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