"Minha única vontade é de chorar e gritar para que todos ouçam o que
aconteceu com meu filho. Amanhã pode ser com qualquer um. Quer dizer que
se manifestar agora é crime?", questionou Rosana Cunha, mãe de Gabriel,
preso pela PM antes de o ato contra Temer começar; "A democracia desse
país acabou de vez", disse Antonio Carlos Cardia Roque, pai da estudante
Janaina Marton Roque, que também foi presa
Pais dos 26 manifestantes presos – 16 menores de idade – pela Polícia
Militar de São Paulo neste domingo 4 em frente ao Centro Cultural São
Paulo, antes do início da manifestação contra Temer que aconteceria na
Avenida Paulista, se indignaram com a ação excessiva e sem
justificativa.
"Estão indiciando os meninos por carregar lenços e vinagres. Alguém é
preso por isso? Pelo amor de Deus, é preciso ter humanidade", afirmou
Rosana Cunha, mãe de Gabriel, um dos detidos. Todos os jovens foram
soltos no início da noite desta segunda, após a Justiça de São Paulo ter
considerado as prisões irregulares.
Na noite desta segunda, eles se emocionaram com a notícia da liberação dos jovens:
"Meu filho tem 18 anos e estava indo para o ato, é o direito de todo
cidadão. Ele passou no Centro Cultural para encontrar um amigo, mas o
pessoal que foi preso não se conhecia, foram pegos de surpresa. Um
menino estava na mesa fazendo trabalho de faculdade e foi preso", disse
Rosana em vídeo publicado pelo Esquerda Diário. Nesta tarde, a
Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) anunciou que os 16
maiores de idade detidos foram indiciados por associação criminosa e
corrupção de menores.
"Eles ainda alegam que encontraram armas brancas nas mochilas. Mas
apenas quatro deles estavam com mochilas, como eles iam levar armas para
22 pessoas? A maioria estava sem mochila, e na verdade, não tinha nada
nas mochilas além de lenços e vinagre", disse. A SSP informa em nota que
foram encontradas câmeras, celulares, toucas e estilingues. Em
contrapartida, movimentos sociais e advogados acusam a PM de plantar os
objetos para incriminar os jovens.
"Estou chocada como todos os pais. Não estamos entendendo. Eu eduquei
meus filhos para que eles tomem atitudes e sejam responsáveis. Então, o
cidadão tem o direito de defender o que acredita. E não estamos podendo
fazer isso. Como assim? Por quê?", afirmou Rosana. "Minha única vontade é
de chorar e gritar para que todos ouçam o que aconteceu com meu filho.
Amanhã pode ser com qualquer um. Quer dizer que se manifestar agora é
crime?", disse emocionada.
"A democracia desse país acabou de vez", diz pai de uma das jovens detidas na manifestação de SP
Em entrevista à Fórum, o mecânico disse que é contra "baderna" em protestos, mas garantiu que esses não eram os planos de sua filha, que carregava em sua mochila apenas um kit de primeiros socorros, um pacote de bolachas e uma garrafa d'água. A estudante foi detida com outras 25 pessoas antes da manifestação "Fora Temer" que aconteceu neste domingo (4) em São Paulo e pode ser indiciada por "associação criminosa"
Revista Fórum -
Já se passaram mais de 24 horas desde que 26 jovens foram detidos pela
Polícia Militar, antes do protesto "Fora Temer" deste domingo (4), em
São Paulo, e até agora nenhum deles foi liberado. Depois de mais de 8
horas sem comunicação, detidos no Deic, os jovens só puderam falar com
os pais, responsáveis e advogados depois da intervenção do ex-senador
Eduardo Suplicy, do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) e do
ex-secretário de Cultura Nabil Bonduki no local.
Os adolescentes maiores de idade foram encaminhados, na tarde desta
segunda-feira (5), para uma audiência de custódia no Fórum Criminal da
Barra Funda e correm o risco de serem presos por "associação criminosa" e
"corrupção de menores". Eles foram detidos próximo ao Centro Cultural
São Paulo, horas antes da manifestação. Pouco tempo depois, um grupo de 5
menores também foi detido na Paulista e encaminhado ao Deic.
Os delegados responsáveis por ouvir os detidos afirmaram que eles foram
presos pois estariam planejando atos de vandalismo na manifestação. De
acordo com os policiais, eles estariam portando pedras, informação que
os jovens negam. De resto, tudo o que a polícia informa ter encontrado
bate com as informações dos jovens: kits de primeiro socorros, máscaras
de gás, bandanas, água e bolachas. Ainda há a informação de que um dos
jovens estaria carregando uma barra de ferro. Este, porém, sequer
mochila carregava e estava apenas estudando no Centro Cultural São Paulo
– ele não ia para a manifestação.
À Fórum, o mecânico Antonio Carlos Cardia Roque, pai da estudante
Janaina Marton Roque, uma das jovens presas, se mostrou indignado com a
atitude da polícia. Para Antonio, "a democracia desse país acabou de
vez", já que as pessoas sequer mais têm o direito de se manifestar
pacificamente.
"Acho que todos que estavam fazendo a manifestação estavam lá para
exercer um direito deles. São pessoas honestas e estão indignadas. Quem
está se manifestando, é por que é honesto, não ladrão. Agora você não
tem mais nem esse direito", afirmou, garantindo ainda que tem certeza
que sua filha não planejava se envolver em qualquer tipo de ato de
vandalismo.
"Eu concordo com manifestação, só que eu sou contra baderna, mas eu sei
que ela não estava fazendo baderna, eu conheço a minha filha", disse
Antonio sobre Janaina, que é estudante de cinema.
Pais e responsáveis dos outros jovens detidos também mostraram
indignação e, por meio de uma carta coletiva endereçada ao governador
Geraldo Alckmin, expressam seu repúdio à conduta da polícia militar e a
falta de informações. Os jovens passaram horas detidos sem qualquer tipo
de contato com advogados ou responsáveis.
Confira a íntegra da carta.
Sr. Governador do Estado de São Paulo,
Tem
esta o intuito de informar-lhe sobre os eventos ocorridos no último
domingo, 4 de setembro, e estendido até a manhã desta segunda, por
ocasião da detenção , para nós, mães e pais, descabida de 21 jovens,
pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, a qual os conduziu à
Departamento Estadual de Investigações Criminal. A referida detenção
teve vez entre 15h e 15h30, nas imediações do Centro Cultural Vergueiro –
portanto fora do contexto das manifestações ocasionadas uma hora mais
tarde, com início previsto longe dali.
Com emprego de força desmedida (dezenas de policiais militares portanto armamento de grosso calibre em pronto uso) abordaram e detiveram , "para averiguação", nossos filhos , prontos sim a ir, legal e legitimamente, a um ato publico , imbuídos tão somente de suas convicções e espírito cívico.
Os que assinam esta carta espantam-se não só com a forma da detenção e sua alegação, mas, especialmente, com o destino que tiveram nossos filhos na ocasião. Por que encaminhar jovens que, em muitos dos casos, sequer se conheciam ao DEIC? Sem fundada suspeita , sem antecedentes, sem provas. Sem, como se verá, acesso ao delegado. Por que a torturante demora para os encaminhamentos? Por que a proibição à entrada de advogados , defensor e familiares, particularmente dos familiares dos adolescentes à delegacia? Por que às 19h, todos os celulares em posse dos nossos filhos pararam de funcionar , impossibilitando qualquer informação sobre o que lhes ocorria no interior da delegacia? Por que confiscaram-lhes os aparelhos? Que foi feito deles? Por que a orientação dada aos advogados , pelo delegado , de desligar seus próprios celulares? Por que somente após a chegada de três parlamentares por volta de uma da manhã tiveram acesso aos nossos filhos os advogados (presentes desde às 17h de domingo?
Até o momento desta carta (6h30), tudo o que sabemos nos foi informado pelos parlamentares e advogados: entrevista e assinatura dos termos (revogados graças a presença dos parlamentares) ; suposição de organização criminosa e aliciamento de menores – o que enseja o encaminhamento para audiência de de custódia no Fórum Criminal da Barra Funda, sem que ainda nos tenha sido informado o horário. Até o momento desta carta permanecemos há mais de 13 horas (!) absolutamente desorientados , ignorantes dos próximos passos , sem sequer o consolo de terem sido ouvidos , na presença dos advogados, nossos filhos.Nem mesmo sabemos ao certo quem se encontra detido ; nem mesmo muitos pais e outros familiares detém a informação do paradeiro de seus filhos, saídos ontem para manifestar-se. Alguns dos presentes, aliás, já se evadiram daqui, visto terem seus compromissos profissionais que honrar. Até o momento desta carta , tudo o que sabemos é que , sem dúvida, nem o defensor, nem qualquer um dos parlamentares presenciaram , segundo seu próprio relato , de viva voz, tantas anomalias em um caso como este.
Tudo o que sabemos é que , mesmo no período mais terrível de nossa história recente, detidos sempre tiveram garantido o acesso, ao menos , de seus advogados.
Até o momento desta carta, e, certamente , para muito além dele, tudo o que sabemos é que nossos filhos não são criminosos , mas , tão somente, cidadãos paulistas criados para crer no convívio pela diferença mesma das visões de mundo e pontões; diferenças sobre as quais se baseiam as nações de democracia, liberdade de expressão, livre transito e Estado Democrático de Direito.
Tudo com o que contamos, tudo o que esperamos de Vossa Excelência é, naturalmente , a reiteração desses valores e , a luz deles a remissão dos erros.
Com emprego de força desmedida (dezenas de policiais militares portanto armamento de grosso calibre em pronto uso) abordaram e detiveram , "para averiguação", nossos filhos , prontos sim a ir, legal e legitimamente, a um ato publico , imbuídos tão somente de suas convicções e espírito cívico.
Os que assinam esta carta espantam-se não só com a forma da detenção e sua alegação, mas, especialmente, com o destino que tiveram nossos filhos na ocasião. Por que encaminhar jovens que, em muitos dos casos, sequer se conheciam ao DEIC? Sem fundada suspeita , sem antecedentes, sem provas. Sem, como se verá, acesso ao delegado. Por que a torturante demora para os encaminhamentos? Por que a proibição à entrada de advogados , defensor e familiares, particularmente dos familiares dos adolescentes à delegacia? Por que às 19h, todos os celulares em posse dos nossos filhos pararam de funcionar , impossibilitando qualquer informação sobre o que lhes ocorria no interior da delegacia? Por que confiscaram-lhes os aparelhos? Que foi feito deles? Por que a orientação dada aos advogados , pelo delegado , de desligar seus próprios celulares? Por que somente após a chegada de três parlamentares por volta de uma da manhã tiveram acesso aos nossos filhos os advogados (presentes desde às 17h de domingo?
Até o momento desta carta (6h30), tudo o que sabemos nos foi informado pelos parlamentares e advogados: entrevista e assinatura dos termos (revogados graças a presença dos parlamentares) ; suposição de organização criminosa e aliciamento de menores – o que enseja o encaminhamento para audiência de de custódia no Fórum Criminal da Barra Funda, sem que ainda nos tenha sido informado o horário. Até o momento desta carta permanecemos há mais de 13 horas (!) absolutamente desorientados , ignorantes dos próximos passos , sem sequer o consolo de terem sido ouvidos , na presença dos advogados, nossos filhos.Nem mesmo sabemos ao certo quem se encontra detido ; nem mesmo muitos pais e outros familiares detém a informação do paradeiro de seus filhos, saídos ontem para manifestar-se. Alguns dos presentes, aliás, já se evadiram daqui, visto terem seus compromissos profissionais que honrar. Até o momento desta carta , tudo o que sabemos é que , sem dúvida, nem o defensor, nem qualquer um dos parlamentares presenciaram , segundo seu próprio relato , de viva voz, tantas anomalias em um caso como este.
Tudo o que sabemos é que , mesmo no período mais terrível de nossa história recente, detidos sempre tiveram garantido o acesso, ao menos , de seus advogados.
Até o momento desta carta, e, certamente , para muito além dele, tudo o que sabemos é que nossos filhos não são criminosos , mas , tão somente, cidadãos paulistas criados para crer no convívio pela diferença mesma das visões de mundo e pontões; diferenças sobre as quais se baseiam as nações de democracia, liberdade de expressão, livre transito e Estado Democrático de Direito.
Tudo com o que contamos, tudo o que esperamos de Vossa Excelência é, naturalmente , a reiteração desses valores e , a luz deles a remissão dos erros.
Cordialmente,
Nós, mães e pais abaixo assinados.
Nós, mães e pais abaixo assinados.
Alberto, Antonia, Carlos, Rosa, Vânia, Rosana, Miguel, Dalva.
Foto: Jornalistas Livres
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