Naquele dia, 54 milhões de votos foram jogados no lixo e a sessão foi definida pelo escritor português Miguel Sousa Tavares como uma assembleia de bandidos comandada por um bandido.
Eduardo Cunha já está preso e cerca de 200 deputados que votaram pela saída de Dilma serão atingidos pelas delações das empreiteiras.
Um dia depois, num discurso histórico, Dilma fez um alerta e sugeriu que, a partir daquele dia, o Brasil se transformava numa terra sem lei.
"Eu acredito que é muito, mas muito ruim para o Brasil, que o mundo veja que a nossa jovem democracia enfrenta um processo com essa baixa qualidade. Baixa qualidade principalmente quando se trata da formação de culpa da presidente da República. Por quê? Se é possível condenar um presidente da República sem que ele tenha qualquer culpabilidade, o que é possível de ser feito contra um cidadão qualquer, que é aquele que nós todos somos, quando não somos presidente? Ou seja, o que é possível fazer com o cidadão e a cidadã brasileira que são, na verdade, os grandes personagens, protagonistas da história da democracia?", questionou.
Hoje, o resultado desse crime contra a democracia está exposto ao mundo de forma humilhante para o Brasil. O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), é afastado por uma liminar do Poder Judiciário e todos os senadores da Mesa Diretora assinam uma nota em que se recusam a cumprir a decisão.
Ou seja: como não há mais lei no Brasil, desde que Dilma foi cassada numa "encenação", como disse Joaquim Barbosa, também não há mais lei que garanta os direitos de Renan Calheiros, nem lei que obrigue os senadores a seguirem uma decisão judicial.
O Brasil vive hoje uma anomia, que coloca em risco sua própria sobrevivência como nação.
Em entrevista coletiva nesta terça, Renan afirmou que a "democracia brasileira não merecia esse fim".
No entanto, a democracia brasileira começou a morrer no dia em que foi aberto o processo de impeachment contra Dilma. E quem apoiou essa farsa não tem o direito de reclamar.
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