Escrito por Miguel do Rosário,
Postado em Redação
Sem qualquer ressalva, empresto minha total solidariedade a Miriam Leitão, colunista da Globo. Sou contra esse tipo de manifestação política covarde, em que um monte de gente apupa um cidadão sozinho e indefeso.
Dentro de um avião, a coisa é mais grave ainda.
O que a direita e seu partido, a mídia, muitas vezes parecem esquecer é que lideranças políticas são necessárias justamente para orientar manifestações populares a não descambarem jamais na violência física ou verbal. Em se tratando de vanguardas de partido, que andam de avião e frequentam congressos, seria de se esperar um pouco mais de educação e inteligência política.
Reproduzo, por isso mesmo, a coluna de Miriam Leitão e peço respeito pessoal a ela, uma senhora, uma cidadã, mãe de família e jornalista. Tenho outras observações a fazer em seguida.
Minha primeira reação a esse episódio, que reputo grave por várias razões que explico agora, foi de irritação tremenda, pela violência contra uma senhora indefesa, em primeiro lugar; e pela estupidez política, em segundo.
Miriam Leitão é um das personalidades mais combatidas por este blog – e não cabe aqui repetir as críticas que já fiz e faço a ela e à Globo – e, por isso mesmo, uma agressão verbal, pela maneira descrita por ela, ricocheteia imediatamente aqui, nos atingindo em cheio.
Ou seja, a violência cometida contra Miriam Leitão acaba por se tornar uma violência contra nós mesmos. Com um agravante: Miriam Leitão tem, a seu favor, a mídia mais poderosa da América Latina, o judiciário, a polícia, os governos. Nós, do campo da comunicação popular, não temos nada a nosso favor. Então a violência contra Miriam Leitão, que é apenas um incômodo passageiro para ela, transforma-se num perigo real contra nós mesmos.
E tem um segundo agravante: nós defendemos Miriam Leitão contra a violência cometida por setores politicamente ingênuos do campo popular; Miriam Leitão jamais nos defendeu e jamais nos defenderá.
Nos últimos três anos, o Brasil registrou diversas violências físicas contra partidos, sindicatos e militantes, depredações, invasões, espancamentos, assassinatos.
Miriam Leitão jamais deu um pio.
A prova, no entanto, que a manifestação contra Miriam Leitão foi uma grande burrice, que se volta imediatamente contra um, este sim, indefeso campo popular, é que todos aqueles que permanecem à espreita, com olhos injetados de rancor e ressentimento, à espera de algum momento de fragilidade nossa, ou, como agora, de uma estupidez qualquer que possa ser vinculada à esquerda e à algum de seus partidos, vem à luz para nos atacar pelas costas.
É o caso do necro-blogueiro Idelber Avelar, que usa o episódio para, numa de suas costumeiras piruetas, afirmar que ele é a prova de que o golpe não foi golpe, que o estado de exceção não é estado de exceção, e que o fascismo não é fascismo. Para isso, claro, ele não economiza na desonestidade intelectual, que consiste em negar o recrudescimento espetacular da violência policial e classista nas áreas rurais, nas reservas indígenas e nas periferias urbanas, violência esta que explodiu APÓS o golpe de Estado, como consequência do desmantelamento de todo o delicado ecossistema de organizações de direitos humanos que existia nas zonas de conflito.
O que uma manifestação idiota, mas inofensiva, de um punhado de petistas num avião, tem a ver com isso? Nada.
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