Você é hipocondríaco? Veja o que está por trás da mania de doença.
Neusa Carmo
Thinkstock/Getty Images
O temor
infundado em portar doenças graves e incuráveis pode causar estresse e
ansiedade; conheça os tratamentos
Transtorno
hipocondríaco atinge 5% da população brasileira. Medo excessivo de estar doente
gera estresse e perda de qualidade de vida, mas há tratamento.
O cenário é
clássico: alguém espirra, a pessoa ao lado já pensa que contraiu todos os
germes que foram para o ar e começa a tomar remédios por conta própria para
tentar evitar que a morte, então certa, se concretize. Aquele que está gripado
também pode pensar que o espirro fragilizou algum vaso no seu cérebro e que
sofrerá um AVC hemorrágico em
breve. E o pior, se o espirro for acompanhado de tosse, o
autodiagnóstico de tuberculose é claro como o dia. No entanto, a resposta dos
médicos para atitudes assim é uma só: hipocondria.
Cerca de 10
milhões de brasileiros sofrem com o temor de que estão com doenças sérias e
desconfiam do diagnóstico do médico que pediu exames e comprovou que não era
nada sério. A doença, chamada de transtorno hipocondríaco, cresceu com a
internet, já que cada hipocondríaco têm muitas vezes mais acesso a informações
sobre doenças, o que o leva a acreditar que é portador de todas elas. É como
uma dor imaginária: ela não está presente, mas como a pessoa está altamente
sugestionável, acaba apresentando até mesmo os sintomas.
Ansiedade
descontrolada
Relacionado
com o transtorno de ansiedade e até mesmo com o transtorno obsessivo compulsivo
(TOC), a hipocondria gera uma ansiedade desordenada no organismo, causando
angústia em quem sofre com a doença. A psiquiatra Giulia Miranda Rosa Santoro,
da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que a doença não tem
grau, mas sim associações com outras patologias.
“É preciso
ver se junto disso a pessoa é ansiosa, se está passando por problemas
familiares, sociais ou econômicos, se está desenvolvendo algum outro tipo de
doença”, explica a especialista. Além disso, uma personalidade emocionalmente
dependente, como a médica define como ser “mais teatral”, pode ser uma das
explicações para a hipocondria.
“Às vezes ela está deprimida e sente uma série
de coisas, que na verdade fazem parte do quadro de depressão”.
A boa
notícia é que a doença tem tratamento. Giulia explica que a base é a
psicoterapia. “Tem de fazer a terapia, mas é preciso também avaliar se a pessoa
não tem outros problemas. Se for depressão ou ansiedade com sintomas obsessivos
compulsivos, é preciso entrar com medicação”, explica a médica, que também é
responsável pelo serviço de parecerista de psiquiatria do Hospital Badim, no
Rio de Janeiro.
A médica
ainda relembra que a depressão não envolve somente tristeza, mas sim outros
sintomas corporais, como cansaço, pensamentos negativos, além de outros sinais.
Apoio de
medicamentos
O
psiquiatra Luís Gustavo Buzian Brasil, da Clínica Maia, explica que os remédios
ajudam a controlar a ansiedade, deixam a pessoa mais calma e tranquila e com
capacidade de absorver informações. Buzian ressalta que a terapia vai dar o
mecanismo para a pessoa lidar com essa ansiedade depois, e que é de extrema
importância seguir as recomendações. “O tempo de tratamento depende do
comprometimento do paciente”, explica.
Para aqueles pacientes que não são
comprometidos ou que não buscaram ajuda ainda, a preocupação médica é a prática
da automedicação. De praxe, ninguém deveria tomar remédios sem recomendação
médica. Sabe-se que muitos escorregam nesse preceito quando estão resfriados,
com dor de cabeça ou alguma outro problema mais simples. Se para essas pessoas
que esporadicamente desobedecem o médico a automedicação faz mal, imagine para
quem visita a farmácia com a mesma frequência da padaria, pedindo remédios para
males que ele mesmo se diagnosticou.
“Isso pode
causar outro tipo de problema, como uma intoxicação e problemas gástricos”,
alerta Buzian. “Muitos se automedicam por não confiar no médico, sempre estão
buscando novas opiniões, afirmando ‘tenho alguma coisa!’”, diz.
“Mesmo os
médicos falando que ela não tem doença, a pessoa acredita que tem, e procura
outro médico, porque tem certeza de que tem alguma doença”, comenta a médica da
ABP.
Não se sabe
exatamente como a doença surge
O motivo de
a doença surgir, no entanto, ainda é nebuloso para a medicina. Como a maioria
das outras doenças psiquiátricas, ela tem fundo genético, que em parte colabora
com a doença, mas o próprio ambiente em que a pessoa se encontra acaba por
agravar o quadro.
“Se a
pessoa vive cercada de indivíduos com saúde comprometida ou se está em um
quadro depressivo, pode absorver as informações erradas com característica
negativa”, alerta o médico. Como em um espelho, ela vai enxergar em si mesma
sintomas e características que não tem. “Se é uma dor de cabeça, vai pensar
logo na consequência mais drástica, como um tumor cerebral”, diz o psiquiatra
da Clínica Maia.
“Ninguém
nasce 100% hipocondríaco. Tudo depende da história da pessoa, da genética,
hereditariedade e história de vida dela”, explica Giulia.
Há mais
hipocondríacos na vida adulta e entre as mulheres, mas os homens não escapam da
doença.
Hipocondria: sintomas, tratamentos e causas
O que é Hipocondria?
Sinônimos: hipocondríase
Hipocondria é o quadro
em que se tem um medo excessivo e não realista de ter algum sintoma ou
condição de saúde que pode ameaçar sua vida e ainda não foi
diagnosticado. Nesses quadros, o hipocondríaco tende a ficar ansioso com
a doença, mesmo se nenhuma evidência médica justifique a preocupação ou
acreditar que qualquer sintoma simples pode evidenciar um problema
terrível. Por exemplo: uma dor de cabeça certamente significará um tumor
cerebral.
Causas
Não se sabe ao certo
porque alguma pessoas desenvolvem a hipocondria e essa preocupação
excessiva com sua saúde e o risco de estar com alguma doença muito
grave. No entanto, acredita-se que o tipo de personalidade, a
experiência de vida e questões hereditárias estejam envolvidas no
distúrbio.
Fatores de risco
A hipocondria atinge
igualmente homens e mulheres e normalmente aparece no início da vida
adulta, apesar de poder se desenvolver em qualquer idade. Algumas
situações podem aumentar a chance de uma pessoa desenvolver hipocondria:
- Histórico de uma doença séria na infância
- Ter convivido com familiares ou conhecidos portadores de uma doença séria
- Morte de um ente querido
- Ter um transtorno de ansiedade
- Acreditar que boa saúde significa estar livre de quaisquer sintomas
- Ter familiares próximos hipocondríacos
- Ter pais negligentes ou abusivos.
Sintomas de Hipocondria
Uma pessoa com hipocondria costuma apresentar os seguintes comportamentos:
- Ter um medo intenso ou ansiedade prolongados de ter uma doença grave
- Preocupar-se que os menores sintomas e sensações físicas podem significar uma doença grave
- Procurar médicos repetidamente ou fazer exames complexos com frequência, como ressonâncias magnéticas e ecocardiogramas
- Trocar de médico constantemente, sempre buscando uma segunda opinião que indique uma condição grave
- Falar diversas vezes sobre seus sintomas ou das doenças de que suspeita ter
- Checar frequentemente o corpo em busca de problemas
- Checar frequentemente os sinais vitais, como pulsação ou pressão arterial
- Pensar ter uma doença só de ler ou ouvir sobre ela.
A pessoa se imagina doente, percebe sinais que não existem, se identifica com sintomas descritos por outras pessoas e passam a considerar que também tem esta doença.
O hipocondríaco costuma ser extremamente auto-centrado, mantém a observação em si mesmo, com o foco constantemente avaliando suas próprias sensações corporais e diagnosticando doenças inexistente.
Livros e sites que descrevem doenças podem incrementar os sintomas, pois estas informação nutrem seu arsenal de argumentos para convencer, a si ou outras pessoas, de que realmente possui tal doença.
O hipocondríaco sofre com ansiedade e assim tende a aumentar cada sensação corporal normal a ponto de considerar que algo não vai bem. Por exemplo, ao subir uma escada qualquer pessoa pode perder um pouco o fôlego, mas o hipocondríaco poderá fazer deste momento uma “prova” de que tem problemas cardíacos.
O hipocondríaco costuma praticar a atenção seletiva. Por exemplo, ao assistir um programa da TV sobre dengue, passará a perceber cada mosquito que passa ao redor, verá listras brancas – características do mosquito da dengue – em todo mosquito, e qualquer sinal vermelho em sua pele, provocado por sua própria unha sem perceber talvez, será identificado como picada do mosquito da dengue.
Um grande prejuízo que o hipocondríaco pode causar a si mesmo é confundir os médicos e não ser diagnosticado corretamente quando de fato estiver doente, pois pode haver uma grande quantidade de visitas ao médico e realizações de exames desnecessários.
Hipocondriaco Significado
Hipo: Vem do grego hypo, significa “abaixo”.Condria: Vem de kondrós, significa “cartilagem do tórax”. Se refere à região logo abaixo das costelas, onde fica a vesícula, baço e rins. Órgãos que na antiga Grécia eram relacionados a produção de bile. Acreditava-se que a melancolia se devia à bile negra, e como muitos depressivos se preocupavam exageradamente com sua própria saúde, o termo hipocondria foi usado para identificar aqueles que se consideram excepcionalmente sensíveis à doenças.
Porque uma pessoa se torna hipocondríaca?
Talvez algumas vivencias podem ter passado informações distorcidas, por exemplo mães ocupadas demais com muitos afazeres podem passar uma imagem errada às crianças fazendo-as pensar que só receberão amor e acolhimento quando, e se, estiverem doentes, facilitando a associação de cuidados médicos com amor. O resultado seria a busca de amor e carinho através de cuidados médicos. Não estou, de forma alguma culpando as mães, não há como saber que seu filho fará esta associação, a mãe é a personagem principal da história de vida da criança, mas de forma alguma será a única responsável pelas conclusões que esta criança tira de suas próprias experiências. De toda forma só será hipocondríaco um portador de ansiedade. A hipocondria e ansiedade andam de "mãos dadas". Todo hipocondríaco é ansioso, mas nem todo ansioso será hipocondríaco.A hipocondria pode ter sido aprendida de forma casual. Por exemplo, uma pessoa ansiosa pode ter percebido alivio de sua ansiedade causada por problemas que estão acontecendo em seu dia a dia - como a cobrança do chefe, o fora da namorada - ao focar sua mente em outros assuntos nos quais ele imagina que terá controle, como o seu próprio corpo. Ou seja, o pensamento do hipocondríaco seria mais ou menos assim: “há uma série de coisas ruins acontecendo em minha vida e não sei como superar, mas pelo menos posso cuidar de minha doença X”. Esta conversa normalmente ocorre de forma inconsciente.
Portanto a hipocondria pode ser uma escolha inconsciente para evitar contato com os verdadeiros problemas da pessoa.
Quais doenças o hipocondríaco pensa ter devido ao seu medo de doença
Não há doenças específicas. Doenças venéreas, problemas cardíacos, câncer, dengue, etc. Qualquer doença que ele possa ter ouvido falar poderá ser alvo de sua angustia.Exames clínicos podem trazer alivio, pois haverá uma prova de sua saúde perfeita, mas infelizmente a criatividade do hipocondríaco pode ser muito boa. Logo ele poderá encontrar argumentos, falsos, de que talvez sua doença não tenha sido acusada nos exames por estar no inicio, ou devido ao equipamento daquele laboratório que ele pensa que possa estar desatualizado, ou considera que o médico é novo demais e não tem experiência suficiente, ou que o medido é idoso demais e está desatualizado.
Automedicação na hipocondria
Um grande risco na hipocondria é a automedicação. Tomar medicação prescrita para outros momentos e outras doenças. Tomar medicação prescrita para outras pessoas. Usar medicação sem tarja vermelha e com isso considerar que pode usar em qualquer quantidade. Não deixa de ser auto-sabotagem.É comum já ter lido muito sobre doenças que pode considerar que sabe tudo sobre qualquer doença.
Diagnóstico e Exames
Buscando ajuda médica
Ter preocupação com a
própria saúde é normal e importante para evitar futuras doenças. É
normal também ficar ansioso quando se tem algum sintoma cuja causa o
médico não consegue identificar claramente. Essa preocupação só se torna
um problema quando a ideia de estar com uma doença séria consome você,
mesmo que você já tenha feito exames apropriados e seu médico tenha
assegurado que o problema é simples ou mesmo inexistente.
Nesses casos, considere
buscar ajuda de um psiquiatra ou psicólogo. É comum que alguém de sua
família ou mesmo um profissional de saúde que o atenda dê esse conselho,
caso perceba que sua preocupação com a saúde é desproporcionalmente
alta.
Saiba mais
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar um caso de hipocondria são:
- Clínico geral
- Psiquiatra
- Psicólogo
- Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
- Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade
- Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
- Quais sintomas você tem que você acredita serem causados por uma doença física?
- Que tratamentos você teve para esses sintomas?
- Quais são os testes e procedimentos pelos quais você passou?
- O que você fez para se sentir melhor ou controlar seus sintomas?
- O que faz você se sentir pior?
- Quanto tempo do seu dia você passa se preocupando com sua saúde?
- Como essas preocupações afetam o seu dia a dia?
- Seus amigos e familiares comentam sobre essas suas preocupações ou sobre o seu comportamento?
- O que você espera ganhar com o tratamento?
- Que medicamentos sem prescrição médica e suplementos você toma?
Diagnóstico de Hipocondria
O diagnóstico da
hipocondria em geral envolve primeiramente um exame físico, em que o
médico irá verificar se o paciente realmente tem alguma condição física.
Além disso, o médico fará uma avaliação psicológica, conversando sobre
os sentimentos e comportamentos do paciente. Testes de laboratórios
podem ser feitos, para verificar a função da tireoide e também se há uso
abusivo de álcool e drogas.
Os critérios de diagnóstico da hipocondria, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), são:
Os critérios de diagnóstico da hipocondria, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), são:
- Preocupação por cerca de seis meses ou mais em ter uma doença série, baseada em sintomas corporais
- Ansiedade com essa preocupação
- Dificuldades na vida social, trabalho e na rotina diária, por conta dessa preocupação ou sintomas.
Tratamento de Hipocondria
O tratamento para
hipocondria tem diversas abordagens. A primeira é a psicoterapia, e a
metodologia mais usada é a psicologia cognitiva-comportamental. Essa
abordagem permite o paciente reconhecer as causas de seu comportamento
ansioso e ensina formas de parar com ele. Além disso, é importante que o
paciente aprenda mais sobre a hipocondria, até para saber melhor como
lidar. Essa educação sobre o quadro também é importante para a família
do paciente.
Em alguns casos, medicamentos também podem ajudar. Principalmente os antidepressivos da classe dos inibidores seletivo de recaptação de serotonina ou antidepressivos tricíclicos. Muitas vezes, tratar comorbidades, como ansiedade e depressão, também ajudam no quadro.
Em alguns casos, medicamentos também podem ajudar. Principalmente os antidepressivos da classe dos inibidores seletivo de recaptação de serotonina ou antidepressivos tricíclicos. Muitas vezes, tratar comorbidades, como ansiedade e depressão, também ajudam no quadro.
Convivendo (prognóstico)
Complicações possíveis
As principais complicações da hipocondria são:
- Riscos a saúde decorrentes de procedimentos médicos desnecessárias
- Depressão
- Transtornos de ansiedade
- Raiva e frustração excessivas
- Abuso de substâncias
- Problemas em relacionamentos, no trabalho ou escola e até mesmo altos gastos com procedimentos e consultas médicas.
Prevenção
Não há formas conhecidas
de se prevenir a hipocondria. Mas tratar o problema desde cedo faz com
que a recuperação seja melhor e os impactos na vida cotidiana sejam
menores.
Perguntas sobre hipocondria
Fontes e referências
- Mayo Clinic
- Manual Merck
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