Por capricho da natureza, o câncer de intestino quase sempre se instala no intestino grosso.
São raríssimos os tumores malignos de intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo). Em quase quarenta anos de prática da oncologia, não vi mais do que meia dúzia desses casos, enquanto pacientes com câncer de cólon ou reto tratei de centenas.
A parte do tubo digestivo que denominamos intestino grosso é formada pelo ceco (que contém o apêndice), cólon ascendente, transverso e descendente, sigmóide e o reto. Nessas áreas, os tumores costumam ter origem em pequenos pólipos benignos fixos à mucosa, nos quais se instalam alterações progressivas no DNA causadoras de transformação maligna.
São necessários anos de evolução para que um pólipo se transforme em lesão francamente maligna, característica biológica que oferece ampla oportunidade para retirá-lo antes que nele se acumulem as mutações necessárias para chegar à malignidade.
Como regra, no entanto, doentes que desenvolvem câncer de intestino nunca foram submetidos a exames preventivos para diagnosticar a presença dos pólipos que antecedem o aparecimento da doença.
Há pessoas que correm mais risco de câncer de cólon e reto. É importante conhecê-las, porque precisam de vigilância mais intensiva:
1) As que têm um parente de primeiro grau diagnosticado com esse tipo de câncer antes dos 50 anos. Nesses casos, existe suspeita da existência de síndromes hereditárias que aumentam muito o risco;
2) As que têm um familiar de primeiro grau com câncer do cólon ou reto diagnosticado depois dos 50 anos. O parentesco duplica a probabilidade da doença;
3) Os portadores de enfermidades inflamatórias do cólon e do reto, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn.
Os principais fatores ligados ao estilo de vida que aumentam o risco são as dietas com alto teor de gorduras e/ou pobres em fibras e em cálcio, tabagismo, vida sedentária e consumo excessivo de álcool.
Existem diversas estratégias para a prevenção do câncer colo-retal:
1) Pesquisa de sangue oculto nas fezes;
Parte do princípio de que muitos pólipos e tumores malignos em fase inicial apresentam sangramentos microscópicos identificáveis nas fezes através de diversas técnicas de baixo custo.
No entanto, como esses exames são incapazes de detectar lesões que não sangram, testes negativos não asseguram ausência de tumores (falso-negativos). Ao contrário, quando o resultado é positivo, há necessidade de complementar com a realização de colonoscopia, para visualizar a parte interna do intestino e afastar ou confirmar a presença da lesão responsável pelo sangramento. Consideradas em conjunto, essas limitações fazem com que muitos médicos considerem esses testes de pouca utilidade.
2) Estudos radiológicos
Uma das únicas armas disponíveis no passado, os enemas de bário, exames radiológicos precedidos pela introdução de líquido de contraste contendo bário através do reto, perderam a utilidade porque provocam desconforto, deixam de identificar lesões precursoras e tumores malignos em fase inicial.
Recentemente, foram desenvolvidas técnicas de colonografia por tomografia computadorizada que permitem obter imagens de 90% dos pólipos com mais de 1 cm, com um índice de falso-positivos de apenas 14%. As limitações do método são o emprego de radiações, o custo, a necessidade de preparo para esvaziar o intestino e a de exigir colonoscopia para a retirada dos pólipos diagnosticados.
4) Sigmoidoscopia
Embora desconfortável, é um exame simples, ambulatorial, realizado pela introdução de um pequeno endoscópio que visualiza as porções mais baixas do intestino: reto e sigmóide. Não detecta lesões mais altas, que incidem em mais de 30% dos casos de câncer.
5) Colonoscopia
É o método mais importante, assunto que merece discussão mais detalhada em nossa próxima coluna.
Dráuzio Varella
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