10.10.2010

Big brother de talentos: cresce o uso das mídias sociais no mercado de trabalho

Rio - Inicialmente usados quase que exclusivamente para promover encontros amorosos ou de amizade, os meios digitais de relacionamento avançaram para outras utilidades e hoje são importante plataforma na busca por oportunidades de trabalho, parceiros para projetos e até emprego em grandes empresas. Recentemente, o site de recolocação Curriculum mudou o formato de cadastramento, que agora permite a inclusão das redes sociais às quais o candidato é adicionado na área de dados pessoais. A mudança no uso das ferramentas, porém, impõem novas regras, seja no Twitter, Orkut, MySpace ou Facebook. Especialistas observam que jovens, em especial, devem repensar linguagem e exposição.
“As empresas começam a usar as mídias sociais como importante canal de recrutamento. Elas criam audiência, inserindo conteúdos, e retêm os perfis das pessoas que as interessam. As companhias também já divulgam as vagas diretamente nas redes”, diz Joyce Jane, consultora em Mídias Sociais e CEO do iDigo — Núcleo de Inteligência Digital. 

Mudanças na seleção

As redes sociais, observa Joyce, funcionam como um filtro espontâneo dos profissionais que têm afinidades com as organizações. “Elas também investigam seus perfis. Por isso, é importante lembrar que as informações podem ser usadas contra ou a favor do candidato”, ressalta a consultora.

A tendência é que, ao sobreviver às mudanças, recrutadores, selecionadores e headhunters agreguem essas ferramentas ao trabalho. “Quem quer contratar não precisa mais recorrer a recrutadores. As companhias podem acessar informações sobre trabalho, referências e contatos para obter o que querem. O único lado negativo disso é que hoje, com essa grande visibilidade, há um excesso de exposição, e as regras nas mídias sociais não são formais. Sem muita experiência, o jovem é o mais prejudicado, porque não sabe separar o lado pessoal do profissional”, lembra Silvio Tanabe, consultor de Marketing Digital da Magoweb e autor do blog Clínica de Marketing Digital. Para ele, as pessoas terão que amadurecer a forma de se relacionar com as ferramentas digitais.

“O brasileiro é muito sociável. O Brasil é o segundo país que mais acessa a rede, e acho até que a relação é madura. A diferença é que aqui as pessoas têm menos censura e se expõem mais”, opina Joyce Jane. 

Novo campo de trabalho

As redes de relacionamento, que começaram a ocupar a Internet despretensiosamente, mais como ferramenta de entretenimento ou espaço para comunidades, acabaram por se transformar em campo de informação muito mais veloz que os sites especializados e criaram novo nicho de trabalho para profissionais das mais diferentes áreas. Guilherme Costa, 28 anos, que migrou do Jornalismo e hoje cursa um MBA de Marketing Digital, acaba de ser contratado por uma editora para cuidar do segmento de redes sociais. “E o mais interessante é que a diretora é uma pessoa que só vi uma vez ao vivo. Faz uns dois anos que nos comunicamos virtualmente”, conta o jovem.

Guilherme compara as mídias sociais, por exemplo o Facebook, com uma roda de conversa entre amigos no intervalo das aulas na faculdade, em que uma pessoa tem a chance de aproximar outras duas. “Só que, na rede, isso não ocorre frente à frente, como na vida cotidiana”, diferencia o consultor. Ele acrescenta que as redes de relacionamento permitem o encontro entre empreendedores de diferentes países: “É um recurso que abre portas”.

Recrutamento de trainees

Um exemplo recente de uso profissional e corporativo das redes sociais foi a iniciativa da consultoria PricewaterhouseCoopers, que usou o Twitter e o Facebook para divulgar o programa de trainees 2010 no Brasil. Candidatos às chances tiveram que interagir com o perfil da empresa, trocar ideias e participar de fóruns. 
“Entre os mais de 5 milhões de usuários do Facebook, não estão apenas os que fazem uso doméstico, mas também empresas que buscam conhecer seus candidatos mais de perto e oferecer oportunidades de maneira diferente”, explica Andrea Dunningham, diretora executiva do iDigo — Núcleo de Inteligência Digital.

Dicas dos especialistas

Para quem não acredita que ferramentas virtuais podem criar oportunidades, é interessante lembrar a história da americana Laura Gainor, que garantiu contratação após campanha criativa e bem humorada na Internet. Por meio de postagens no Slideshare, Youtube, Foursquare e Twitter, ela produziu um currículo com fotos e vídeos que contavam sua trajetória pessoal e profissional. “A história de Laura é uma inspiração para quem busca uma colocação. Acho que, na briga pelo emprego, vale tudo que unir ética, criatividade e determinação”, afirma Andrea Dunningham, do iDigo. 

Além de divulgar oportunidades dos mais diferentes setores, os recursos de Internet permitem o surgimento de novas funções, como analista de redes sociais. Uma série de perfis no Twitter informa vagas, porque empresas necessitam de um profissional que administre suas contas, divulgue conteúdo e monitore as ações. 

Mas é preciso cuidado ao criar e administrar um perfil. Fotografias, comentários e até participação em comunidades podem influenciar na contratação de um funcionário. É bom lembrar o caso da canadense Nathalie Blanchard, que recebeu licença e outros benefícios ao alegar à seguradora que estava com depressão. Mas fotos de Nathalie em festas e comemorações com amigos foram vistas no Facebook pela agência, que parou de pagar o benefício, ao alegar que ela estava bem e já poderia voltar a trabalhar.

Empresas estão cada vez mais conectadas às redes sociais. Como apresentar um bom currículo já não é o suficiente para conseguir um bom emprego, é necessário estar atento ao conteúdo, à exposição e à linguagem.
POR LEILA SOUZA LIMA
O Dia

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