Atriz encontrou no palco o conforto que precisava para o sofrimento com a morte do filho Rafael, mas reconhece que a vida a amputou
Rio - A rotina de Cissa Guimarães tem sido difícil, muito difícil — como ela mesma diz — desde que perdeu o filho, Rafael Mascarenhas, de 18 anos, há quase três meses. “A pior coisa que podia acontecer a um ser humano aconteceu comigo. A vida me amputou”, define a atriz, que encontrou no palco da Sala Tônia Carrero, do Teatro Leblon, um alento para seu sofrimento. É lá que, de quinta a domingo, ela recarrega suas baterias com a Beatriz da peça ‘Doidas e Santas’. “É o que está me salvando”, diz..
Cissa Guimarães tenta se recuperar de uma tragédia
Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Menos de um mês após a morte de Rafael, Cissa, muito fragilizada, decidiu retomar o espetáculo, baseado no texto homônimo de Martha Medeiros, “para não enlouquecer”. “Eu acho que se deixasse de subir no palco, ia morrer afogada. A sensação que tenho até hoje é de falta de ar. Minha família e meu teatro são a bomba de oxigênio”, entrega ela, que está reconfigurando seus conceitos. “Talvez eu não consiga mais gargalhar e achar graça nas coisas como antes. Eu sou alegre, tenho um pacto com a felicidade. Mas sofrimento é purificação. Vou elaborar o que aconteceu comigo, me interiorizar mais, trabalhar muito”, avisa ela.
Cissa confirma que daqui a um mês voltará a ser a garota que quebra o coco, mas não arrebenta a sapucaia. “Vou voltar a fazer matérias para o ‘Video Show’. Fiz uma entrevista com a Rita Lee, foi ótimo. Recebi um convite maravilhoso para fazer novela. Só estou esperando para ver se consigo conciliar as datas com a peça. Ainda tenho um longo percurso”, explica ela, que acaba de comemorar as primeiras 100 apresentações.
Desde que estreou, em abril, ‘Doidas e Santas’ virou um hit dos palcos cariocas. Aos sábados, são duas sessões devido à grande procura. Hoje, por ser véspera de feriado, também será encenada. “A Beatriz me acolhe. Durante uma hora e meia, com a bênção do meu filho Rafael, que adorava esse espetáculo, estou acolhida”, diz Cissa, que, na verdade, também se chama Beatriz (Beatriz Gentil Pinheiro Guimarães). “Pedi a Regiana Antonini, que adaptou a peça, para botar esse nome. Beatriz é aquela que traz a alegria”, conta a atriz.
Na peça, ela vive uma psicanalista que decide se separar após 20 anos de casamento. “Eu já me casei três vezes. A última separação foi em 2003. Estou vivendo um momento muito delicado. Queria ter uma relação bem séria. Não aguento mais as paixões. Quero beijo na boca e tudo que tenho direito, mas com um companheiro”, revela ela, que está fechada para balanço no momento. “Estou trabalhando o luto na análise. Nada mais me assusta. Meu filho me deu mais coragem”, analisa emocionada.
A batalha diária da atriz envolve até conversas com Rafael. “Eu sou muito espiritualizada. Sinto a presença dele. Falo alto com ele. Já sonhei com ele. Mas nunca mais vou conseguir abraçá-lo. Eu estou manca, mas tenho uma bengala, vou aprender a andar assim. Vou ser feliz de novo”, promete
O Dia
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