10.10.2010

Grifes famosas apostam na versão mirim para atrair pais e filhos

Rio - Quem nunca se aventurou pelo armário da mamãe e experimentou maquiagens, roupas, sapatos e acessórios sem ser visto? Agora, desfilar com peças de adultos deixou de ser brincadeira de criança. Marcas famosas estão levando a sério a travessura infantil e investem em linhas com modelagens e tamanhos para os consumidores mirins.

E não é que a brincadeira já ganhou o gosto dos clientes? Há seis anos, Angela Nogueira, 27 anos, não abre mão de levar as filhas, Larissa, 12, e Andressa, 6, às compras na loja Carmen Steffens, do Norte Shopping. Geralmente, as três levam para a casa os mesmos modelos.
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Isabella Pires, 8 anos, gosta de copiar as cores e o estilo das roupas da mãe, Regina Rocha | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
“Elas adoram. Até meu filho de 9 anos costuma usar a mesma moda do pai”, conta a mãe, que todo o mês confere novidades com as meninas. 

Sócio da grife masculina Foxton, Rodrigo Ribeiro conta que a ideia da moda “tal pai, tal filho” surgiu a pedidos dos próprios adultos. “Desenvolvemos uma estampa e a procura foi tanta que hoje já temos cinco modelos de camisetas com modelagem infantil e pretendemos ampliar o mix”, antecipa.

De olho nesse sucesso, a Enjoy desenvolveu a linha Enjoyzinha, para consumidoras de 4 a 10 anos. A marca pretende aumentar em 8% as vendas com a nova linha. 

Regina Rocha e a filha Isabella, 8 anos, confessam que saem combinando. “Ela gosta de seguir o meu estilo, especialmente nas cores e batinhas ”, diz a mãe. 

Designer, Samanta Baroni revela que hoje a brincadeira se inverteu. “A mães ficam alucinadas com as peças infantis e querem ter itens das filhas”, diverte-se.

Salão de beleza oferece dia de princesa com descontos para as meninas

Em homenagem ao Dia das Crianças, o salão Fashion Mix, no Shopping Barra Point, localizado na Barra da Tijuca, preparou uma surpresa especial para as mocinhas. Quem for ao local para cortar o cabelo, fazer maquiagem e embelezamento de mãos poderá brincar no Wii e no Playstation, além de cantar no karaokê e acessar a Internet. Há ainda uma mesa repleta de gostosuras, como brigadeiros, balas e jujubas, disponíveis para as meninas.

Os pais das pequenas vaidosas que toparem negociar a troca do presente de Dias das Crianças por uma tarde de festa no salão de beleza vão pagar R$ 69. A oferta especial é válida apenas para o mês de outubro. 

Hidratações, apliques, alisamentos, unhas decoradas, tatuagens de henna, limpeza de pele, máscara facial para acne e até massagens — tudo para crianças e adolescentes. O Fashion Mix atende ao público a partir dos quatro anos de idade. “Todos os profissionais são especializados em tratamentos infantis e seguem os cuidados necessários. Mesmo que a criança peça, não fazemos tratamentos agressivos”, assegura a proprietária, Joana Wolff.

Rua Teresa e Saara Teen

Nos shoppings a céu aberto do Centro do Rio e de Petrópolis, também é possível seguir a moda “tal pai, tal filho”. Algumas marcas já investem na tendência e, o melhor, com peças a preços de fábrica: até 50% mais em conta.

“Na Saara, as marcas já estão vendendo linhas de adulto com modelagem infantil. As peças contam com preços até 40% mais baratos que nos shoppings”, diz Ênio Bittencourt, presidente da associação de lojistas da Saara.

A moda adulto/infantil ainda não subiu a Serra, mas as mil lojas que compõem a conhecida Rua Teresa têm itens para o público teen que seguem padrões de moda adulta.

“As lojas ainda não trabalham com as duas coleções, mas os clientes encontram produtos com tamanhos para crianças inspirados em peças de adultos. Os preços são 50% menores”, afirma Marcelo Fiorini, presidente da Associação de Lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis. 

‘Adultos em miniatura’

Apesar de engraçadinha, a brincadeira de se vestir e fazer programas de adultos deve ser vista com cautela pelos pais. Psiquiatra da infância e da adolescência, Fábio Barberato alerta para os riscos de se criar adultos em miniatura. 

“O pai deve deixar a criança ser criança. A infância precisa ser tratada como tal, sem grandes responsabilidades ou preocupações. Senão, voltamos ao Século 17, quando a infância não era tratada com respeito e cuidado”, ressalta o médico, chefe de Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia. 

Para Barberato, se a opção de se vestir e agir como a mãe ou o pai partir da própria criança, a família não deve estimular o comportamento. Outra dica é ter moderação ao liberar programas adultos. 

“A criança deve se vestir e ter atitudes compatíveis com sua idade. Mas, acima de tudo, ela precisa ter a opção de escolha. Quando o pai passa a dirigir as ações do filho, ele compromete seu desenvolvimento”.

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