12.30.2010

Quefir: basta um copo por dia

De nome estranho, o quefir, punhado de bactérias e leveduras benfeitoras reforça o batalhão de defesa no intestino, apaga inflamações e combate problemas de pele

Nas nossas primeiras semanas de vida, o intestino é habitado por cerca de 500 espécies de micro-organismos que ajudam na digestão e lutam contra agentes que causam doenças. Com o envelhecimento, o estresse e a alimentação incorreta, esse exército é desfalcado e se reduz a 30 divisões, por assim dizer. Para recuperar as várias tropas de choque, no entanto, há quem aposte em uma solução: ingerir bactérias e leveduras benéficas do quefir.

Trata-se de um punhado de grãos formados por mais de 50 espécies de bichinhos pró-saúde. Eles são colocados no leite, no qual fermentam. Logo em seguida, são coados — e podem ser usados de novo porque, dizem, os micróbios se renovam sem perder suas propriedades. “Mas a bebida retém parte dos micro-organismos, que, ao serem ingeridos, repõem a flora intestinal e agem como laxantes naturais”, diz a farmacêutica Márcia Barreto Feijó, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Segundo alguns estudos, as mesmas bactérias produziriam uma espécie de açúcar capaz de estimular o sistema imunológico a fabricar substâncias para combater inflamações.

“Puro, o leite fermentado com quefir se assemelha ao iogurte natural quanto a sabor, aroma e consistência”, garante Raquel Teresinha Czamanski, pesquisadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves, no interior do estado. E, à base dele, podem ser feitos queijos, vitaminas e sobremesas. Mas, segundo Márcia Feijó, não basta adicionar o quefir a qualquer leite para seus micróbios se proliferarem pra valer. De acordo com um trabalho conduzido por ela, o tipo desnatado é a melhor opção. “O número de bactérias láticas aumenta quando há um menor nível de gordura”, diz. Sem falar que essa alternativa é menos calórica, já que as variantes integrais e de soja possuem mais que o dobro de proteínas e lipídeos.

Os grãos de quefir foram descobertos na região do Cáucaso, localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, nos limites entre a Europa e a Ásia, há 4 mil anos. Suas bactérias sempre se proliferam e os grãos encontrados hoje são descendentes diretos dos originários. Não se sabe ao certo as condições climáticas que propiciaram a união de tantos micro-organismos do bem e por isso é difícil reproduzi-los em laboratório. Fora esse obstáculo, há outro motivo para o quefir ainda não ter chegado às prateleiras dos supermercados. As bactérias transferidas para o leite fermentam continuamente, produzindo gases. Imagine esse processo em um recipiente fechado por meses a fio: a embalagem se destruiria com tamanha pressão.

No entanto, uma descoberta de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITP) cria esperanças de que, em breve, sua industrialização se torne realidade. “Isolamos oito microorganismos do quefir e conseguimos a estabilidade de pressão nos produtos finais”, afirma Djalma Marques, coordenador do Laboratório Nacional de Probióticos do ITP. Ou seja, haverá uma menor produção de gases.

Segundo o pesquisador, o isolamento de um número de bactérias reduzido não diminui tanto as propriedades do leite, mas garante que as embalagens não se rompam. Por enquanto, os produtos feitos no ITP só podem ser comprados no próprio laboratório. É também no ITP que os poderes do quefir para a pele vêm sendo avaliados. O mecanismo não está esclarecido, mas os pesquisadores perceberam que os micro-organismos potencializam o efeito de produtos naturais contra queimaduras e dermatites.

A maneira mais simples de conseguir os grãos, ainda hoje, é por doação. Foi assim que a catarinense Sueli Quadros, de 44 anos, conheceu o quefir. “Minha bisavó migrou da Alemanha para Santa Catarina quando eu tinha 10 anos e trouxe uma porção, que dividiu com os netos”, lembra a secretária, que hoje mora em Curitiba. Para quem não conhece doadores, é possível encontrá-los pela internet. O fundamental é buscar fontes confiáveis. O site http://tinyurl. com/quefir, por exemplo, reúne doadores de todas as regiões do país.
Os grãos povoados de bactérias e leveduras do quefir, ao fermentarem essa bebida, a tornam levemente ácida. Ela então pode, inclusive, ser consumida por quem tem intolerância à lactose. Isso porque, durante a fermentação, esse açúcar vai embora.

Água
Quando o quefir é fermentado na água com açúcar mascavo, o resultado é o que os especialistas chamam de tibico. A mudança de substrato favorece o surgimento de um novo grupo de micro-organismos. O produto final também traz benefícios ao sistema gastrointestinal, mas seu sabor é amargo, e o uso, restrito por causa do açúcar.

COMPARE

LEITE FERMENTADO: as espécies de lactobacilos se resumem a uma ou duas. É uma ótima opção para intolerantes à lactose

IOGURTES PROBIÓTICOS: conta com bactérias como as do quefir, mas em geral duas ou três espécies. Têm a vantagem de ser comercializados em larga escala

COALHADA CASEIRA: também possui micróbios do bem, mas em pequena quantidade. Chega a ser seis vezes mais digerível que o leite integral

LEITE QUEFIRADO: possui mais de 50 micro-organismos, sendo que pelo menos 20% deles podem ajudar na reposição da flora intestinal
 Revista Saúde

2 comentários:

eli eliane deckert disse...

Gostaria de saber onde consigo a semente de kefir?

Antonio Celso da Costa Brandão disse...

A maneira mais simples de conseguir os grãos, ainda hoje, é por doação. Foi assim que a catarinense Sueli Quadros, de 44 anos, conheceu o quefir. “Minha bisavó migrou da Alemanha para Santa Catarina quando eu tinha 10 anos e trouxe uma porção, que dividiu com os netos”, lembra a secretária, que hoje mora em Curitiba. Para quem não conhece doadores, é possível encontrá-los pela internet. O fundamental é buscar fontes confiáveis. O site http://tinyurl. com/quefir, por exemplo, reúne doadores de todas as regiões do país.