E o que é um alimento realmente orgânico? Esses produtos estão cada vez mais presentes na mesa de quem busca um modo de vida saudável. Mas nem sempre o que está estampado nos rótulos pode corresponder à realidade
O problema é que não há nenhum tipo de regra sobre a fabricação desses produtos no país, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. E por causa da falta de parâmetros cada empresa adota os critérios que bem entender. A Wickbold, marca líder no mercado, baseiase numa resolução já revogada pela Anvisa que, em suma, define o pão integral como aquele “preparado (...) com farinha de trigo e farinha de trigo integral ou fibra de trigo e ou farelo de trigo”. Sandra Sernaglia, gerente de marketing da empresa, reconhece que a definição é meio vaga. “Utilizamos a farinha de trigo refinada, fortificada com ferro e ácido fólico e incorporamos a fibra de trigo”, diz ela.
O grupo Bimbo, das marcas Pullman, Vita Plus e Nutrella, segue os preceitos da Whole Grains Council, organização que certifica por meio de um selo produtos integrais nos Estados Unidos. De acordo com suas normas, a massa do pão integral deve conter 51% de farinha... integral. A falta de regras específicas no setor é algo possível de ser resolvido. “Uma mobilização da sociedade civil pode levar às autoridades
PARA AVALIAR UM PÃO INTEGRAL
A dica é sempre ficar de olho no rótulo. Quanto mais fi bra houver em uma porção do alimento, mais integral ele é de verdade. Exemplo: em determinadas marcas, há o equivalente a 4,8 gramas de fi bra em 1 fatia e meia do pão. Já em outras versões integrais, você encontrará apenas 3,4 gramas da substância na mesma porção.
• Pão branco 1,3g de fibra alimentar
• Pão integral 3,4g de fibra alimentar
• Pão integral feito com multigrãos 4,8g de fibra alimentar
Fica patente qual deles ganha nesse quesito.
A diferença nutricional entre alimentos orgânicos e convencionais não é relevante. Mas atenção! Quem precisa seguir uma dieta com restrições de colesterol deve ficar atento. A quantidade de gordura das carnes orgânicas comuns, por exemplo, é idêntica
Na Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Rio de Janeiro há até um inquérito civil que apura esse vácuo nas normas de produção dos integrais no Brasil. “O objetivo é fazer com que o consumidor seja devidamente informado sobre a quantidade de farinha integral existente nesses alimentos”, diz o promotor Pedro Rubim Borges Fortes.
Já os alimentos orgânicos são cultivados sem agrotóxicos ou fertilizantes sintéticos. “Só pelo fato de não conterem produtos químicos, eles são excelentes escolhas”, diz Maria Aquimara Zambone. No caso da carne orgânica, os animais precisam ser criados em pastagens isentas de contaminantes químicos, além de receberem cuidados específicos, como tratamento homeopático. Outro exemplo são os ovos. As galinhas poedeiras precisam de um repouso mínimo de oito horas, com luzes apagadas.
A legislação para a produção desses alimentos é nova. Por isso agricultores e pecuaristas teriam até o fi nal de 2010 para se adequar às regras estabelecidas pelo Ministério da Agricultura. A partir de agora, janeiro de 2011, nenhum orgânico poderá ser vendido sem o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica — SisOrg. Para conseguir a certifi cação, o agricultor necessitará, entre outras coisas, preservar a qualidade do solo, da água e do ar. Transgênicos, nem pensar. A alimentação dos animais para abate também precisa ser orgânica — e eles devem ter um espaço físico mínimo para se instalarem. Há ainda o compromisso pela redução no uso da energia não renovável, sem falar na destinação responsável de resíduos.
Mas as exigências não giram em torno somente das técnicas agropecuárias. As condições dos trabalhadores são outro ponto observado. Todos os envolvidos no processo, da produção à comercialização, passando pelo transporte e pelo armazenamento, obedecem às mesmas regras. Caso contrário, o produto não recebe o selo. “Trata-se de uma garantia para o consumidor, um sinal de que a produção foi monitorada”, diz o engenheiro agrônomo Marcelo Laurino, coordenador da Comissão de Produção Orgânica do Ministério da Agricultura em São Paulo. Com tantas informações em mãos, você, com certeza, fará boas compras!
O QUE TEM DE NATURAL...
..em um sanduíche natural? Somente as folhas de alface e as rodelas de tomate que entram na sua receita. De resto, esse sanduba leva, além do pão, maionese, frios, pasta de atum ou frango, que, segundo a nutricionista Lis Proença, do Instituto do Coração de São Paulo, “podem, no máximo, ser ingredientes na versão light”. Ou seja, esse sanduíche é naturalmente uma bomba de gordura e calorias.COMO IDENTIFICAR UM PRODUTO ORGÂNICO
Agora, o alimento só recebe esse carimbo se atender a certas regras. Além do selo de certifi cação, o consumidor deve fi car atento também à lista de ingredientes. A legislação estipula uma quantidade mínima de itens orgânicos, informação que deve estar no rótulo.
DO CULTIVO AO SUPERMERCADO COMO IDENTIFICAR UM PRODUTO ORGÂNICO
Tudo o que é preciso para um alimento ser classifi cado como orgânico
LEIS TRABALHISTAS
O produtor deve respeitar todos os direitos trabalhistas, garantir benefícios e não explorar o trabalho infantil.
NADA DE AGROTÓXICOS
Tem de comprovar, também, que o solo está livre de agentes contaminantes, seja para o plantio, seja para pastagem.
TRANSPORTE EXCLUSIVO
Dessa forma, evita-se qualquer risco de contaminação.
ARMAZENAMENTO
Nos pontos de venda, os produtos orgânicos devem ficar em prateleiras próprias e identifi cadas.
+ de 95%
de ingredientes orgânicos. O produto industrializado recebe o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, o SisOrg. Ou seja, ele é orgânico.
de70 a 90%
A embalagem pode informar que o produto apenas contém ingredientes orgânicos.
até 70%
Abaixo dessa taxa, o Ministério da Agricultura não considera o produto orgânico.
SELO ORGÂNICO
A partir de janeiro de 2011, o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg) é obrigatório nos produtos oferecidos como orgânicos. O Ministério da Agricultura é o responsável pela certifi cação, inclusive das empresas que poderão emitir um selo semelhante.
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