Higienópolis contra o mundo
Veja o caso da mudança da estação do metrô em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo entre o Centro e a Paulista.
Moradores e empresários locais são contra a instalação de estação do metrô na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, onde há décadas funciona uma loja da rede de supermercados Pão de Açúcar.
A pressão da comunidade, sim, "ricos" também formam comunidades com direitos iguais às outras comunidades segundo a Constituição brasileira, pode ter influído na decisão do Metrô de mudar a estação do bairro habitado por eles para perto do estádio do Pacaembu.
Isso gerou em alguns uma reação histérica, preconceituosa e errada no mérito. Como se os moradores locais, apenas por terem renda mais elevada que a média, não pudessem ter voz no destino de seu próprio bairro.
Morei muito perto dessa esquina por muitos e muitos anos. Meus pais ainda moram lá. Posso falar com propriedade que a mudança de local da estação faz bastante sentido. Já está sendo construída uma estação ali perto, no colégio e universidade Mackenzie, a poucas quadras.
Faz mais sentido a nova estação atender à região do Pacaembu (com os enormes fluxos ao estádio, à universidade Faap, aos bairros do Pacaembu e das Perdizes) do que replicar uma estação a poucas quadras em Higienópolis.
E a loja do Pão de Açúcar pode não ser arquitetonicamente relevante, mas ela há décadas faz parte da vida cotidiana do Alto Higienópolis, é peça fundamental do corpo vivo do bairro e perdê-la seria descaracterizá-lo um pouco.
A associação de moradores de Higienópolis já se equivocou antes, quando atacou a construção de shopping no bairro, que ao final trouxe serviços e valorização à região. Mas desta vez ela parece ter razão.
A pegada histórica de nossas elites tem episódios arrepiantes. Colonialismo, escravismo, autoritarismo, extrativismo humano, desigualdade extrema. Os pobres de fato sempre foram oprimidos, reprimidos, explorados, forçados à ignorância, ao silêncio, à miséria.
Mas isso também está mudando. Sob Lula, e esse foi seu grande legado, aprendemos que o capitalismo é bom para todos. O Brasil encontrou seu caminho justamente quando ricos e pobres começaram a enriquecer juntos.
Nascem uma nova elite e novos ricos. Balzac dizia que atrás de toda fortuna havia um crime. Mas isso foi no século 19. Estamos no século 21, pós Lula e FHC, pós-consenso capitalista.
Ser rico no Brasil não é mais só pecado, é também virtude.
Justiça para todos.
Nota"boaspraticasfarmaceuticas":
Uma vergonha, um total descalabro a retirada da estação do metro do bairro de Higienópolis onde mora o FHC. Como disse um famoso jornalista "tucanaram" os pobres de São Paulo, agora eles são chamados de pessoas diferenciadas, que não podem chegar ao bairro de higienópolis de metro.
Após protestos, governo de SP desiste de metrô na Angélica
Moradores de Higienópolis se mobilizam contra estação
Reportagem da Folha de hoje mostrou que a decisão ocorreu após pressão de moradores, empresários e comerciantes da região. A estação da linha 6-Laranja deve ser construída na praça Charles Miller, no estádio do Pacaembu.
No Twitter (rede de micrblogs), o assunto entrou nos tópicos mais comentados do país desde a manhã. "É tão fácil resolver esse problema do metrô em Higienópolis, gente: faz uma entrada social e uma de serviço. Pronto", escreveu Luisa Tieppo em seu perfil.
Outros usuários abusaram da ironia para criticar a mudança. "Já posso comprar uma passagem para o país de Higienópolis? Eu gosto de ver riqueza. Não me misturo com esse povinho do restante do Brasil", afirmou Guilherme Navarro.
Já Rodrigo Martins provocou: "Higienópolis e Pacaembu não querem metrô? Bota uma estação lá na minha saudosa Vila Quaquá!".
"Dá vergonha ver a cidade abrir mão de uma estação de metrô na região central por causa de 3.500 higienopolitanos. Mas a linha é pra quando, 2100?", questionou Tiago Marconi.
CHURRASCO
No Facebook a piada foi além e promete sair da esfera virtual. Um usuário marcou um churrasco da "gente diferenciada", em alusão a uma frase dita por uma moradora à reportagem da Folha em agosto do ano passado.
Até por volta das 18h10, mais de 11.300 pessoas haviam "confirmado presença" no evento pela rede social.
A postagem diz que o churrasco vai acontecer no sábado (14), a partir das 14h, em frente ao shopping Higienópolis. O organizador pede que sejam levadas "cadeiras de praia, cachaça, farofa e som portátil".
Conheço Higienópolis, tenho bons amigos que residem ali. Frequento as ótimas padarias no bairro, adoro a praça Buenos Aires. Qualquer pessoa que circula por aquelas ruas arborizadas percebe a riqueza na elegancia dos automóveis, nos edifícios imensos, no cardápio de restaurantes, no luxo das lojas.
Num país como o nosso, a prosperidade de Higienópolis sempre foi um convite aos discursos adolescentes sobre a desigualdade e os privilégios no Brasil.
Mas acabo de saber que 3.000 moradores do bairro decidiram dar uma contribuição voluntária e inesquecível para ampliar a distancia entre ricos e pobres de São Paulo. Eles organizaram um movimento para impedir a construção de uma estação do metrô naquele lugar. Pior: informadas do pedido, as autoridades responsáveis pelo metrô decidiram atendê-lo prontamente.
Não dá para acreditar: a população pobre implora para ter metrô perto de casa. Os moradores de Higienópolis fazem o contrário. Mas, enquanto a população pobre quase nunca recebe o que quer, a turma de Higienópolis consegue definir o traçado do transporte público ao sabor de suas conveniencias, numa demonstração de que, além de fortunas, em Higienópolis também se possui muito poder.
Infelizmente, nem todas as pessoas que moram e frequentam Higienópolis estão em condições de dispensar uma melhoria no transporte coletivo.
Como nós sabemos, a riqueza pode não valorizar a própria criadagem, mas não costuma viver sem ela. Precisa de braços alheios para a fazer o almoço, limpar a casa, dirigir automóveis e buscar crianças na escola.
Higienópolis tem um considerável número de escolas e agências bancárias e só o shopping center do bairro exibe uma imensa fila de funcionários todas as manhãs, quando balconistas, faxineiros, e trabalhadores que cumprem tarefas variadas dão início a jornada de trabalho. Quem anda por Higienópolis só precisa olhar para os imensos apartamentos vendidos por vários milhões de reais para imaginar quantas arrumadeiras, cozinheiras, babás, porteiros, motoristas e seguranças e guarda-costas prestam serviço por ali.
Para essas pessoas, a alternativa será virar-se com aquilo que a cidade já oferece hoje — ou utilizar uma estação vizinha, em frente ao estádio do Pacaembu. A diferença é que, entre o estádio e o bairro, há uma boa distância geográfica e um incômodo adicional — a ladeira da Fundação Armando Álvares Penteado. Que azar!
Confesso que o mais decepcionante, neste episódio, é ler no jornal as explicações dos líderes do movimento. Eles temem a degradação do bairro. Traduzindo: o metrô vai trazer a ralé, com ela virá a violencia, a sujeira, o crime, o roubo…
(Sempre foi impossível demonstrar fenômenos desse tipo com estatísticas sérias mas os estereótipos e os preconceitos não precisam de base científica para circular. Precisam de sentimentos.)
Eu acho que a degradação de um bairro — de uma cidade, de um país — começa quando aqueles que tem muito são incapazes de compreender as necessidades de quem tem muito menos. Rompe-se, aí, um pacto silencioso entre cidadãos diferentes que conseguem manter uma convivência que, mesmo desigual, inclui lealdade e respeito pelas necessidades do outro. Não se cometem abusos, ninguém dá golpe baixo.
A rejeição ao metrô estimula o ressentimento e humilha os que estão por baixo. Também envergonha quem acredita que a igualdade é um dos objetivos nobres do progresso humano. Equivale aquela atitude do empresário que faz o possível para driblar direitos dos empregados e da dona de casa que dá um tratamento desumano a suas funcionárias domésticas.
E é curioso que a presença dos pobres torne-se especialmente incômoda num bairro de pessoas ricas, neste momento.
Todas as estatísticas demonstram uma queda nos principais índices de criminalidade da cidade e uma melhoria na condição de vida dos mais pobres, que tem mais emprego, dedicam-se mais ao estudo, pensam com mais esperança no futuro.
Estranho, não?
O Brasil ama odiar as tais "elites". Elas são, a priori, culpadas por todas as mazelas do país. Um populismo ingênuo que precisa ser superado. Num país como o nosso, a prosperidade de Higienópolis sempre foi um convite aos discursos adolescentes sobre a desigualdade e os privilégios no Brasil.
Mas acabo de saber que 3.000 moradores do bairro decidiram dar uma contribuição voluntária e inesquecível para ampliar a distancia entre ricos e pobres de São Paulo. Eles organizaram um movimento para impedir a construção de uma estação do metrô naquele lugar. Pior: informadas do pedido, as autoridades responsáveis pelo metrô decidiram atendê-lo prontamente.
Não dá para acreditar: a população pobre implora para ter metrô perto de casa. Os moradores de Higienópolis fazem o contrário. Mas, enquanto a população pobre quase nunca recebe o que quer, a turma de Higienópolis consegue definir o traçado do transporte público ao sabor de suas conveniencias, numa demonstração de que, além de fortunas, em Higienópolis também se possui muito poder.
Infelizmente, nem todas as pessoas que moram e frequentam Higienópolis estão em condições de dispensar uma melhoria no transporte coletivo.
Como nós sabemos, a riqueza pode não valorizar a própria criadagem, mas não costuma viver sem ela. Precisa de braços alheios para a fazer o almoço, limpar a casa, dirigir automóveis e buscar crianças na escola.
Higienópolis tem um considerável número de escolas e agências bancárias e só o shopping center do bairro exibe uma imensa fila de funcionários todas as manhãs, quando balconistas, faxineiros, e trabalhadores que cumprem tarefas variadas dão início a jornada de trabalho. Quem anda por Higienópolis só precisa olhar para os imensos apartamentos vendidos por vários milhões de reais para imaginar quantas arrumadeiras, cozinheiras, babás, porteiros, motoristas e seguranças e guarda-costas prestam serviço por ali.
Para essas pessoas, a alternativa será virar-se com aquilo que a cidade já oferece hoje — ou utilizar uma estação vizinha, em frente ao estádio do Pacaembu. A diferença é que, entre o estádio e o bairro, há uma boa distância geográfica e um incômodo adicional — a ladeira da Fundação Armando Álvares Penteado. Que azar!
Confesso que o mais decepcionante, neste episódio, é ler no jornal as explicações dos líderes do movimento. Eles temem a degradação do bairro. Traduzindo: o metrô vai trazer a ralé, com ela virá a violencia, a sujeira, o crime, o roubo…
(Sempre foi impossível demonstrar fenômenos desse tipo com estatísticas sérias mas os estereótipos e os preconceitos não precisam de base científica para circular. Precisam de sentimentos.)
Eu acho que a degradação de um bairro — de uma cidade, de um país — começa quando aqueles que tem muito são incapazes de compreender as necessidades de quem tem muito menos. Rompe-se, aí, um pacto silencioso entre cidadãos diferentes que conseguem manter uma convivência que, mesmo desigual, inclui lealdade e respeito pelas necessidades do outro. Não se cometem abusos, ninguém dá golpe baixo.
A rejeição ao metrô estimula o ressentimento e humilha os que estão por baixo. Também envergonha quem acredita que a igualdade é um dos objetivos nobres do progresso humano. Equivale aquela atitude do empresário que faz o possível para driblar direitos dos empregados e da dona de casa que dá um tratamento desumano a suas funcionárias domésticas.
E é curioso que a presença dos pobres torne-se especialmente incômoda num bairro de pessoas ricas, neste momento.
Todas as estatísticas demonstram uma queda nos principais índices de criminalidade da cidade e uma melhoria na condição de vida dos mais pobres, que tem mais emprego, dedicam-se mais ao estudo, pensam com mais esperança no futuro.
Estranho, não?
Veja o caso da mudança da estação do metrô em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo entre o Centro e a Paulista.
Moradores e empresários locais são contra a instalação de estação do metrô na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, onde há décadas funciona uma loja da rede de supermercados Pão de Açúcar.
A pressão da comunidade, sim, "ricos" também formam comunidades com direitos iguais às outras comunidades segundo a Constituição brasileira, pode ter influído na decisão do Metrô de mudar a estação do bairro habitado por eles para perto do estádio do Pacaembu.
Isso gerou em alguns uma reação histérica, preconceituosa e errada no mérito. Como se os moradores locais, apenas por terem renda mais elevada que a média, não pudessem ter voz no destino de seu próprio bairro.
Rodrigo Capote/Folhapress | ||
Esquina da avenida Angélica com rua Sergipe, na região de Higienópolis; local iria receber estação do metrô (O governo de São Paulo já tratou de tirar a estação do metro deste bairro ) |
Faz mais sentido a nova estação atender à região do Pacaembu (com os enormes fluxos ao estádio, à universidade Faap, aos bairros do Pacaembu e das Perdizes) do que replicar uma estação a poucas quadras em Higienópolis.
E a loja do Pão de Açúcar pode não ser arquitetonicamente relevante, mas ela há décadas faz parte da vida cotidiana do Alto Higienópolis, é peça fundamental do corpo vivo do bairro e perdê-la seria descaracterizá-lo um pouco.
A associação de moradores de Higienópolis já se equivocou antes, quando atacou a construção de shopping no bairro, que ao final trouxe serviços e valorização à região. Mas desta vez ela parece ter razão.
A pegada histórica de nossas elites tem episódios arrepiantes. Colonialismo, escravismo, autoritarismo, extrativismo humano, desigualdade extrema. Os pobres de fato sempre foram oprimidos, reprimidos, explorados, forçados à ignorância, ao silêncio, à miséria.
Mas isso também está mudando. Sob Lula, e esse foi seu grande legado, aprendemos que o capitalismo é bom para todos. O Brasil encontrou seu caminho justamente quando ricos e pobres começaram a enriquecer juntos.
Nascem uma nova elite e novos ricos. Balzac dizia que atrás de toda fortuna havia um crime. Mas isso foi no século 19. Estamos no século 21, pós Lula e FHC, pós-consenso capitalista.
Ser rico no Brasil não é mais só pecado, é também virtude.
Justiça para todos.
Nota"boaspraticasfarmaceuticas":
Uma vergonha, um total descalabro a retirada da estação do metro do bairro de Higienópolis onde mora o FHC. Como disse um famoso jornalista "tucanaram" os pobres de São Paulo, agora eles são chamados de pessoas diferenciadas, que não podem chegar ao bairro de higienópolis de metro.
Internautas marcam churrasco em protesto a mudança de metrô em SP
Publicidade
DE SÃO PAULO
A desistência do governo estadual de fazer uma estação de metrô na avenida Angélica, na região de Higienópolis, bairro nobre do centro de São Paulo, virou motivo de piada nas redes sociais nesta quarta-feira. Internautas marcaram um churrasco para protestar contra a decisão (leia abaixo). Após protestos, governo de SP desiste de metrô na Angélica
Moradores de Higienópolis se mobilizam contra estação
Reportagem da Folha de hoje mostrou que a decisão ocorreu após pressão de moradores, empresários e comerciantes da região. A estação da linha 6-Laranja deve ser construída na praça Charles Miller, no estádio do Pacaembu.
No Twitter (rede de micrblogs), o assunto entrou nos tópicos mais comentados do país desde a manhã. "É tão fácil resolver esse problema do metrô em Higienópolis, gente: faz uma entrada social e uma de serviço. Pronto", escreveu Luisa Tieppo em seu perfil.
Outros usuários abusaram da ironia para criticar a mudança. "Já posso comprar uma passagem para o país de Higienópolis? Eu gosto de ver riqueza. Não me misturo com esse povinho do restante do Brasil", afirmou Guilherme Navarro.
Já Rodrigo Martins provocou: "Higienópolis e Pacaembu não querem metrô? Bota uma estação lá na minha saudosa Vila Quaquá!".
"Dá vergonha ver a cidade abrir mão de uma estação de metrô na região central por causa de 3.500 higienopolitanos. Mas a linha é pra quando, 2100?", questionou Tiago Marconi.
Reprodução/Facebook | ||
"Convite" de churrasco marcado em protesto contra mudança de estação de metrô em Higienópolis, centro de SP |
No Facebook a piada foi além e promete sair da esfera virtual. Um usuário marcou um churrasco da "gente diferenciada", em alusão a uma frase dita por uma moradora à reportagem da Folha em agosto do ano passado.
Até por volta das 18h10, mais de 11.300 pessoas haviam "confirmado presença" no evento pela rede social.
A postagem diz que o churrasco vai acontecer no sábado (14), a partir das 14h, em frente ao shopping Higienópolis. O organizador pede que sejam levadas "cadeiras de praia, cachaça, farofa e som portátil".
Nenhum comentário:
Postar um comentário