Nobel de Medicina: células IPS, a grande esperança contra doenças degenerativas
Cientistas britânico e japonês descobriram como reprogramar uma célula adulta para que ela volte a atuar como uma célula-tronco embrionária
AFP
As células IPS, que são células adultas reprogramadas para
rejuvenescer e recuperar as propriedades das células-tronco embrionárias
(ES), são uma esperança da medicina por seus potenciais terapêuticos.
No centro de pesquisas coroados pelo Prêmio Nobel de Medicina 2012,
as "células-tronco pluripotentes induzidas" ou "células IPS" têm sua
origem em uma célula adulta diferenciada, que retorna ao estado de
célula embrionária pluripotente, graças ao trabalho de engenharia
genética.
Na natureza, após a fecundação, o óvulo se divide e rapidamente
aparecem as células que dão origem a todos os tecidos do corpo. São as
células-tronco embrionárias pluripotentes que têm a capacidade para
gerar todos os tipos de células.
Porém, com o desenvolvimento do embrião, as células se especializam
e perdem a capacidade de se transformar em células com diferentes
funções (células nervosas, cardíacas, etc).
O britânico John Gurdon, um dos premiados com o Nobel em 2012,
descobriu, em 1962, que a especialização das células era reversível, ao
contrário do que se pensava antes, enquanto o outro vencedor, Shinya
Yamanaka, ainda não era nascido.
A equipe do japonês Yamanaka demonstrou em células de camundongo em
2006 e, em seguida, em células humanas em 2007, que podemos reprogramar
uma célula adulta para fazê-la recuperar as características de uma
célula-tronco embrionária.
As pesquisas de Yamanaka constituíram "uma descoberta
revolucionária real", entusiasmou-se Jean-Marc Lemaitre, do Instituto de
Genômica Funcional (Inserm).
Com estas novas células IPS, "você pode obter praticamente qualquer
tipo de célula do corpo", explica o pesquisador francês que tem usado
esta técnica para rejuvenescer células centenárias, e mostra que o
processo de envelhecimento é reversível.
As células IPS apresentam vantagens semelhantes às das
células-tronco embrionárias, mas não envolvem o problema ético
relacionado com a necessidade de manipular embriões.
As IPS podem ser uma fonte de células para fazer tudo, por exemplo,
testar novas drogas ou estudar doenças. Para a terapia celular
experimental, elas não levam o risco a priori de rejeição por parte do
corpo, porque vêm do próprio paciente.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer antes de assegurar a sua
total segurança. "Não há nenhuma aplicação clínica prevista desta
técnica avançada", ressaltou à AFP Marc Peschanski, diretor científico
do I-Stem (Instituto de Pesquisa com células-tronco - Inserm).
No entanto, em 2013 um teste clínico de "inocuidade" em Kobe, no
Japão, deve usar pela primeira vez esta técnica em um ensaio sobre a
retina em pacientes que sofrem de degeneração macular relacionada à
idade (DMRI). Além disso, uma outra linha de pesquisa está começando:
produzir em grande quantidade células IPS a partir de um pequeno grupo
de doadores que poderiam ser utilizadas para um grande número de
receptores.
Isto é
John Gurdon foi esponsável pelo pontapé inicial nas pesquisas com reprogramação celular ao clonar rãs em 1962. Gurdon mostrou que o DNA de células adultas tinha o potencial de produzir um novo organismo ao colocar o núcleo de células intestinais do batráquio em óvulos cujo núcleo tinha sido retirado. A técnica acabaria sendo usada para criar a ovelha Dolly em 1996. Já Yamanaka, em 2006, descobriu a “receita” de genes necessária para que células adultas voltassem ao estado embrionário sem precisar passar pela clonagem.
Yamanaka foi o responsável por criar o padrão usado por cientistas no mundo todo para trabalhar com as células iPS (sigla inglesa de “células-tronco pluripotentes induzidas”). Tais células são aparentemente tão versáteis quanto as células-tronco obtidas de embriões, ou seja, podem dar origem a qualquer um dos tecidos do organismo adulto. Têm, além disso, outras vantagens. Não é preciso destruir embriões para obtê-las, o que evita os debates éticos em torno da prática; e dá para obter versões delas geneticamente compatíveis com pessoas portadoras de doenças, bastando, para isso, reprogramar amostras de células da pele dessas pessoas, por exemplo. Isso ajuda a simular tais doenças com precisão em laboratório. E espera-se que, quando for viável o uso terapêutico das células iPS, elas não causem r ejeição nos pacientes por causa dessa compatibilidade genética, o que facilitaria a reconstrução de órgãos e tecidos.
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