10.13.2012

Um impulso para o coração

Estilo de vida saudável é a maior arma contra doenças cardiovasculares, que matam 17 milhões no mundo


Debate. Formas de prevenção e de tratamento de doenças cardiovasculares são discutidas por especialistas durante evento realizado no auditório da Casa do Saber
Foto: Fotos de Mônica Imbuzeiro
Debate. Formas de prevenção e de tratamento de doenças cardiovasculares são discutidas por especialistas durante evento realizado no auditório da Casa do Saber Fotos de Mônica Imbuzeiro
RIO - São principalmente nossas escolhas que aumentam ou diminuem os riscos de adquirir doenças cardiovasculares. Por isso, fazer mais exercícios físicos e ter alimentação mais equilibrada estão entre as principais recomendações de cardiologistas que participaram da sétima edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, na última quarta-feira, na Casa do Saber. Segundo os especialistas, o estilo de vida saudável é a principal arma no combate à enfermidade que mais mata no mundo, com cerca de 17,3 milhões de registros, 30% do total, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2030, as estimativas apontam para a morte de cerca de 25 milhões de pessoas por doenças do coração.
A necessidade de mudança de hábitos, no entanto, parece não mudar a cabeça de muitos brasileiros. Segundo dados levantados pelo cardiologista Cláudio Domênico, coordenador do evento, a situação é preocupante: cerca de 60% da população têm sobrepeso, 50% são sedentários, 40% têm colesterol alto, 30% são hipertensos, 17% fumam, 10% são diabéticos e poucos têm uma dieta realmente saudável. O avanço da ciência e do conhecimento sobre as causas das doenças cardiovasculares também não surtiram efeito. Pelo contrário. Uma pesquisa da revista "Lancet" comparou o perfil da sociedade brasileira de 1930 ao de 2008 e constatou que a mortalidade por essas complicações passou de 11% para 31%. Além disso, se em 1974 18% da população estavam acima do peso, em 2008 o percentual chegava a 50%.
Estresse, falta de sono e poluição contra o coração
— A industrialização e a globalização foram influenciando o estilo de vida para dietas menos saudáveis e para a inatividade física — comentou Domênico. — Por outro lado, existem os fatores que não são modificáveis, como sexo, idade e genética, e também são responsáveis por aumentar os riscos.
Segundo ele, outros fatores, não tão conhecidos, também podem ter relevância no aumento de incidência de doenças do coração, como, por exemplo, estresse, ansiedade, falta de relacionamentos, qualidade do sono e até a poluição ambiental.
O álcool é outro vilão das doenças cardiovasculares, daí a recomendação de beber com moderação. Mas, na realidade, o que é exatamente essa “moderação”?
— Se o paciente chegar e disser: "bebo socialmente, com moderação", ele está te enganando — brincou Domênico.
Ele se baseia numa pesquisa que compõe um banco de dados do governo americano, o “National Health Interview Survey — NHIS”, que mostra que somente 25% dos homens que bebem mais de três doses por dia têm a percepção de que bebem acima do limite. Isto porque a recomendação é bem menor: segundo o relatório “European Guidelines”, publicado este ano, o ideal é consumir até 20g de álcool por dia, no caso dos homens, o equivalente a 150ml de vinho ou uma taça; e 10g para mulheres, o mesmo que 75 ml de vinho. Enquanto isso, o Ministério da Saúde aponta que 18,9% da população brasileira exageram na bebida.
Há pesquisas que associam o bom desempenho do coração com o consumo de vinho. É o que explica o cardiologista Aristarco Siqueira Filho, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da UFRJ.
— Já foi provado que determinados vinhos tintos têm uma substância chamada polifenol, que tem sido documentada há vários anos como protetora do coração. Sabe-se que nestas dosagens preconizadas de duas taças para o homem e uma para a mulher, sempre com alimento, pode haver uma proteção maior do que quem não bebe nada. Se vai diminuir este limite ou não, na medicina é preciso muito bom senso — disse Siqueira, que, no entanto, ponderou sobre o consumo de bebidas alcoólicas. — O problema é que o álcool é extremamente tóxico ao músculo do coração, então é muito difícil que uma pessoa que tenha uma cardiopatia possa tomar álcool.
Dúvidas sobre tratamento de colesterol e hipertensão
O uso das estatinas (medicamentos para o controle do colesterol) suscitou dúvidas do público durante o debate. Alguns pacientes temem os efeitos colaterais associados ao uso prolongado dessas drogas. Segundo os especialistas, entre alguns dos possíveis efeitos, está uma alteração nas enzinas musculares, que pode causar miosite, ou seja, inflamação do músculo e consequentes dores. O sintoma, no entanto, é considerado normal e controlável pelos médicos, que só suspendem o remédio no caso de inflamações mais intensas, reveladas por exames. Além disso, o chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ), Denilson Albuquerque, afirmou que os avanços da tecnologia de medicamentos têm diminuído os efeitos colaterais.
— As estatinas são como automóveis: há várias gerações. Há aquele carro mais simples, que anda e chega no mesmo lugar que o mais sofisticado. Da mesma forma, à medida que as moléculas foram se aprimorando, os efeitos colaterais das estatinas foram diminuindo. Hoje existem até as estatinas de quarta geração. Quanto mais novas elas são, mais potentes. O especialista sabe para quem dar a estatina e qual é a melhor a ser utilizada, então não suspenda o remédio sem antes conversar com o seu médico — recomendou.
Considerada uma assassina silenciosa, a pressão arterial alta pode ser assintomática, quase 50% da população não têm sintomas comuns, como dores de cabeça, zumbido no ouvido, sangramento no nariz e palpitações. O uso de anti-hipertensivo de forma contínua é benéfico, desde que ele esteja controlando a pressão e não cause muitos efeitos colaterais.
— O médico precisa escolher o anti-hipertensivo para o paciente levando em conta a idadea e a presença de outros fatores, como doença renal e diabetes — explicou Aristarco Siqueira.


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