Num ambiente hostil e dominado pela
testosterona, o boxeador porto-riquenho Orlando Cruz, quarto melhor do
mundo na sua categoria, causa polêmica ao assumir sua homossexualidade
Paula Rocha
Confira, em vídeo, como ele não tem nada de suave no ringue :

[]
CORAGEM
Orlando Cruz, 31 anos, revelou em comunicado que tem orgulho de ser gay
Considerado um esporte violento, que exige muita habilidade e
resistência física de seus praticantes, o boxe sempre foi uma modalidade
caracterizada pela masculinidade. Nesse ambiente carregado de
testosterona e hostil a demonstrações de fraqueza, é preciso ter coragem
para assumir uma posição dissonante, como fez o porto-riquenho Orlando
Cruz. Aos 31 anos, o boxeador, quarto melhor do mundo na sua categoria, a
peso-pena, acaba de assumir que é homossexual. Em um comunicado, Cruz
disse: “Eu luto há 24 anos, e enquanto sigo em minha carreira
ascendente, quero ser honesto comigo mesmo. Eu tenho e sempre terei
orgulho de ser de Porto Rico. E eu tenho e sempre terei orgulho de ser
gay.” Com essa atitude, Cruz se tornou o primeiro boxeador da história a
revelar publicamente sua homossexualidade. Antes dele, apenas o
americano Emile Griffith, de 74 anos, que lutou nas décadas de 50 e 60,
tinha assumido ser bissexual – mas quando já havia abandonado os
ringues.
A notícia de que Cruz havia saído do armário logo se espalhou para além
do meio esportivo. Dois dias depois de ter manifestado publicamente sua
orientação sexual, o boxeador ganhou o apoio do cantor Ricky Martin,
também porto-riquenho, que em 2010 assumiu ser gay. Isso não evitou, no
entanto, críticas de fãs do esporte. No Twitter, um americano comentou
que Cruz “estragou toda a sua carreira” com essa revelação, e que, a
partir de agora, ele seria “o boxeador mais evitado de todos”.
Comentário que, felizmente, não reflete a opinião de todos os
admiradores do boxe, já que o lutador disse ter recebido os parabéns de
outros pugilistas e do público em geral. “Foi um ato de bravura”, diz a
professora Heloísa Reis, especialista em sociologia do esporte e
pesquisadora do centro de estudos avançados da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). “Especialmente por se tratar de um atleta de uma
modalidade tão viril quanto o boxe.”

Segundo Heloísa, culturalmente o meio esportivo é visto como um
reduto masculino, e o preconceito contra homossexuais no esporte provém
dessa ideia centenária. “A situação fica ainda mais complicada em países
menos desenvolvidos do ponto de vista dos direitos individuais, como o
Brasil”, diz. “Aqui já é complicado discutir sexualidade no ambiente
acadêmico e pior ainda no esportivo.” Cruz, que vive nos Estados Unidos,
agora se prepara para sua próxima luta, em 19 de outubro, na Flórida,
contra o mexicano Jorge Pazos.
Fotos: Dennis M. Rivera Pichardo/AP Photo ;
Stu Forster e Harry Engels/Getty Images
Nenhum comentário:
Postar um comentário