A politica das agressões
O candidato do PSDB à Prefeitura de São
Paulo, José Serra, esquece as propostas para a cidade, parte para o
ataque contra o concorrente do PT, Fernando Haddad, agride verbalmente
jornalistas e despenca nas pesquisas às vésperas do 2° turno
Pedro Marcondes de Moura e Alan Rodrigues
DESTEMPERO
A 17 pontos do petista Fernando Haddad, Serra se desespera e
passa a utilizar uma tática agressiva na reta final da campanha
Vendo que a distância para o concorrente Fernando Haddad (PT) aumenta
a cada nova pesquisa de intenção de voto, a uma semana do segundo turno
da eleição à Prefeitura de São Paulo, o candidato do PSDB, José Serra,
reedita a malfadada estratégia usada contra Dilma Rousseff na disputa
presidencial de 2010. Diante das projeções nada alvissareiras para ele –
o instituto Datafolha aponta uma vantagem de 17 pontos para Haddad –,
Serra passou a enxergar na tática das agressões a única forma de evitar a
derrota que parece se avizinhar. Destemperado e irascível no trato com
jornalistas e até correligionários, o tucano acionou a metralhadora
giratória nos últimos dias. Em atos públicos e, principalmente, nas
inserções de rádio e televisão, Serra desferiu uma série de ataques ao
oponente. Insistiu na tentativa de vincular Haddad aos réus do mensalão e
explorou de maneira equivocada a confecção do chamado “kit gay” pelo
petista durante sua gestão no Ministério da Educação.
“Isso não é combater homofobia, é uma espécie de doutrina. O problema
do kit gay é acima de tudo pedagógico”, declarou o candidato do PSDB. O
ataque se voltou contra ele próprio, quando o jornal “Folha de S.Paulo”
revelou, durante a semana, que material semelhante destinado a tentar
combater o preconceito a homossexuais havia sido distribuído em 2009,
pelo governo de Serra, para escolas públicas paulistas. Questionado
sobre a contradição, Serra tentou, em vão, diferenciar as duas
iniciativas, perdeu a cabeça e mergulhou sua campanha numa agenda
negativa na reta final da eleição.
Ataques a jornalistas Descontrolado, Serra agrediu verbalmente
jornalistas em três ocasiões. Na segunda-feira 15, indagado por uma
repórter do portal UOL se o tom mais agressivo de seu primeiro programa
do segundo turno guardava relação com a diferença então de dez pontos
percentuais em relação a Haddad nas pesquisas, disse que ela estava
ajudando a campanha petista. Na terça-feira 16, quando a mesma
profissional perguntou se o tucano concordava ou não com o uso de
materiais de combate à homofobia nas escolas, Serra esquivou-se de
responder e sugeriu que a repórter deveria ir trabalhar no comitê do PT.
Já em entrevista à rádio CBN, o ex-governador incomodou-se com questões
colocadas pelo jornalista Kennedy Alencar, a quem chamou de mentiroso e
acusou de fazer campanha para o adversário. A postura adotada pelo
tucano foi criticada por Soninha Francine, do PPS, candidata derrotada
no primeiro turno e apoiadora da campanha do PSDB. “Eu não concordo com
esse jeito dele de reagir. Mas, infelizmente, ele (Serra) é assim, não
tem paciência com a imprensa.” O resultado não poderia ser pior. Nos
últimos dias, as propostas para a cidade, que é o que importa para o
eleitorado, foram relegadas a segundo plano pelo candidato do PSDB. E
sua rejeição junto à população bateu incríveis 52%.
Na batalha pelo comando da capital paulista, José Serra parece mandar
às favas a premissa do marketing político segundo a qual “quem bate,
perde”. Pesquisa da empresa Controle da Concorrência aponta que, durante
o primeiro turno, o ex-governador gastou 16,57% de suas 4.874 inserções
no horário comercial televisivo em ataques ao adversário petista, mesmo
com a liderança de Celso Russomanno (do PRB) até as vésperas do pleito.
Foram 666 inserções endereçadas apenas a atacar Haddad e outras 142 que
citavam, além do ex-ministro da Educação, outros postulantes. No mesmo
período, Haddad destinou 7,75% do seu espaço a críticas ao adversário
tucano. O petista elencou como principais motes a renúncia de Serra ao
cargo de prefeito em 2006 e a administração do prefeito Gilberto Kassab,
considerada ruim ou péssima por 42% dos eleitores. O coordenador-geral
da campanha tucana, o deputado federal Edson Aparecido, tenta minimizar
os efeitos da estratégia, que, até agora, se revela equivocada. “Mostrar
as falhas de Haddad no comando do Ministério da Educação é discutir a
capacidade dele de gerir uma cidade como São Paulo”, diz Aparecido.
“Isso não pode ser confundido com agressividade. Faz parte de qualquer
campanha”, comenta.
Tática de risco Para o consultor político Gaudêncio Torquato, no
entanto, trata-se de uma tática muito arriscada e que, normalmente, não
gera resultados. “Em grandes centros urbanos, os ataques pessoais,
acusações ou tentativas de destruir a imagem de candidatos não costumam
produzir resultados. Apenas reforçam a opinião daqueles que já são
eleitores deste ou daquele partido”, comenta o professor da Universidade
de São Paulo (USP). Segundo Torquato, o eleitor, em geral, prefere uma
campanha baseada em propostas. “O eleitorado quer uma campanha
propositiva em que o candidato se mostre capaz de solucionar os
problemas da cidade”, analisa. Para o estudioso, o único ataque capaz de
alterar votos é aquele que consegue desconstruir as propostas feitas
pelo opositor. Foi o que ocorreu com o Celso Russomanno (PRB) no
primeiro turno da eleição paulistana. “O Russomanno caiu
vertiginosamente depois de baterem em sua ideia de atrelar o preço das
tarifas de ônibus às distâncias percorridas pelo passageiro”, lembrou
Torquato.
Diante do cenário favorável apontado pelas pesquisas, a ordem no QG
do concorrente de José Serra, o petista Fernando Haddad, é usar
materiais negativos apenas para neutralizar eventuais ofensivas do
tucano Serra. Foi seguindo esta estratégia que Haddad propôs a Serra,
durante o debate da Rede Bandeirante na quinta-feira 18, uma espécie de
armistício para retirar as ofensas da pauta do segundo turno e promover
uma campanha voltada a ideias para a cidade. “Fica o meu convite para
que as duas equipes se reúnam amanhã e estabeleçam um protocolo para que
esses ataques pessoais saiam de cena e tenhamos uma semana mais
propositiva”, propôs Haddad. “Temos que discutir exclusivamente as
propostas”, afirmou. Nos bastidores do staff do PT sabe-se, no entanto,
que até a eleição do domingo a escalada de agressões tende a crescer.
Vislumbrando possíveis denúncias do lado tucano, os petistas guardam
munições nas mangas. “Se a campanha do Serra vier com algum denuncismo
de última hora, vamos trazer à tona temas que envolvem crimes
financeiros de pessoas próximas a ele”, diz um dos coordenadores da
candidatura petista.
Crítica de aliados Apesar de o núcleo da campanha do PSDB ainda
manter discurso otimista e desqualificar os resultados das pesquisas que
apontam uma diferença de 16 a 17 pontos de vantagem de Haddad sobre
Serra, dirigentes da legenda já admitem que as chances do ex-governador
vencer a corrida pela prefeitura de São Paulo tornaram-se remotas. O
tucano passa por uma trajetória de queda até entre o eleitorado cativo
do partido. Em conversas com interlocutores, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso criticou duramente a condução da campanha. “A campanha
de Serra flerta com o conservadorismo”, disse FHC, presidente de honra
do PSDB. O ex-governador Alberto Goldman também demonstrou contrariedade
com o tom adotado por Serra. “Se fosse ele, não alimentaria o debate
sobre o kit gay. Diria que não tem nada a ver com a eleição”, afirmou
Goldman. O uso do kit gay por Serra irritou até o presidente do PSDB,
Sérgio Guerra. “Em São Paulo, a campanha resvala para elementos que não
são os mais relevantes. Se foi mamãe que fez o kit gay ou se foi vovó
que assinou”, criticou Guerra.
Antes de aceitar ser candidato ao Executivo Paulistano, José Serra
comparava a atual disputa eleitoral a um funeral. Se vencesse, receberia
honras militares. Porém, se perdesse, seria “enterrado como indigente”.
No domingo 28, as urnas nortearão o seu destino.
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