Com pressão do grupo Alimentos, IPCA deve superar teto da meta em março
RIO e PORTO ALEGRE – Uma combinação de frete alto, chuvas prolongadas
e demanda aquecida está pressionando os preços de alimentos e
mantendo-os em um patamar incomumente alto no varejo. A pressão dos
preços reforça a aposta de analistas de que o teto da meta de inflação
seja estourado em março. O IBGE divulga na quarta-feira o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, referência do governo), do mês
passado. Se confirmada a previsão dos analistas, de uma alta mensal
entre 0,47% e 0,50%, a inflação vai estourar, em 12 meses, o teto da
meta, que é de 6,5% — será a primeira vez que isso ocorre desde novembro
de 2011, quando a alta acumulada do IPCA chegou a 6,64%. O objetivo do
governo é manter a inflação em 4,5% ao ano, com margem de tolerância de
dois pontos percentuais para cima e para baixo.
Alguns alimentos mais do que dobraram de preço nos últimos 12 meses, como o tomate, que subiu 105,89%, e a farinha de mandioca, com alta de 140,57%, segundo dados do IBGE. Embora a inflação pelo IPCA-15 (índice que serve de prévia para o IPCA) tenha ficado em 6,43% em 12 meses, os alimentos subiram 12,96%.
E mesmos alimentos cujos preços já começam a cair no atacado ainda estão em alta no varejo. Uma das razões é o frete. O diesel usado para abastecer os caminhões já teve dois reajustes nas refinarias este ano, de 5,4% em janeiro e de 5% em março. Com o frete em alta, uma queda de preços no atacado não chega ao varejo. No Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M, da Fundação Getulio Vargas), o trigo no atacado caiu 2,26%, mas a farinha de trigo subiu 4,36% em março.
O economista da LCA consultores Fábio Romão calcula que somente o frete vá acrescentar à inflação neste ano 0,20 ponto percentual. Ele explica que o aumento do preço do diesel pesou sobre o frete e que o IPCA deve fechar o ano em 5,3%. Na suas projeções, a inflação acumulada em 12 meses subirá a 6,62% no resultado fechado de março. Até agora foram dois reajustes do diesel neste ano: em 30 de janeiro e 6 de março. E há especulações que outro ainda poderia ocorrer.
— No atacado, os preços estão caindo desde janeiro. Tem uma parte que é efeito sazonal, mas o encarecimento do frete também está contribuindo para essa resistência dos alimentos — afirma Romão. — Essa demora também tem a ver com o câmbio desvalorizado.
O frango inteiro passou de uma alta de 2,91%, em fevereiro, para 1,80%, em março, considerando os dados do IPCA-15, que mede a inflação entre os dias 15 de cada mês e serve como uma prévia do IPCA. O frango em pedaços passou de 6,87% para 2,15%. A carne de porco desacelerou de 1,75% para 0,19%.
— Poderia ter sido caído bem mais — aponta Romão.
O frete de grãos subiu mais de 56% até março. Normalmente esse avanço fica entre 10% e 15%.
— Isso de alguma maneira vai chegar ao produto final, porque compõe esse custo — afirma Daniel Latorraca, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
Sobre o frete pesaram ainda a mudança nas regras de jornada para caminhoneiros, que encareceu o custo das contratações. Após uma jornada de 11 horas, agora é obrigatória uma parada de 24 horas. A colheita de uma supersafra da soja, aliada à problemas logísticos como a indisponibilidade de caminhões, estradas esburacadas e o atraso no desembaraço em portos, também pressionaram o custo do frete.
— O frete subiu mais de 50% nos três primeiros meses do ano e isso tem impacto em toda a cadeia — afirma Luis Otavio de Souza Leal, do banco ABC Brasil.
Os produtos chamados in natura (hortaliças, legumes e frutas) sobem em razão de um período de chuvas prolongadas. Para Alessandra Ribeiro, da Tendências, o movimento deles e da refeição fora de casa são o principal foco de resistência para uma desaceleração maior nos preços de alimentos. Ela espera que o IPCA em 12 meses fique em 6,59%.
Para o especialista em inflação, André Braz, do Ibre FGV, só em abril os alimentos devem dar uma arrefecida mais consistente.
Ontem, em Porto Alegre, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, disse que a autoridade monetária não descarta recorrer a novas medidas para conter os preços:
— O BC continua tendo como objetivo maior a manutenção dos preços. Demonstramos preocupação com a persistência da inflação nos últimos meses. Continuamos cautelosos. Já tomamos medidas, mas outras podem ser necessárias. (Colaborou Rennan Setti, de Porto Alegre)
Alguns alimentos mais do que dobraram de preço nos últimos 12 meses, como o tomate, que subiu 105,89%, e a farinha de mandioca, com alta de 140,57%, segundo dados do IBGE. Embora a inflação pelo IPCA-15 (índice que serve de prévia para o IPCA) tenha ficado em 6,43% em 12 meses, os alimentos subiram 12,96%.
E mesmos alimentos cujos preços já começam a cair no atacado ainda estão em alta no varejo. Uma das razões é o frete. O diesel usado para abastecer os caminhões já teve dois reajustes nas refinarias este ano, de 5,4% em janeiro e de 5% em março. Com o frete em alta, uma queda de preços no atacado não chega ao varejo. No Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M, da Fundação Getulio Vargas), o trigo no atacado caiu 2,26%, mas a farinha de trigo subiu 4,36% em março.
O economista da LCA consultores Fábio Romão calcula que somente o frete vá acrescentar à inflação neste ano 0,20 ponto percentual. Ele explica que o aumento do preço do diesel pesou sobre o frete e que o IPCA deve fechar o ano em 5,3%. Na suas projeções, a inflação acumulada em 12 meses subirá a 6,62% no resultado fechado de março. Até agora foram dois reajustes do diesel neste ano: em 30 de janeiro e 6 de março. E há especulações que outro ainda poderia ocorrer.
— No atacado, os preços estão caindo desde janeiro. Tem uma parte que é efeito sazonal, mas o encarecimento do frete também está contribuindo para essa resistência dos alimentos — afirma Romão. — Essa demora também tem a ver com o câmbio desvalorizado.
O frango inteiro passou de uma alta de 2,91%, em fevereiro, para 1,80%, em março, considerando os dados do IPCA-15, que mede a inflação entre os dias 15 de cada mês e serve como uma prévia do IPCA. O frango em pedaços passou de 6,87% para 2,15%. A carne de porco desacelerou de 1,75% para 0,19%.
— Poderia ter sido caído bem mais — aponta Romão.
O frete de grãos subiu mais de 56% até março. Normalmente esse avanço fica entre 10% e 15%.
— Isso de alguma maneira vai chegar ao produto final, porque compõe esse custo — afirma Daniel Latorraca, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
Sobre o frete pesaram ainda a mudança nas regras de jornada para caminhoneiros, que encareceu o custo das contratações. Após uma jornada de 11 horas, agora é obrigatória uma parada de 24 horas. A colheita de uma supersafra da soja, aliada à problemas logísticos como a indisponibilidade de caminhões, estradas esburacadas e o atraso no desembaraço em portos, também pressionaram o custo do frete.
— O frete subiu mais de 50% nos três primeiros meses do ano e isso tem impacto em toda a cadeia — afirma Luis Otavio de Souza Leal, do banco ABC Brasil.
Os produtos chamados in natura (hortaliças, legumes e frutas) sobem em razão de um período de chuvas prolongadas. Para Alessandra Ribeiro, da Tendências, o movimento deles e da refeição fora de casa são o principal foco de resistência para uma desaceleração maior nos preços de alimentos. Ela espera que o IPCA em 12 meses fique em 6,59%.
Para o especialista em inflação, André Braz, do Ibre FGV, só em abril os alimentos devem dar uma arrefecida mais consistente.
Ontem, em Porto Alegre, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, disse que a autoridade monetária não descarta recorrer a novas medidas para conter os preços:
— O BC continua tendo como objetivo maior a manutenção dos preços. Demonstramos preocupação com a persistência da inflação nos últimos meses. Continuamos cautelosos. Já tomamos medidas, mas outras podem ser necessárias. (Colaborou Rennan Setti, de Porto Alegre)
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