4.08.2013

Lavem as mãos, por favor



O Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançaram anteontem (dia 1° de abril) um programa que objetiva prevenir e reduzir a incidência de erros que colocam em risco a saúde e a vida de pacientes.
Não são poucos os relatos de problemas evitáveis que acontecem dentro dos hospitais, como quedas, administração incorreta de medicamentos e erros em procedimentos cirúrgicos (como operar um órgão errado).
Um estudo da Fiocruz apontou que de cada dez pacientes atendidos em unidades hospitalares pelo menos um sofre de algum tipo de evento adverso. E em 66% das vezes são problemas evitáveis.
O programa do ministério torna obrigatório que todos os hospitais do país montem equipes específicas para aplicar e fiscalizar regras sanitárias e protocolos de atendimento e que notifiquem mensalmente a Anvisa sobre eventos adversos associados à assistência.
Segundo o ministério, estão previstas sanções aos hospitais --até mesmo suspensão do alvará de funcionamento-- que não se adequarem às novas ações.
No papel, tudo parece fácil e lindo. A realidade, porém, é bem mais complexa. Para começar, quem vai fiscalizar o cumprimento dessas ações? As vigilâncias sanitárias?
Mais de dez anos se passaram desde que começou a valer a lei federal que obriga os hospitais a instituir comissões de controle de infecção hospitalar. E ainda hoje muitas delas só existem no papel.
Na verdade, é muito difícil mudar hábitos enraizados e fazer com que os profissionais dentro do hospital trabalhem em equipe e sigam protocolos. A cultura hospitalar, em geral, ainda é a de esconder o erro. Com isso, a chance de os problemas se repetirem e nunca serem corrigidos é imensa.
E não é um problema só nosso. No mês passado, durante conferência de jornalismo de saúde em Boston, Lucian Leape, professor adjunto do Departamento de Políticas de Saúde e Gestão da Universidade de Harvard, enumerou quatro principais problemas que atravancam a implantação de medidas que visam reduzir erros evitáveis dentro dos hospitais:
1 - resistência dos médicos em relação ao trabalho em equipe
2 - dificuldade de mudar os sistemas de saúde
3 - a cultura geral é "disfuncional". "Nós tratamos uns aos outros mal", disse Leape
4 - falta de liderança do gestor para comprar a briga e fazer com que as medidas de segurança funcionem de fato
O médico lembrou que, ainda hoje, a prática de lavar as mãos precisa ser constantemente reforçada porque muitos profissionais se esquecem disso. E todo mundo está cansado de saber que essa é a principal medida para reduzir as infecções hospitalares.
Além do "esquecimento", que também atinge nossos profissionais de saúde, no Brasil ainda há uma realidade ainda mais perversa. Há três anos, o Cremesp e o Ministério Público Estadual fizeram um levantamento em 65 hospitais públicos e 93 hospitais privados e constataram que em 28,1% dessas instituições não havia, nas áreas mais críticas, uma simples pia para lavar as mãos e o papel para enxugá-las.
Isso me lembrou um episódio que vivenciei anos atrás na Santa Casa de Ribeirão Preto. Meu pai tinha infartado e estava na UTI em observação. Na entrada da unidade, tinha uma pia, mas não havia sabão. Reclamei com a equipe que estava de plantão, e a resposta foi: "não adianta colocar porque as visitas levam embora". Inconformada, fui até a farmácia, comprei um sabonete e deixei na pia. No dia seguinte, nem sinal do sabonete.
Avener Prado/Folhapress Cláudia Collucci

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