Tecnologia que imprime moldes e próteses permite a reconstrução do organismo com uma perfeição nunca vista antes
Monique Oliveira e Juliana TiraboschiRESTAURAÇÃO
Parte do crânio de Késsia foi reconstruída com auxílio do recurso
A história do paciente inglês é o exemplo mais recente da revolução que o uso da tecnologia da impressora 3D está causando nos cuidados com a saúde. A máquina é capaz de criar produtos tridimensionais por meio da adição em camadas da matéria-prima utilizada. Ela pode, assim, ler os dados de um projeto de um software e transformá-lo em produto tridimensional, adicionando “tinta” etapa por etapa. Seu grande mérito é a produção de detalhes minuciosos. Em outras palavras, de concretizar a perfeição. Na medicina, isso significa a produção de moldes, próteses, crânio, mandíbulas e até vasos sanguíneos nas mesmas formas e medidas das estruturas originais que, por motivos diversos, precisam ser repostas ou substituídas.
FORMAS
Um molde em três dimensões ajudou a refazer o rosto
de um paciente inglês desfigurado por um tumor
O sistema ajuda no planejamento de cirurgias complexas, transplantes e localização de tumores. Nesse último caso, por exemplo, o médico pode contatar o centro paulista gratuitamente e planejar melhor a cirurgia para extrair as células doentes. Com os dados da ressonância, os pesquisadores do CTI preparam um molde 3D no InVesalius, a impressora o imprime e o médico recebe um molde exato do órgão e do tumor do paciente para estudar a forma mais adequada de realizar o procedimento. “Com isso, o cirurgião não vê o paciente por dentro só no momento da operação”, explica o engenheiro Jorge Vicente da Silva, diretor da divisão de tecnologias tridimensionais do CTI. Usado em mais de 62 países, o software é de código aberto e gratuito – o único do tipo no mundo.
CIÊNCIA
Em Campinas (SP), o russo Mironov (acima) quer criar vasos sanguíneos.
Seu colega Jorge Vicente coordena pesquisas para a confecção de próteses
O mesmo equipamento foi utilizado para fabricar um molde que serviu de base para a reconstrução da parte lateral do crânio da pedagoga Késsia Helen de Andrade Silva, 21 anos. Há dois anos, ela sofreu um acidente de moto e teve um pedaço do crânio retirado para aliviar a pressão intracraniana e permitir a retirada de um coágulo. “Fiquei impressionada com o bom resultado”, conta ela, hoje completamente recuperada. Os brasileiros chegaram a confeccionar o molde de uma prótese craniana capaz de acompanhar o crescimento de um garoto vítima de um acidente. “Ele só precisou de uma cirurgia, porque a prótese foi projetada especialmente para ele e a evolução do seu crescimento”, contou Jorge Vicente.
MOVIMENTO
A prótese do braço da garota Emma foi totalmente feita com o aparelho
Com a confirmação de que a impressora 3D representa um progresso fantástico na chamada medicina regenerativa, vários grupos de pesquisa se dedicam agora a encontrar as melhores “matérias-primas” para alimentar essas máquinas. O ideal, é claro, é que sejam cada vez mais compatíveis com o organismo humano. Por isso, o que se vê hoje é uma corrida dos cientistas para produzir biomateriais. Nesse esforço, já se conseguiu imprimir células-tronco adultas (capazes de gerar determinados tecidos), mas um dos maiores feitos nesse âmbito foi anunciado em fevereiro pela Universidade Heriot-Watt, de Edimburgo, na Escócia. Pesquisadores revelaram ter usado uma impressora 3D para imprimir células-tronco embrionárias, muito mais versáteis do que as células adultas. “E elas mantiveram sua capacidade de se transformar em qualquer tecido humano”, disse à ISTOÉ o pesquisador Will Shu, autor da façanha.
Fotos: João Castellano/Ag. Istoé; Divulgação
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