- Nos EUA, dois terços das jovens entre 18 e 24 anos fazem depilação, segundo dados de 2012 da Universidade de Indiana
- No Brasil, não há números sobre a prática, mas não seria de se espantar se forem ainda maiores, já que o país é exportador da famosa brazilian wax
- Pesquisa francesa relacionou depilação a cera com a ocorrência de molusco contagioso, que pode ser transmitido sexualmente
Flavia Milhorance
RIO - Um hábito higiênico, saudável e estético. Ou um padrão de
beleza extremo, semelhante a antigas formas de tortura feminina, tais
como espartilho para afinar a cintura ou pés atados para mantê-los
pequenos e delicados. Com adeptas em todo o mundo, a depilação com cera
também desperta reações animadas, que ganharam novo fôlego com a recente
publicação de uma pesquisa francesa no periódico “Sexually Transmitted
Infections”, apontando que a remoção de pelos pubianos, especialmente
com cera, aumenta o risco de inflamações e doenças sexualmente
transmissíveis.
Nos EUA, dois terços das jovens entre 18 e 24 anos fazem depilação, segundo a Universidade de Indiana, que entrevistou 2.451 mulheres em 2012. Não há números brasileiros, mas não seria de se espantar se eles fossem ainda maiores, já que o país é inclusive exportador da famosa brazilian wax. A pesquisa francesa relacionou esse método com a ocorrência do molusco contagioso, que pode ser transmitido sexualmente. Outros estudos vão pela mesma linha. Isso quer dizer que as mulheres não deveriam se depilar?
— Benéfico não é. Nossos mecanismos naturais estão prontos, ou seja, o pelo está ali para proteção do organismo. Se ele é retirado, a pele fica mais exposta, com microtraumas, o que facilita, não a higiene, mas a entrada de agentes infecciosos. Agora, ela é muito ruim? Também não. Mas temos que fazer sabendo que é cultural, não é pela saúde, e que temos que ter todos os cuidados possíveis — resume a professora de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Uerj, Renata Aranha.
Por causa da popularização da depilação, o número de lesões na virilha quintuplicou entre 2002 e 2010, de acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, que apontou que 142.143 consultas médicas se deviam a machucados genitais.
— Todo os métodos clássicos de remoção do pelo, como pinça, cera, lâmina, podem causar irritação na pele, e a pessoa corre o risco de ter inflamação — complementa a dermatologista e professora da Unicamp, Luiza Pitassi.
Principal cuidado é nunca reutilizar a cera
Além de deixar a pele mais sensível às inflamações, a cera e os utensílios de depilação são um meio de contaminação.
— O mais comum é a foliculite, um processo inflamatório provocado por bactéria, que incomoda esteticamente e é dolorido — exemplifica a professora e dermatologista do Hospital Pedro Ernesto da Uerj, Roberta Teixeira, que também cita fungos, principalmente micoses, e vírus sexualmente transmissíveis, como verrugas vaginais, como outras possíveis consequências.
Entre especialistas, o consenso para evitar dores de cabeça é ter cuidados: o principal é nunca reutilizar a cera. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também informa que as espátulas devem ser de material liso, lavável e impermeável ou descartáveis; e recomenda evitar depilar quando há lesões na pele. A única exigência do órgão é que os produtos usados na depilação sejam registrados. Já a fiscalização, informa a agência, é feita pela vigilância local.
— Antes de abrir a minha rede, vi que o reuso da cera era bem frequente. Cobramos o preço de mercado, por isso a margem de lucro é menor. Poderia ter uma economia de uns 7% no faturamento bruto do mês se reutilizasse cera — diz a dona da Depyl Brasil, Solana Vasconcelos, que cita casos assustadores. — Uma cliente mostrou a foto do buço super inchado, que o dermatologista dela diagnosticou como restos de fezes no rosto. Outra teve uma infecção vaginal que subiu pelo canal urinário, e ela teve que ficar seis meses sem depilar.
Distribuir kits descartáveis, jogar a cera logo no lixo e colocar na panela apenas a quantidade que será utilizada na pele da cliente são também orientações de Solana às depiladoras.
Depilação como Cultura, estética ou saúde
Se há riscos, por que então depilar? No mesmo estudo da Universidade de Indiana, quem adotava o hábito tinha maior autoestima sexual. Além disso, a indicação médica existe, mas em raros casos: excesso de pelos ou no indivíduo com predisposição a desenvolver fungos, potencializados pelo calor e umidade provocado por pelos. De resto, é uma questão cultural:
— Vários hábitos culturais são justificados com base em utilidade e higiene. Na história da medicina, muito do que era considerado saudável, hoje não é: soltar gases é um exemplo. Fazer funções naturais em público também era natural — explica a professora de Antropologia da Uerj, Cláudia Barcellos.
Por isso, a médica Emily Gibson é taxativa contra a depilação: “É hora de declarar o fim da guerra aos pelos pubianos e de deixá-los no local a que pertencem”, escreveu em artigo republicado em diversos jornais ingleses. “A quantidade de tempo, energia, dinheiro e emoção gastos por ambos os sexos em abolir os pelos de órgãos genitais é astronômico”, criticou.
Nos EUA, dois terços das jovens entre 18 e 24 anos fazem depilação, segundo a Universidade de Indiana, que entrevistou 2.451 mulheres em 2012. Não há números brasileiros, mas não seria de se espantar se eles fossem ainda maiores, já que o país é inclusive exportador da famosa brazilian wax. A pesquisa francesa relacionou esse método com a ocorrência do molusco contagioso, que pode ser transmitido sexualmente. Outros estudos vão pela mesma linha. Isso quer dizer que as mulheres não deveriam se depilar?
— Benéfico não é. Nossos mecanismos naturais estão prontos, ou seja, o pelo está ali para proteção do organismo. Se ele é retirado, a pele fica mais exposta, com microtraumas, o que facilita, não a higiene, mas a entrada de agentes infecciosos. Agora, ela é muito ruim? Também não. Mas temos que fazer sabendo que é cultural, não é pela saúde, e que temos que ter todos os cuidados possíveis — resume a professora de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Uerj, Renata Aranha.
Por causa da popularização da depilação, o número de lesões na virilha quintuplicou entre 2002 e 2010, de acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, que apontou que 142.143 consultas médicas se deviam a machucados genitais.
— Todo os métodos clássicos de remoção do pelo, como pinça, cera, lâmina, podem causar irritação na pele, e a pessoa corre o risco de ter inflamação — complementa a dermatologista e professora da Unicamp, Luiza Pitassi.
Principal cuidado é nunca reutilizar a cera
Além de deixar a pele mais sensível às inflamações, a cera e os utensílios de depilação são um meio de contaminação.
— O mais comum é a foliculite, um processo inflamatório provocado por bactéria, que incomoda esteticamente e é dolorido — exemplifica a professora e dermatologista do Hospital Pedro Ernesto da Uerj, Roberta Teixeira, que também cita fungos, principalmente micoses, e vírus sexualmente transmissíveis, como verrugas vaginais, como outras possíveis consequências.
Entre especialistas, o consenso para evitar dores de cabeça é ter cuidados: o principal é nunca reutilizar a cera. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também informa que as espátulas devem ser de material liso, lavável e impermeável ou descartáveis; e recomenda evitar depilar quando há lesões na pele. A única exigência do órgão é que os produtos usados na depilação sejam registrados. Já a fiscalização, informa a agência, é feita pela vigilância local.
— Antes de abrir a minha rede, vi que o reuso da cera era bem frequente. Cobramos o preço de mercado, por isso a margem de lucro é menor. Poderia ter uma economia de uns 7% no faturamento bruto do mês se reutilizasse cera — diz a dona da Depyl Brasil, Solana Vasconcelos, que cita casos assustadores. — Uma cliente mostrou a foto do buço super inchado, que o dermatologista dela diagnosticou como restos de fezes no rosto. Outra teve uma infecção vaginal que subiu pelo canal urinário, e ela teve que ficar seis meses sem depilar.
Distribuir kits descartáveis, jogar a cera logo no lixo e colocar na panela apenas a quantidade que será utilizada na pele da cliente são também orientações de Solana às depiladoras.
Depilação como Cultura, estética ou saúde
Se há riscos, por que então depilar? No mesmo estudo da Universidade de Indiana, quem adotava o hábito tinha maior autoestima sexual. Além disso, a indicação médica existe, mas em raros casos: excesso de pelos ou no indivíduo com predisposição a desenvolver fungos, potencializados pelo calor e umidade provocado por pelos. De resto, é uma questão cultural:
— Vários hábitos culturais são justificados com base em utilidade e higiene. Na história da medicina, muito do que era considerado saudável, hoje não é: soltar gases é um exemplo. Fazer funções naturais em público também era natural — explica a professora de Antropologia da Uerj, Cláudia Barcellos.
Por isso, a médica Emily Gibson é taxativa contra a depilação: “É hora de declarar o fim da guerra aos pelos pubianos e de deixá-los no local a que pertencem”, escreveu em artigo republicado em diversos jornais ingleses. “A quantidade de tempo, energia, dinheiro e emoção gastos por ambos os sexos em abolir os pelos de órgãos genitais é astronômico”, criticou.
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