Comportamento: Saúde Visual
Kay
Alicyn Ferrel, diretora executiva da University of Northern Colorado
(EUA) é especialista em educação de pessoas com deficiência visual;
intervenção precoce com crianças com deficiência e trabalho com as
famílias.
Através das principais perguntas feitas
pelos próprios pais ao longo de sua carreira, ela procura esclarecer,
orientar e incentivar a todos que se defrontam com crianças deficientes
visuais.
COMO MEU FILHO SABERÁ ONDE ESTÁ?
Se você não é deficiente da visão ou
portador de deficiência múltipla, pode-lhe ser difícil imaginar como seu
filho aprenderá a identificar onde está e se localizar nesse espaço.
Você se baseia em sua visão para saber onde está. Seu filho se baseará
em sua audição, tato e olfato para sabê-lo.
Em sua casa, cada quarto dá pistas
diferentes, através dos materiais que forram o chão e as paredes, e para
que objetivo o quarto é usado. Por exemplo, a cozinha pode ter um chão
de cerâmica e cheirar a comida; o banheiro cheira a umidade e até se
pode sentir as paredes ligeiramente úmidas; a sala de estar pode ter um
tapete no chão e um relógio fazendo tic-tac alto; o quarto pode soar
"macio", porque a cama absorve todos os sons. A janela da cozinha é
grande, por lá entra sol e vento. À medida que seu filho cresce, ele
começa a usar outros marcos para ajudá-lo a saber onde está.
Se ensinar, logo cedo, seu filho a
prestar atenção nessas coisas, não lhe será difícil aprender. Faça com
que ele forme o mapa mental do ambiente de sua casa - onde fica o
banheiro em relação ao seu quarto, enfim, qual a localização de todos os
cômodos e a relação espacial entre eles.
QUANDO MEU FILHO PRECISARÁ DE UMA BENGALA?
Essa também é uma decisão individual,
que depende de seu filho e de você. Bengalas oferecem proteção à criança
ou ao adulto, principalmente, porque dão informação sobre o que está à
frente, antes de colidir. Por isso, seu filho pode não precisar de uma
bengala até estar pronto a agir sozinho - como completar uma incumbência
para você ou ir sozinho para a escola.
Entretanto, muitas pessoas acham que as
crianças deveriam ter bengalas o mais cedo possível - até mesmo logo que
começam a caminhar. Já outras dizem que a bengala só deve ser adotada a
partir dos treze ou quatorze anos de idade. Você deve pedir as opiniões
de professores e instrutores de Orientação e Mobilidade antes de tomar
sua decisão. Algumas das perguntas seguintes talvez o ajudem:
- Meu filho precisa de bengala? Para que a usaria?
- Meu filho consegue caminhar direito?
- Meu filho usa suas mãos para conseguir informação ou se agarra a objetos sem realmente explorá-los?
- Como a bengala afetaria seu equilíbrio ao andar?
- Como a bengala afetaria suas brincadeiras com as crianças vizinhas?
- Ele precisa da bengala o tempo todo?
- A bengala para ele seria um instrumento de segurança e locomoção ou apenas um brinquedo?
- Ele com a bengala deixa de absorver e utilizar as informações táteis, auditivas e olfativas do ambiente?
- Com ela parece estar sem orientação espaço-temporal?
Todos terão uma opinião sobre bengalas, mas a sua opinião e a de seu filho, principalmente, é que contam.
QUANDO MEU FILHO APRENDERÁ O SISTEMA BRAILLE?
Seu filho cego, portador de visão
subnormal ou de deficiência múltipla aprenderá o Sistema Braille quando
estiver pronto para começar a aprender a ler, e o fará do mesmo modo que
as crianças videntes aprendem a ler em tinta. Um professor de crianças
deficientes da visão pode fazer algumas etiquetas plásticas em Braille
para você pôr pela casa em portas, cadeiras, pias, etc., o que exporá
seu filho à palavra escrita. Também pode adquirir histórias de crianças
em sistema comum, com páginas plásticas em Braille, assim, enquanto você
ler, ele poderá "segui-la em Braille", mesmo sem saber ler ainda.
Agora, já se consegue comprar vários livros de criança com
audiodescrição.
É importante que a criança cega tenha o
contato com a palavra escrita em Braille o mais cedo possível. A criança
de visão normal vê as palavras em tudo - TV, revistas, livros,
cartazes. Seu primeiro contato com a palavra escrita se dá muito cedo.
Já a criança cega, na maior parte das vezes, tem o primeiro contato com a
palavra escrita no momento de sua alfabetização.
Todas as crianças deficientes da visão
podem aprender o Braille, independente de conseguirem ou não ler em
tinta. Contudo, hoje, as crianças com condições favoráveis, são
encorajadas a ler impressos, e com os vários auxílios eletrônicos e
ópticos disponíveis, muitos deficientes da visão, portadores de visão
subnormal, podem usar livros de estudo em tipos comuns. Embora lhe
pareça que a escolha entre o Braille ou a impressão está longe, quando o
tempo chegar, você, como pai, deveria:
- discutir o assunto com um professor de deficientes visuais;
- lembre-se de que a prontidão para o Braille depende da habilidade da criança em conseguir informação através de seus dedos, e esse processo começa na primeira infância;
- procure o ponto de rendimento insuficiente. Se seu filho lutar cada vez mais com a impressão, talvez faça sentido ensinar-lhe Braille - ou ensinar-lhe a leitura do Braille e da tinta ao mesmo tempo, e permitir-lhe que faça a escolha.
Claro que a vantagem de ler a tinta é
que todos os livros e jornais são em tinta, enquanto que livros em
Braille nem sempre estão disponíveis. Mas com os novos dispositivos de
leitura eletrônicos - computadores que falam e o Braille sem papel, por
exemplo - talvez isto não seja um problema, no futuro.
EU TENHO QUE APRENDER O BRAILLE?
Isso, realmente, depende de você. A
maioria do material de Braille que seu filho precisa para a escola já
está disponível; se não, é da responsabilidade da escola e do professor
dos deficientes da visão providenciá-lo. Entretanto, se você souber
Braille, e ler, visualmente, as palavras (em Braille) será mais fácil
ajudar seu filho nas lições. Como adulto que já lê, você não terá que
gastar muito tempo aprendendo; assim, não pense em sair correndo,
enquanto seu filho for pequeno, para fazer um curso de Braille. Há tempo
para pensar sobre isso.
ONDE POSSO PROCURAR AJUDA?
Algumas escolas e centros de atendimento
públicos e particulares têm programas especiais para crianças e
pré-escolares cegos e portadores de visão subnormal. Para descobrir o
que há disponível em sua comunidade, confira primeiro com o serviço de
saúde de sua comunidade e peça a recomendação de um programa de
estimulação precoce para seu filho.
Lembre-se que essa etapa lhe é
absolutamente fundamental e imprescindível. Não deixe de buscar um
serviço de estimulação para seu filho deficiente visual.
Faça valer o direito de acesso de seu
filho portador de deficiência visual aos serviços de saúde, estimulação,
educação, reabilitação, recreação, lazer, prática de atividades
físicas, cultura e a todos os outros disponíveis em sua comunidade.
O QUE ACONTECERÁ QUANDO MEU FILHO FOR PARA O COLÉGIO?
Toda criança cega, de visão subnormal ou
portadora de deficiência múltipla tem direito à educação apropriada.
Isso significa que o tipo de educação que recebe, e onde recebe, depende
de suas necessidades, a qualquer momento. Como pai, você tem o direito
de participar das decisões.
Crianças deficientes da visão e portadoras de deficiência múltipla podem freqüentar a escola em qualquer dos seguintes modelos:
- Sala de aula regular: (ensino inclusivo) aqui seu filho assiste à aula que assistiria se não fosse deficiente, trabalhando diretamente com seus colegas videntes. Um professor itinerante vai à escola para instruir seu filho em habilidades especiais.
- Sala de recursos: aqui seu filho ainda está na sala de aula regular, mas fica mais tempo em outra sala, projetada especificamente para a instrução especial. Normalmente, há várias crianças que trabalham nessa sala de recursos, em diferentes momentos do dia.
- Sala de aula especial: aqui seu filho trabalha a maior parte do dia numa sala de aula com outras crianças deficientes, entretanto, não necessariamente deficientes da visão. A sala de aula fica numa escola regular, e seu filho, normalmente, passa tempo com crianças não-deficientes no intervalo, na hora do almoço e talvez durante as aulas de música e de arte.
- Escola especial: nesse lugar, seu filho freqüenta uma classe e escola que só tem crianças deficientes, nem todas deficientes da visão. O professor de seu filho pode ou não ser registrado no ensino de cegos e deficientes da visão, mas se não for, seu filho receberá os serviços de um professor itinerante de deficientes visuais.
- Escola especializada: aqui, seu filho fica numa escola especializada para crianças cegas e de visão subnormal com a presença de professores e outros especialistas treinados para trabalhar com elas. Seu filho pode viver na escola a semana inteira ou se você morar bastante perto, pode ir e voltar da escola, diariamente.
Seu filho pode entrar e sair de
quaisquer desses lugares, dependendo de suas necessidades educacionais, a
qualquer momento específico. Por exemplo, ele pode precisar de ajuda
extra quando for pela primeira vez ao colégio, mas depois, poderia
freqüentar sua escola de bairro. Ou vice-versa. O importante é que sejam
dados toda a educação e os serviços especiais de que seu filho precisa,
e que os receba no ambiente o mais adequado possível.
Provavelmente, é difícil imaginar como
seu filho se sairá na escola, já que pode ter dificuldade para ver o
quadro-negro ou usar o livro de exercícios.
Professores de deficientes da visão têm
muitas maneiras de adaptar materiais para seu filho utilizar. Se estiver
interessado em aprender sobre alguns, leia o artigo "Quando você tem
uma criança deficiente da visão em sua sala de aula: sugestões para
professores", publicado na revista Benjamin Constant, número 8.
O QUE OS OUTROS PAIS FAZEM?
Muitos pais acham útil conversar com
pais de outras crianças cegas ou de visão subnormal. Pais de crianças
mais velhas podem contar suas experiências e dar uma idéia do que
acontecerá a seguir. Com pais de crianças da mesma idade que seu filho,
você pode compartilhar alegrias, sucessos e trabalhar os problemas em
conjunto. Ninguém tem, exatamente, os mesmos sentimentos que você, mas
outros pais chegam muito próximo deles
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