7.25.2014

Polícia recomeça as buscas pelos restos mortais de Eliza Samudio

Agentes do Departamento de Homicídios, Corpo de Bombeiros e PM estão no terreno próximo ao Aeroporto de Confins (BH) onde a amante do goleiro Bruno estaria enterrada

Adriana Cruz
Belo Horizonte - Sob uma forte chuva que cai na manhã desta sexta-feira, em Belo Horizonte, a polícia local recomeçou as buscas pelos restos mortais de Eliza Samudio. Agentes do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), com apoio do Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar (MG), começaram a operação por volta das 10h30, no bairro Santa Clara, em Vespasiano, Região Metropolitana de BH. Jorge Luiz Rosa Sales, primo do goleiro Bruno e que relatou onde a modelo estaria enterrada, também está no local ao lado de seu advogado, Nélio Andrade e de todos os delegados que participaram do caso.
Para a realização das buscas, os policiais fecharam a Rua Aranhas e o trabalho acontece ao lado do número 870. Sob a orientação de Jorge, eles utilizam retroescavadeiras, enxadas e pás. Já foram encontrados dois objetos que seriam uma luva de construção e um sapato. Moradores da região afirmaram que o terreno, próximo da residência de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, sempre esteve abandonado. No entanto, afirmaram que não viram algum movimento estranho no período em que o corpo de Eliza Samudio teria sido enterrado no local.
Sob a orientação de Jorge, primo do goleiro Bruno, policiais usam uma retroescavadeira nas buscas pelos restos mortais de Eliza Samudio, num terreno em Vespasiano (MG)
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia
Jorge viajou na quinta-feira para a capital mineira, escoltado em viaturas descaracterizadas do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio (Bope). Seu advogado pediu apoio à corporação, porque Jorge diz temer ser morto. O primo de Bruno levou o defensor ao terreno onde o corpo estaria enterrado antes de se apresentar à polícia mineira.
“As informações que ele deu são cabíveis de verificação. Mas isso não muda em nada a situação de quem já foi julgado e condenado”, afirmou o delegado Wagner Pinto, referindo-se aos três condenados pela morte da modelo: Bruno, acusado de ser o mandante do crime; o ex-amigo dele, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão; e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, condenado pela execução e ocultação do corpo de Eliza.
Jorge Luiz Rosa Sales (de casaco verde) participa ativamente do trabalho de buscas pelos restos mortais de Eliza Samudio orientando os policiais
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia
Nélio Andrade contou que Jorge resolveu falar o que sabia porque entrou para igreja evangélica. “O arrependimento e o apoio de um tio fizeram ele falar. De 0 a 10, ele tem certeza absoluta do que contou. Tenho um nome a zelar, se não acreditasse nele, eu não faria nada”, afirmou o advogado, acrescentando que o rapaz — que cumpriu medida socioeducativa pelo crime quando era menor — não vai entrar em programa de proteção à testemunha.
O terreno fica a cerca de 13 quilômetros de Vespasiano, cidade onde Bola morava e, de acordo com o Ministério Público, local da morte. Jorge afirmou que a vítima não foi esquartejada, como contou anteriormente. “A mão dela foi cortada ainda em vida e decepada com uma faca de açougueiro, depois de morta. O corpo foi enrolado em um lençol e lacrado em um saco preto”, garantiu.
Vídeo:  Advogado fala sobre revelação de Jorge
Assistindo ao crime, ele disse que segurava no colo Bruninho, filho do jogador com a modelo, cujo valor da pensão alimentícia originou a desavença. “O menino chorava muito. Parecia que sabia que a mãe estava sendo morta”. O local teria sido indicado por Bola. Jorge afirma que um buraco profundo, cavado por trator, estava aberto. “Tiramos o corpo da mala do EcoSport, da avó de Bruno, e jogamos terra por cima”, garantiu.
Contradições marcam depoimentos do jovem
Ao longo das investigações, Jorge Luiz Rosa Sales mudou sua versão sobre o crime várias vezes. Ele, que chegou a contar com proteção policial por ter fornecido detalhes do crime, sustentou, nos primeiros depoimentos, que o corpo de Eliza teria sido esquartejado e dado como comida a cães da raça rottweiler. O que sobrou teria sido concretado em uma parede.
Depois, afirmou que a modelo foi levada para a casa do jogador na Barra da Tijuca, onde permaneceu por dois dias, até ser levada para o sítio em Esmeraldas (MG). Na quinta, porém, garantiu que ela saiu de hotel direto para Minas, sem passar pela casa do goleiro.
Bruno, Bola e Macarrão foram condenados pela morte de Eliza, em 2010: crime teria sido cometido porque goleiro não queria assumir filho
Foto:  Divulgação
Os depoimentos de Jorge também mostram contradições em relação a presença de Dayanne, ex-mulher de Bruno, no sítio de Esmeraldas. Em entrevista no ano passado, Jorge chegou a insinuar que Bruno sabia desde o início do plano de matar Eliza, ao contrário do que disse na quinta-feira à ‘Rádio Tupi’.
Advogados se surpreendem
Na entrevista à ‘Rádio Tupi’, Jorge alegou que mentiu no primeiro depoimento por orientação do seu ex-advogado, Eliezer de Almeida. O defensor negou e disse que nunca soube dessa nova versão. “Ele nunca me contou essa história. Se eu soubesse, o teria convencido a falar”, alegou Eliezer, que suspeita da veracidade do relato, já que é o quinto de Jorge.
Maria Lúcia, advogada da mãe de Eliza, ficou surpresa: “Se for comprovado que o corpo está lá, como o Jorge confirmou sua participação, deve ser denunciado por ocultação de cadáver. Se for mentira, pode ser por falso testemunho”.
Advogado Nélio Andrade pediu escolta da PM do Rio para levar a testemunha a Minas
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia
Leonardo Diniz, que defende Macarrão, se recusou a comentar a entrevista, dizendo que as acusações não terão relevância para o processo. “Meu cliente está julgado. Não existe revisão para prejudicar réu”, disse. Já Fernando Magalhães, defensor de Bola, contou que seu cliente reagiu com indiferença.
“Jorge tem questão pessoal contra Bola e há anos tumultua a vida dele. Se fosse verdade, tentaria uma revisão e até anulação do processo, já que não houve esquartejamento nem a qualificação pela forma cruel que o crime teria sido cometido. Caso o corpo apareça, Bola será o principal interessado na perícia que, certamente, o inocentará”, concluiu

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