Admiro
pessoas sinceras. A sinceridade é, realmente, algo muito louvável em um
mundo de tanta sem-vergonhice, de tantas mentiras, maldades, violências
e enganações. Mas, a meu ver, tudo que é cultuado em excesso é
prejudicial, por melhor que pareça. Tudo tem limite. Até a sinceridade,
algo tão maravilhoso e perfeitinho, tem limite.
Ser
franco é uma coisa muito bonita, sem dúvida, quando é usada para evitar
que alguém seja feito de bobo, para não passar por mentiroso, para
abrir os olhos de quem merece um empurrãozinho para perceber certas
coisas. Nesse caso, é questão de lealdade. Mas tem gente que não mede as
consequências de sua sinceridade. Puxa, será que dá pra ter ataques de
sinceridade apenas quando é conveniente?
Claro
que não estou defendendo a mentira, mas não acho necessário ser sincero
ao dizer o quanto alguém engordou, quando se sabe que aquela pessoa
está malhando desesperadamente e se alimentando mediocremente em prol de
sua saúde. Você não precisa dizer a uma amiga que reparou nas unhas
descascadas dela e que acha isso um relaxamento. (Afinal, nem se sabe
como foi a semana dela para julgar isso como falta de vaidade. Vai ver,
vontade de se ajeitar não faltou, mas podem ter faltado outras coisas.)
Não precisa dizer “oh, você estragou seu cabelo!” quando alguém chega
super feliz achando que vai agradar com seu visual novo. A não ser que
essa pessoa pergunte, e que ela demonstre estar pronta para ouvir uma
opinião sinceramente negativa.
Não
precisa mentir para as pessoas. E nem se deve fazer isso, de forma
alguma. Mas meter o nariz onde não se é chamado, emitindo uma opinião
negativa que não foi solicitada, apenas para tentar se fazer presente,
fingir para os outros que se sente mais importante, sem pensar se vai
chatear o outro ou não, é, muitíssimo sinceramente, coisa de gente
pequena. Temos o direito e o dever de sermos sinceros, desde que, para
isso, não tenhamos feito com que ninguém se sinta um lixo. Para isso
existem os eufemismos.
Temos
o direito de nos irritar com uma pessoa que está com a saúde abalada
por causa, por exemplo, da obesidade, e continua comendo
compulsivamente. Mas ninguém tem o direito de julgá-la e humilhá-la por
isso. Temos, sem dúvida, o direito de achar que alguém não ficou bem com
determinada roupa, mas, se esse indivíduo está se sentindo bem assim,
nós evidentemente não temos o direito de estragar o bem-estar alheio.
Temos o direito de achar o outro feio, gordo, cafona, ridículo,
mal vestido, desarrumado e o raio que o parta. Mas dizer isso só pra se
sentir formador de opinião e melhorar a própria autoestima às custas da
de outrem, é mesquinhez. É importante dizer o que se pensa, e isso é
incontestável, para que possamos ter relações decentes com as pessoas
que nos cercam. Mas nem tudo o que pensamos deve ou pode ser dito.
Porque
a sinceridade é uma das características mais admiradas pelos seres
humanos. Mas quem sente a sinceridade destruidora de pessoas fúteis e
vazias sabe que tudo, em excesso, tem um lado ruim. Talvez esteja aí a
linha tênue entre a sinceridade necessária e a estupidez controladora.
Uma coisa é ser crítico. Outra é ser inconveniente.
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