Ex-presidente
defendeu alianças estaduais do PT com partidos que votaram a favor do
impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff
Estadão Conteúdo
Brasília
- Na primeira entrevista coletiva à chamada grande imprensa depois de
vários anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta
quarta-feira que não quer mais ser visto como um "radical". O petista,
que pode ser impedido pela Justiça de concorrer à Presidência em 2018,
defendeu alianças estaduais do PT com partidos que votaram a favor do
impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, disse que pretende
dialogar com empresários "que ainda pensam no Brasil" e prometeu
pacificar o País caso seja eleito pela terceira vez. "Eu não vou
ser mais radical. Estão dizendo que estou mais radical. Não tenho cara
de radical nem o radicalismo fica bem em mim. Estou é mais sabido",
disse Lula, que recebeu 12 jornalistas para um café da manhã na sede do
Instituto Lula. Segundo ele próprio, fazia "muito tempo" desde o último
encontro Para "matar a saudade", Lula respondeu aos repórteres durante
duas horas e meia. 'Não vou ser mais radical', diz Lula
José Cruz/Agência Brasil
Uma semana depois de o Tribunal Regional Federal da
4.ª Região (TRF-4) marcar para o dia 24 de janeiro o julgamento que
pode deixá-lo inelegível, o ex-presidente tentou demonstrar bom humor
"Eu não posso estar mal humorado porque sou corintiano e estou em
primeiro lugar em todas as pesquisas."
Em ao menos oito vezes ao longo da conversa Lula reiterou que é inocente e desafiou a Lava Jato a apresentar provas de que é dono
do triplex no Guarujá. Ele disse ainda que não tem medo de ser preso,
mas vai usar todos os recursos judiciais para garantir o direito de ser
candidato. "Não quero passar para a história como um inocente
condenado", afirmou o petista. "A única chance que tenho é pedir provas.
Não é possível que alguém seja dono de uma coisa que não é dono",
completou.
Condenado a 9 anos e 6 meses por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, Lula voltou a criticar a Lava Jato e
disse não ter medo de ser preso. "Eu não penso. Não penso porque acho
que preso só pode ir quem cometeu um crime."
‘Empresários’
Crítico à onda
de ódio que, segundo ele, tomou conta do debate político, Lula prometeu
pacificar o País. "Estou convencido de que é possível ganhar
as eleições e juntar um grupo de pessoas sérias neste País. Está cada
vez mais difícil, mas é possível juntar empresários que ainda pensam
neste País", afirmou. O
ex-presidente também demonstrou pragmatismo ao falar das alianças que
pretende fazer para garantir a governabilidade, caso volte ao Planalto.
"Se você não tem (maioria) sozinho nem com seus aliados você tem que
compor com quem está lá. E pode fazer acordos programáticos, não tem que
fazer acordo toma lá dá cá", disse Lula, citando como exemplo positivo a
aliança com o PMDB do presidente Michel Temer. Enquanto boa parte
da base petista defende a aliança do partido apenas com legendas do
campo da esquerda, Lula disse que a realidade local pode impor ao PT
coligações pontuais com partidos que apoiaram o impeachment. "Acho que
não deve se aliar com partido que apoiou o impeachment, mas essa coisa é
muito teórica porque temos que saber a realidade de cada Estado. Como é
que o (Fernando) Pimentel vai abrir mão lá em Minas do PMDB que defende
ele o tempo inteiro. Então temos que ir caso por caso." ‘Traição’ O
figurino "paz e amor", no entanto, ficou por aí. Questionado se perdoa
os ex-aliados que ajudaram a derrubar Dilma, Lula demonstrou estar
magoado, especialmente com o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab,
presidente do PSD, partido que ocupou dois ministérios no governo do
PT. "Eu sinceramente não posso aceitar que a Dilma tenha dado a
força que deu para o Kassab e ele traí-la da forma mais vergonhosa como
traiu. Não é nem o fato de trair. É o fato de não entregar uma carta
para a Dilma. É o fato da mentira", disse Lula. Porém, segundo o
ex-presidente, a mágoa se restringe a alguns integrantes da "alta
direção" desses partidos. "Com estes caras não há porque fazer alianças.
Mas o partido pode mudar a direção", afirmou. Além de grandes jornais brasileiros e estrangeiros, o encontro reuniu jornalistas de blogs
e sites de esquerda. No final, Lula voltou a defender a regulação da
mídia por meio de uma proposta elaborada pelo Executivo e aprovada pelo
Congresso.
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