Na casa do DJ: decoração luxuosa e narguilés (instrumentos para fumo coletivo) | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Na mansão do DJ Mr. Cabral, preso domingo, atores, comediantes e modelos eram figuras carimbadas nos eventos regados com entorpecentes sintéticos e música eletrônica
Rio - O luxuoso casarão de três andares no Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio, onde vivia o empresário e DJ José Cabral dos Santos Filho, o Mr. Cabral, não atraía apenas grã-finos da Zona Sul e da Barra da Tijuca. Investigações da 28ª DP (Campinho) e depoimentos obtidos pelos agentes revelam que artistas de TV também eram figuras assíduas nesses eventos restritos promovidos pelo acusado de tráfico, preso domingo justamente quando estava no comando das picapes (mesa de som).
Além de atores, comediantes, modelos e promotores de eventos, patricinhas e mauricinhos viviam por lá. No momento em que a Polícia Civil invadiu a casa, às 15h45 de domingo, havia nove pessoas, a maioria da Zona Sul, pulando e dançando sem parar. Um engenheiro de Laranjeiras, uma estudante da Lagoa, um relações públicas de Copacabana, um administrador de empresas do Jardim Botânico e uma estudante da Tijuca, estavam entre elas.
“Ele (Cabral) era o financiador desse tráfico, e os outros faziam os contatos para vender. Quem frequentava essa casa estava ali para consumir drogas. E, nesse meio, praticamente todo mundo é de classe média ou classe média-alta”, disse a delegada Adriana Belém.
Atrativos não faltavam. No terraço com piscina, bar, banheiro, cabine para o DJ e espaçosa pista para dançar, com estroboscópico e jogo de luzes, a privacidade era total. No estoque, dezenas de latas de cerveja, energéticos, vodcas e uísques importadas e, claro, muita água, bebida preferida dos turbinados pelas ‘balas’ de ecstasy. As festas eram tão concorridas que Cabral distribuía pulseiras aos convidados, evitando a presença de penetras.
A polícia não fala dos lucros dos suspeitos. Mas admite que Mr. Cabral não vivia só das drogas que fornecia. Ele tem ainda uma empresa de produção de crepes e outra de bufê, que também servia festas de artistas, inclusive eventos infantis. Semana passada, Cabral ficou sete dias entre Barcelona e Ibiza, na Espanha, em evento de música eletrônica. Apesar de as drogas sintéticas comercializadas pelo grupo saírem da Europa, a polícia não acredita que ele tenha feito contrabando na viagem.
Professor de universidade na mira dos investigadores
Nos três meses de apurações, a 28ªDP (Campinho) identificou um médico — coordenador do setor de bioquímica de uma universidade do Rio — que está sendo investigado pelas ligações com um dos acusados presos no domingo. Em depoimento, o personal trainer Márcio Bonifácio dos Santos, o Márcio Bomba, admitiu conhecer o médico, mas negou qualquer envolvimento dele com drogas.
"Temos indícios de que o médico emprestava o apartamento dele, em Copacabana, para fazer o entreposto das drogas que comercializa. O que continuamos investigando é se ele ajuda a fazer a mistura química dos produtos, já que o Special K e o DY são preparados por eles para confeccionar as drogas sintéticas”, explicou Adriana Belém, que deverá intimar o médico a depor.
Anteontem, na casa de Mr. Cabral, os agentes apreenderam um moderno micro-ondas com forte cheiro de mistura química. Ele foi enviado para ser periciado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE).
Cabral, que tentou o suicídio cortando o pescoço com vidro de um frasco de perfume, continua internado e passa bem.
Apreensão de anabolizante
A operação iniciada pela Polícia Civil domingo — que culminou com o fechamento de boate na qual 400 jovens se divertiam na Lapa, e onde foram apreendidos vários tipos de drogas sintéticas — teve sequência ontem de manhã. Os agentes estiveram na Academia Neves, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde Márcio Bomba dava aulas, para cumprir um dos mandados de busca e apreensão. Seu armário não foi encontrado, mas numa lixeira foram apreendidos anabolizantes como Durateston, Deca Durabolin e Hemogenin.
Polícia faz buscas a outro suspeito
William Zubelli de Assumpção é outro acusado de integrar o bando. Desde domingo, agentes o procuram em Santa Rosa, Niterói, onde mora, e em outros endereços. Ele continua foragido. Agentes foram à casa de outro William, cujo endereço aparecia no banco de dados da polícia. Um computador foi apreendido. “Tudo indica que é um homônimo, mas precisamos analisar o computador. Depois, se tudo estiver correto, o aparelho será devolvido”, disse a delegada Adriana Belém.
ESCUTA
William e homem identificado como Moscão conversam para não ser pegos com drogas na festa:
Moscão: É, aqui na entrada... eu vi um maluco com cachorro, cão farejador, essas paradas assim também...
William: É polícia ou estão andando pra lá e pra cá?
Moscão: Não sei se pra entrar eles ‘tão’ com cachorro, não, a gente vai ver mais tarde. Só que eu tô bolado se pra entrar botarem o cachorro pra dar uma farejada.
William: É mesmo?
Moscão: É, eu não sei, não cheguei lá ainda. Mas eu tô pra ver ainda, entendeu? Se eles estão colocando cachorro pra farejar alguma coisa fica esquisito, né? Vai botar onde? No tênis?
William: Onde o Batata vai botar a dele é tranquilo, você pode botar também onde ele vai botar...
Moscão: Lá no ‘sacão’?
William: Não, você bota no meio das nádegas.
Moscão: Ah, entendi. Vou ver essa parada então.
William: Mas tem que entocar legal aí...
POR LESLIE LEITÃO
O Dia
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