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8.18.2010
PERDÃO
Falar em perdão é muito difícil. Na religião cristã, padres, pastores, religiosos (as) em geral, ressaltam o perdão como uma grande virtude. Jesus mesmo disse que devíamos perdoar nossos inimigos setenta vezes sete o número de vezes que for necessário. Na prática, isso não ocorre. Quando alguém nos fere, nos agride, seja em palavras, gestos ou fisicamente, a primeira reação que temos é de revidar. Isso faz parte do instinto natural do ser humano. Quando eu era evangélico, o pastor da Igreja que eu fazia parte, explicava que não era pecado reagir quando formos atacados, ou seja, em legítima defesa. Lá era ressaltado sempre o perdão de Deus a nossos pecados. Mas o perdão que pressupõe o reconhecimento da culpa, um arrependimento sincero e uma disposição para apagar os ressentimentos, pouco ou nada era ressaltado. São essas as três características que a reportagem coloca como o perdão laico, aquele que é próprio da pessoa humana, sem nenhuma interferência religiosa.
O perdão é visto, pela reportagem, como uma via de mão dupla nas faces da vida contemporânea – ente marido e mulher, entre colegas de trabalho, entre nações, entre empresas e consumidores. Mas nem sempre foi assim. Essa idéia de perdão é recente na história ocidental. O filósofo David Konstan assinala que até o Iluminismo, no século XVIII, o perdão só existia com a intermediação divina. Em várias sociedades, por exemplo, os erros humanos eram atribuídos ao capricho dos deuses, como na Grécia antiga.
O sentido moderno de perdão, separado, portanto, da religiosidade, surgiu com Kant. Ele insistia na autonomia moral do homem em relação a Deus, possibilitando um entendimento secular de perdão entre as pessoas, na qual o remorso e a mudança interior do agressor deveria ser julgada pela pessoa ofendida e não mais por Deus, vendo o agressor como merecedor do perdão. O texto continua afirmando que a pessoa que se arrepende de seus erros não faz isso por ser virtuoso, mas porque a natureza humana é capaz de mudar.
Outro filósofo, Charles Griswold, estabelece três passos básicos para obter perdão. Assumir a responsabilidade pelo erro, repudiar claramente o erro, mostrando que não se pretende repeti-lo e, por último, exprimir arrependimento pela dor causada ao próximo.
Um aspecto importante destacado na matéria é o benefício que o perdão traz para a saúde dos envolvidos. Não é necessário fazer uma pesquisa científica para se comprovar isso. Se olharmos ao nosso redor e observamos as pessoas mais infelizes, mais angustiadas, que já não possuem mais a força vital da existência, a história de vida delas está associada a fatos pretérito que lhes causaram mal e a não liberação de perdão. A psicóloga Ana Maria Rossi disse que quem não perdoa não se liberta da raiva e revive o erro o tempo todo, o que acaba se tornando uma poderosa fonte de stress. Um estudo da Universidade Harvard revelou que o risco de sofrer problemas cardíacos é duas vezes mais alto em pessoas que guardam rancor de maneira prolongada.
Não perdoar só prejudica a pessoa ressentida.
Perdoar, antes de ser um gesto de amor ao próximo, é um gesto de amor próprio.
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