Cada vez mais pessoas se expõem pela Internet. A partir de que ponto este hábito vira patologia
Rio - É quase meia-noite. Sozinho e com insônia, você resolve navegar na Internet.
Decide que a primeira parada será o Twitter. Lá, o assunto é um só: um casal de adolescentes está trocando, ao vivo, carícias íntimas, enquanto são observados por mais de 20 mil pessoas. O programa usado é o Twitcam, pelo qual é possível interagir com outros internautas em tempo real. Não raro, essas interações ganham caráter sexual. E aí é que mora o perigo.
“O mundo virtual facilita um comportamento corajoso, exibicionista e voyeur”, explica o cyberpsicólogo Marcelo Sidrião Salgado, da Universidade de Fortaleza. Segundo ele, a Internet deixou de ser ferramenta para se tornar um lugar que parece, de fato, existir. O ambiente virtual faz o papel de janela pela qual os internautas projetam determinadas facetas da personalidade que, na vida real, teimam em esconder.
Salgado afirma que tanto o exibicionismo, quanto o narcisismo, deixaram de parecer doença para se tornar qualidade social. Mas não é só isso. De acordo com o coordenador do Departamento de Psicoterapia da Associação Brasileira de Psiquiatria, Telmo Kiguel, o exibicionismo na rede muitas vezes é sintoma de quadro psiquiátrico mais grave, como a histeria.
“Na maioria das vezes são mulheres. Elas falam alto, usam decotes, estão sempre alegres e se aproveitam dos atributos físicos para chamar atenção. São pessoas que se preocupam mais com a imagem, menos com o conteúdo. Muitas vezes a pessoa se controla na vida real, mas na rede deixa fluir”, afirma Kiguel.
Salgado ressalta que a Internet pode potencializar psicopatologias. Se a pessoa já tem um transtorno de personalidade e usa a ferramenta de forma exagerada, pode trocar o mundo real pelo virtual, e até sofrer um surto psicótico.
“A literatura internacional aponta que pessoas que usam o computador por mais de 15 horas podem ter alterações mentais. Não é difícil encontrar alguém assim. Já virou problema de saúde pública”, diz. O segredo, segundo ele, é moderar: tanto o tempo, quanto o modo de usar Internet. “Evite se expor. Não coloque tantas fotos, tantos vídeos, nem nada que possa se arrepender no futuro”, conclui.
A protagonista das cenas de sexo pelo Twitcam, de 14 anos, diz ter se arrependido. Ela contou que na hora ficou com vergonha, mas mesmo assim prosseguiu, sem noção do tamanho do problema que se tornaria sua ‘brincadeira’: ia tiranda a roupa conforme aumentasse a audiência. A exibição acabou em sexo. Agora, a polícia do Rio Grande do Sul investiga e pode até prender pessoas que ‘baixaram’ o vídeo.
O dia
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