3.18.2011

Gravidez na Adolescência

"Cresce, em todo o País, o número de partos feitos em adolescentes com idade entre 10 e 19 anos. Somente em 1999, de um total de 2,5 milhões de partos realizados, cerca de 700 mil foram de mães nesta faixa etária, o que corresponde a 28% do total de partos realizados na rede pública de saúde".

Introdução

Um a cada quatro bebês que nascem no Brasil são filhos de mães com idade entre 10 e 19 anos. Além dos riscos biológicos para a mãe e para a criança, a gravidez na adolescência também traz transtornos emocionais e econômicos para os núcleos familiares onde ela ocorre. A interrupção do processo de formação do indivíduo _ que é obrigado a deixar a escola e é excluído do mercado de trabalho _ e a falta de apoio da família e dos amigos, entre outros, são alguns dos dilemas que os adolescentes são obrigados a enfrentar quando se vêem à espera de um filho não planejado.

A falta de informação, de conhecimento sobre o próprio corpo e o início precoce da atividade sexual são algumas das causas dessa que se tornou a grade preocupação dos especialistas que trabalham diretamente com os adolescentes no Brasil. A situação é tão grave que o Ministério da Saúde já está criando projetos de prevenção em todo o País.

Estatísticas


Os transtornos da gravidez na adolescência ganham proporções ainda maiores quando se pensa no crescimento do número de partos feitos no Brasil em meninas com idade entre 10 e 19 anos.

Em 1999, do total de 2,6 milhões de partos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 31 mil foram feitos em meninas com idade entre 10 e 14 anos e 673 mil entre 15 e 19 anos. A ginecologista Silvana Gomes, que também é especialista em sexualidade humana na adolescência, reconhece o problema e afirma que é entre as jovens de 10 a 14 anos que a situação é mais complicada. Segundo ela, o número de partos feitos em mães com idade entre 15 e 19 anos aumentou, sim, mas de forma proporcional ao crescimento da população nesta faixa etária. Por outro lado, o crescimento de partos feitos nas meninas entre 10 e 14 anos foi muito maior que crescimento dessa população. "Nesta faixa etária, que é a que apresenta mais riscos tanto para a mãe quanto para o bebê, o número de partos disparou", explica.

Causas do Problema

De acordo com Silvana Gomes, são muitos os fatores que contribuem para a alta incidência da maternidade durante a adolescência. O início precoce da vida sexual, falta de uso de métodos anticoncepcionais _ ou uso inadequado deles _, dificuldade de acreditar na própria capacidade de reproduzir e falta de dinheiro para adquirir o método são algumas das causas mais comuns que, normalmente, aparecem associadas. "Também não é difícil perceber que, quanto menor a escolaridade, maior o risco de gravidez na adolescência", argumenta.

Para Virgínia Werneck Marinho, ginecologista infanto-puberal, também deve ser considerado o fato de que, para os adolescentes, mesmo que eles tenham informação sobre os riscos, qualquer planejamento pode tirar o encanto do sexo, o que os leva a praticar o ato sem pensar nas conseqüências. Outro problema é que os postos de saúde não atraem os jovens, eles têm medo de ser repreendidos pela decisão de iniciar a vida sexual e não confiam no SUS. "Cerca de 20% dos casos de gravidez na adolescência ocorrem nos primeiros meses de vida sexual e, entre 40% e 50%, no primeiro ano. Só quando os adolescentes passam por uma situação de risco é que eles vão pensar em se prevenir", explica.

Riscos de uma Gravidez não Planejada

São muitos os riscos de uma gravidez na adolescência. Ela é responsável por um imenso transtorno social para toda a família porque está fora de um contexto de casamento. "Antigamente, as meninas se casavam muito cedo e, consequentemente, também tinham filhos muito novas. Por isso, as implicações hoje em dia são muito mais sociais do que biológicas", diz Silvana Gomes. É dessa gravidez não planejada que vem o abandono da escola, o empobrecimento do núcleo familiar, exclusão da adolescente do mercado, etc.

No período dos 15 aos 19 anos, desde que com o devido acompanhamento médico, as adolescentes apresentam as mesmas características de gestação de uma mulher adulta, razão pela qual é mito dizer que elas sofrem maiores riscos biológicos de ficarem grávidas.

Antes dos 14, entretanto, a situação se complica. Segundo Silvana Gomes, nesta faixa etária, o sistema reprodutor da menina ainda não está amadurecido e, devido a isso, pode ocorrer maior incidência de doenças hipertensivas, partos prematuros, ruptura antecipada da bolsa, desnutrição do bebê e da mãe.

Outro fator preocupante é que o risco de mortalidade de bebês no primeiro ano de vida de filhos de mães adolescentes é muito maior do que em mães adultas, principalmente no que se refere aos cuidados no pós-parto.

Para Virgínia Werneck, essas mães também são imaturas emocionalmente e deixam de cuidar dos bebês. É muito comum que elas apresentem quadros graves de depressão.

"Quando a gravidez não é planejada elas começam o pré-natal mais tarde por medo de ser criticadas e, por isso, as chances de uma complicação são muito maiores".

Prevenção é o Melhor Caminho

Para os especialistas em adolescentes a grande saída para o problema da gravidez antes da hora é a prevenção. Segundo Virgínia Werneck, o Ministério da Saúde, juntamente com a Federação Brasileira de Ginecologia, criou o programa nacional Adolescer com Saúde. O programa objetiva preparar o profissional que atende o adolescente, capacitando-o para o desenvolvimento de atividades de prevenção da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis junto aos jovens. A idéia é oferecer aos adolescentes métodos para o exercício da sexualidade responsável. "O Ministério da Saúde tem feito vários programas, inclusive o de amparo à gestante adolescente. Entretanto, o foco tem que ser na prevenção" acredita.

A ginecologista Silvana Gomes compartilha da mesma opinião e conta que em Minas Gerais está sendo desenvolvida uma parceria entre as Secretarias Estaduais de Educação e Saúde para amenizar o problema no estado. Da parceria surgiu o programa Afetivo-sexual, para atender os adolescentes dentro das escolas e discutir com eles todas as questões relacionadas a sexo e sexualidade. "Não adianta só a saúde trabalhar porque os adolescentes não vão até os postos. Nós é que temos que ir até eles levando informações e disponibilizando o cesso aos meios anticoncepcionais".
Boa Saúde

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