Pesquisas indicam que a infidelidade feminina quase dobrou em uma década e que ciúme e carência são os principais motivos
DESCULPA
Dizer que pulou a cerca motivada pela traição alheia ameniza a culpa social feminina
Mais surpreendentes do que os números são os motivos que as fazem infiéis. Na pesquisa recém-divulgada da fundação, “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços públicos e privado”, aparece a vingança como a grande motivadora para elas procurarem outro homem. Uma em cada três (35%) disse que só enganou o parceiro porque descobriu que havia sido traída e desejava provocar ciúme.
A advogada C.V., 23 anos, seguiu essa cartilha. Após três anos de namoro, ela descobriu que o namorado se encontrava com outras. “Todo mundo sabia, foi humilhante”, conta C.V., que chegou a surpreender o amado abraçado a uma moça. A primeira reação da advogada foi ceder às investidas de um colega de classe. “Na hora me deu tanta raiva que eu só pensei em dar o troco, nem estava apaixonada.” A pulada de cerca foi passageira e o namoro ainda durou três meses. “Mas eu não conseguia mais confiar nele e terminei tudo.” Segundo a antropóloga Mirian Goldenberg, elas dizem que foram empurradas para o colo de outro por vingança porque, mesmo inconscientemente, sabem que é mais aceitável do que assumirem uma atração física. “Culpar o homem pela traição, é uma desculpa social, já que em nossa sociedade não é aceito que as mulheres tenham o desejo de ter mais de um homem”, explica a autora de “Por que os Homens e as Mulheres Traem?” (editora Record). Em suas pesquisas, Mirian encontrou um índice de traição feminina de 47%. “As mulheres estão mais ativas no comportamento sexual, mas no discurso continuam se colocando como vítimas”, completa.
CONTROLE
Quando C.V. descobriu que o namorado a traía,
decidiu ceder às investidas de um colega de classe
Outra especialista em relacionamentos amorosos, a psicanalista Regina Navarro Lins, autora do best seller “A Cama na Varanda” (editora Best Seller), explica que as mulheres lançam mão de motivos dramáticos para justificar um comportamento não aceito pela sociedade porque são educadas a ser frígidas. “Feminilidade no século XIX era não gostar de sexo e até hoje elas têm dificuldade de dizer que gostam”, explica a médica, que, em levantamento pela internet para escrever o livro “A Cama na Rede” (editora Best Seller), no ano passado, registrou índice de 72% de pessoas que já traíram, tanto homens quanto mulheres. Somente 11% das entrevistadas na pesquisa da Perseu Abramo admitiram que o que as levou aos braços de outro foi simplesmente a atração física. Ainda aparecem como causas da traição feminina o fato de ter casado por obrigação, a violência do marido e a ausência de vida sexual.
TROCO
Denise acabou saindo com um vizinho depois
que descobriu que o marido tinha amante
Por outro lado, os homens não cresceram sob esse tabu e conseguem fazer a separação com facilidade. Tanto que os índices de traição masculina continuam altos. Na pesquisa da Perseu Abramo, que também entrevistou 1.181 homens, 45% deles disseram já ter traído. “Sexo e amor são coisas distintas, você pode amar e não querer ter sexo e gostar de ter sexo e não querer casar. Está mais do que na hora de acabar com essa ideia de que uma pessoa tem que contemplar tudo. É por isso que existe tanta frustração nas relações”, defende Regina. E as mulheres, segundo ela, são as que mais sofrem e se mostram mais insatisfeitas nos casamentos. “Por causa desse pacto de exclusividade, que na prática é uma ficção, 80% dos casais vivem mal. Não sou contra casamento, mas essa fórmula que está aí não está dando certo”, preconiza a pesquisadora.
Nisso, os estudiosos das relações amorosas são uníssonos: homens e mulheres vão encontrar cada vez mais novas formas de se relacionar. “O jeito como lidamos com o amor está em constante transformação. É só imaginar que até há muito pouco tempo adultério era considerado crime”, lembra Carmita Abdo, da Prosex/USP. Para Mirian Goldenberg, a vantagem é que os casais terão mais opções. “Alguns manterão a exclusividade sexual como principal valor do casamento, outras experimentarão maior liberdade.” Regina Navarro vai mais longe. “Acredito no poliamor, quando se pode amar e ser amado por mais de uma pessoa.” Pelo jeito, se relacionar com o sexo oposto ficará mais e mais complexo daqui para a frente. Mas quem disse que um dia foi simples?
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