9.12.2011

Geração omeprazol

Estresse com multitarefas, má alimentação e bebidas aumentam gastrite entre jovens

RIO - A estudante de Direito Gabriela Hermosilla, de 19 anos, sai de casa às 7h para ir à faculdade. Antes, confere a lista do que não pode esquecer: caderno, caneta, celular e, claro, o comprimido de omeprazol - medicamento popular para combater doenças como úlceras nervosas e esofagite - que precisa tomar todos os dias. Ela, como muitos outros jovens, sofre de gastrite. Até hoje já foram duas crises: uma na época de vestibular e outra há alguns meses, quando estava estudando "loucamente" para uma prova difícil, como ela mesma diz.
- A primeira vez em que senti uma dor forte no estômago achei estranho, mas logo diagnosticaram como um problema relacionado à ansiedade. Hoje, eu sei como funciona: quando estou passando por um momento estressante nos estudos, a dorzinha reaparece - conta Gabriela, que mudou sua alimentação, cortando frituras e bebidas com cafeína, como refrigerantes e café, e se submete a uma endoscopia digestiva por ano.
Problema é de fundo emocional
Problemas gastrintestinais têm atingido cada vez mais jovens e adolescentes. Segundo especialistas, as principais causas estão associadas ao estresse, à má alimentação e à ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. O gastroenterologista Ricardo Fernandez Fittipaldi, da Federação Brasileira de Gastroenterologia e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, diz que 90% de seus pacientes jovens têm um diagnóstico de dispepsia funcional, antigamente chamada de gastrite nervosa.
- É uma doença de adultos jovens, que estão submetidos à pressão e se firmando na profissão. O estresse contribui para problemas de estômago, sobretudo quando há cobrança e competitividade no trabalho ou na faculdade. Os pacientes sentem dor e desconforto, mas, na maior parte dos casos, não há alteração orgânica ou anatômica. É uma doença de fundo emocional - diz Fittipaldi.
E foi na estressante fase do vestibular que a cake designer Giulia Hora, de 21 anos, começou a ter os primeiros sintomas de gastrite. Para completar, ainda apareceu uma estomatite, que causava aftas na boca. Na faculdade, o problema melhorou, mas, agora que ela está abrindo o próprio ateliê, as dores podem voltar.
- Tenho virado noites para entregar as encomendas e relaxei um pouco com a alimentação. Senti um desconforto algumas vezes e já estou policiando minha ansiedade para o problema não voltar - relata Giulia.
Se o estresse é o grande vilão do estômago, a estudante Júlia Cavalcante, de 22 anos, está cometendo um crime gástrico. Ela faz duas faculdades, de Administração e Direito, e dois estágios, além de um curso de inglês. Claro, ganhou uma gastrite. Sempre correndo, ela come nas lanchonetes da faculdade ou do shopping perto do estágio que faz à tarde, em Botafogo. Júlia acaba se rendendo ao salgadinho com refrigerante.
- Na época de provas, sempre pioro. O jeito é tomar um omeprazol, e seja o que Deus quiser! - ela diz, mantendo o bom humor.
O estilo de vida de Bira David também não passou no teste gástrico. Videomaker, fotógrafo do site PartyBusters (que registra festas) e, até alguns meses atrás, produtor de festas, o rapaz de 25 anos começou a sofrer de gastrite depois de abrir uma produtora de vídeos. Como se o volume de tarefas não fosse o bastante, a função tinha um agravante: bebida liberada.
- Quando você trabalha na noite, entra nas boates de graça, e o pessoal muitas vezes oferece um drinque. Depois que o trabalho terminava, lá pelas 4h, eu bebia para relaxar. Só que isso, várias vezes na semana, não podia dar certo, né? - conclui Bira.
As noites desregradas duraram três meses, mas, aliadas a poucas horas de sono, estresse e má alimentação, foram suficientes para desencadear a gastrite. Além da medicação correta, Bira teve que se tornar superdisciplinado, mesmo trabalhando em horários incomuns. Nada de cerveja, salgadinho pós-night ou voltar para casa ao meio-dia.
O globo
Lauro Neto lauro.neto@oglobo.com.br e Marina Cohenmarina.cohen@oglobo.com.br

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