O diagnóstico cai como uma bomba: é câncer. Depois de exames, tratamentos e até cirurgia, vem a reviravolta: o tumor era benigno.
O roteiro acima, vivido pela presidente argentina Cristina Kirchner neste mês, por causa de um diagnóstico de câncer de tireoide descartado, não é incomum.
A confusão pode ocorrer por problemas nos exames. Há tumores agressivos, em que a identificação de células de câncer é mais fácil, e outros nem tanto, que formam uma zona cinzenta, diz Fernando Soares, diretor de anatomia patológica do Hospital A.C. Camargo.
Fazem parte dessa zona cinza tumores pouco agressivos e doenças que, na biópsia, se parecerem com câncer, como a tireoidite, uma inflamação da glândula.
Na literatura médica, os falsos-positivos de câncer de tireoide chegam a 10% dos diagnósticos, segundo Carlos Renato Almeida Melo, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia.
A confirmação da doença depende da qualidade e da quantidade da amostra de tumor analisada e da experiência do patologista. O método também pode ter influência.
Melo diz que os erros em biópsias (em que as células de tumor são extraídas por cirurgia) são menos frequentes que em punções por agulha.
"A agulha pode não trazer as células que determinam o diagnóstico e o material pode vir com baixa qualidade."
O erro também pode ser uma má interpretação do patologista, diz Melo. "Nada é pior do que cometer um erro que põe uma vida em risco."
Em alguns casos, a única forma de descartar a dúvida é remover o suposto tumor por cirurgia, de acordo com Pilar Estevez Diz, coordenadora da oncologia clínica do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira).
Mas, de novo em relação à tireoide, mesmo a análise após a retirada do órgão pode não confirmar o diagnóstico, afirma Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de cirurgia de cabeça e pescoço do A.C. Camargo.
Da parte do paciente, diz Soares, o que pode ser feito é conhecer o patologista e escolhê-lo, como se faz com outros profissionais da saúde.
PROBLEMAS
Receber a notícia de que a doença não era câncer causa alívio, mas o falso-positivo também traz problemas, como os custos de tratamentos e exames desnecessários e o desgaste emocional.
"O fato de ter pensado que estava com câncer fez a pessoa passar por todos os sustos e as angústias do diagnóstico", diz Luciana Holtz, psicóloga do Instituto Oncoguia.
"O primeiro impacto ao saber que não era câncer é como se a pessoa tivesse ganho na loteria. Depois, ela pode pensar que não precisava ter passado por tantos exames e ter ressentimento e raiva", afirma Soares.
Outro problema apontado pelo patologista é um eterno "pé atrás" com qualquer diagnóstico. "Um falso-positivo pode minar a confiança da pessoa nos médicos."
O roteiro acima, vivido pela presidente argentina Cristina Kirchner neste mês, por causa de um diagnóstico de câncer de tireoide descartado, não é incomum.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Fazem parte dessa zona cinza tumores pouco agressivos e doenças que, na biópsia, se parecerem com câncer, como a tireoidite, uma inflamação da glândula.
Na literatura médica, os falsos-positivos de câncer de tireoide chegam a 10% dos diagnósticos, segundo Carlos Renato Almeida Melo, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia.
A confirmação da doença depende da qualidade e da quantidade da amostra de tumor analisada e da experiência do patologista. O método também pode ter influência.
Melo diz que os erros em biópsias (em que as células de tumor são extraídas por cirurgia) são menos frequentes que em punções por agulha.
"A agulha pode não trazer as células que determinam o diagnóstico e o material pode vir com baixa qualidade."
O erro também pode ser uma má interpretação do patologista, diz Melo. "Nada é pior do que cometer um erro que põe uma vida em risco."
Em alguns casos, a única forma de descartar a dúvida é remover o suposto tumor por cirurgia, de acordo com Pilar Estevez Diz, coordenadora da oncologia clínica do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira).
Mas, de novo em relação à tireoide, mesmo a análise após a retirada do órgão pode não confirmar o diagnóstico, afirma Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de cirurgia de cabeça e pescoço do A.C. Camargo.
Da parte do paciente, diz Soares, o que pode ser feito é conhecer o patologista e escolhê-lo, como se faz com outros profissionais da saúde.
PROBLEMAS
Receber a notícia de que a doença não era câncer causa alívio, mas o falso-positivo também traz problemas, como os custos de tratamentos e exames desnecessários e o desgaste emocional.
"O fato de ter pensado que estava com câncer fez a pessoa passar por todos os sustos e as angústias do diagnóstico", diz Luciana Holtz, psicóloga do Instituto Oncoguia.
"O primeiro impacto ao saber que não era câncer é como se a pessoa tivesse ganho na loteria. Depois, ela pode pensar que não precisava ter passado por tantos exames e ter ressentimento e raiva", afirma Soares.
Outro problema apontado pelo patologista é um eterno "pé atrás" com qualquer diagnóstico. "Um falso-positivo pode minar a confiança da pessoa nos médicos."
Folha
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