“O que mais encontro é homem atrás de uma mulher de verdade. Porque, de “piriguetes”, o mundo tá cheio”, me escreve Bia. Além da Bia, muitos leitores se queixam: não tem mais mulher pra namorar. Tem mulher na balada de saltão e vestidinho colado, tem mulher fazendo bonde em baile funk, tem mulher pegando ponte aérea… Mas não tem mais mulher pra na-mo-rar.
E afinal de contas, o que é mulher “pra namorar”? Eles dizem que é a mulher para ser “mãe dos filhos deles”. Isso ainda existe? E as “piriguetes” não são “namoráveis”? (Será que elas sabem disso?) Talvez elas não dêem a mínima, queiram só se divertir, fazendo coro à leitora Claudilene, que diz que “pra arrumar porcaria, é melhor ficar sozinha, livre, leve e solta”. Ou como outra leitora, para quem “homem é igual camarão: aproveita o corpo e joga a cabeça fora”.
Pelo que parece, viramos vorazes devoradoras de homens. E variamos de parceiros da mesma forma que (imaginamos) os homens fazem. Como diz o ditado: “camarão que dorme, a onda leva”. Pelo andar da carruagem, concluo que passamos a categorizar os homens em “homem-pra-namorar” e “homem-pra-ficar”. O homem para namorar é aquele que a gente quer que seja o pai dos nossos filhos e o homem para ficar, bem, este nós sabemos… Tudo de acordo com a filosofia de uma das leitoras que diz que enquanto não acha o “certo”, se diverte com “os errados”. Mas e se, no meio do caminho, uma periguete se apaixonar por um “homem-pra-namorar”? Ou o homem-pra-namorar nunca ficaria com uma “periguete”? E “periguete” não é mulher?
Será por isso que os homens se queixam de que não tem mulher? Será que não estamos nos perdendo no meio de tantos escaninhos, querendo encaixar pessoas em categorias que só existem nas nossas cabeças?
Ou será que ninguém mais quer namorar mesmo? Ou todo mundo quer namorar, mas esqueceu como se faz? Os homens dizem que falta mulher. As mulheres dizem que falta homem. Se não tem homem e não tem mulher, então onde está todo mundo? Quem são estas pessoas que a gente vê pela rua todos os dias?
Talvez a resposta esteja no desencontro. Os papéis ancestrais se perderam: passamos muito mais anos escondidas nas cavernas carregando os filhotes nas costas, esperando que um homem nos trouxesse comida do que arcando com nossa própria subsistência. Por outro lado, os homens também passaram os últimos séculos como “reis da cocada preta”, mandando e desmandando enquanto provedores de seus lares. É tudo muito novo para todos nós.
Mas nos dias de hoje, já não sabemos mais quem tem que sustentar a casa, lavar a louça ou trocar as fraldas do bebê. A mulher sai para trabalhar e ganha igual ao homem, mas ainda se ressente em dividir as contas. O homem não é o mais o provedor que sustenta a casa, mas ainda se recusa a fazer o jantar. Ninguém sabe mais o que quer ser quando crescer.
E a porta da rua nunca foi usada com tanta facilidade. Saímos das relações como quem troca de roupa, em busca de uma felicidade que estará no próximo parceiro: “não suportamos nada, não temos paciência e tolerância com os homens”, escreve a leitora Elaine. “O que falta em muitos casos é interesse mútuo, aliado a egos inflados e indisposição para o diálogo”, complementa Carlos. Realmente, parece que a “tolerância não é o ponto forte de nossa sociedade”, como salienta outra leitora.
Não sei. De um lado, faltam homens e mulheres. De outro, como diz um leitor,“sobram mulheres sozinhas e homens sozinhos”, como diz um leitor. Confesso que agora fiquei meio perdida.
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