Pacientes já se beneficiam em áreas como cardiologia, ortopedia e oftalmologia
— A terapia com células-tronco me salvou, reduziu a isquemia em quase 100%, melhorando o fluxo de sangue do meu coração. Eu, que não subia escadas há dez anos, hoje tenho vida ativa e sofro apenas as limitações de um homem da minha idade — conta Nélson, que trabalhou até pouco tempo atrás e toma remédios para o coração.
Para o médico Antônio Carlos Campos de Carvalho, coordenador de Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia e do Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias, do Ministério da Saúde, é cedo para saber se a terapia funcionará em todos os cardíacos, mas os dados iniciais são animadores. No Brasil, médicos retiram células-tronco aspiradas da medula óssea, na região do ilíaco (bacia), e as injetam nas artérias coronárias ou no músculo cardíaco, como fizeram os americanos. A estimativa é testar esta terapia em 1.200 pacientes inicialmente. Os primeiros dados serão publicados ainda este ano.
— Passamos da fase 1, de avaliação de segurança, e iniciamos a 2, para saber a eficácia da terapia. Em doentes de Chagas, não houve melhora. Para infarto, ainda recrutamos pacientes. No mundo, alguns estudos mostram benefícios e outros não. E a Europa está iniciando uma pesquisa maior, com três mil pacientes que sofreram infarto, para avaliar se a terapia celular reduz a mortalidade — diz o também professor do Instituto de Biofísica da UFRJ.
Atual secretário de Saúde e Defesa Civil do município do Rio, o cardiologista Hans Dohmann coordenou o primeiro ensaio com células-tronco em terapia cardíaca no país (do qual participou Nélson Águia), ao lado de Radovan Borojevic. Agora, é responsável pelo grupo de infarto no estudo nacional (143 pacientes), e acredita que os benefícios serão maiores para casos crônicos graves, em que os doentes não têm condições de receber transplante.
— O caso de Nélson é sinal de que a terapia pode funcionar. Outros que receberam a terapia na mesma época viveram além da nossa expectativa. E a cardiologia é só uma das áreas em que a terapia pode dar certo — diz.
Também a ortopedia tem conseguido bons resultados com o uso de células-tronco do próprio paciente para tratar fraturas de ossos longos, como o fêmur, que não se curam ou demoram a se consolidar. Ortopedistas da UFF, liderados por Vinícius Schott Gameiro, avaliam a técnica na Unidade de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário Antônio Pedro. Com Douglas Ribeiro, de 31 anos, que fraturou o fêmur num acidente de moto em 2007, funcionou:
— A fratura não consolidava; eu não andava. A terapia acelerou o processo. Hoje, voltei a jogar futebol — festeja.
Na prática, a área mais beneficiada até agora é a dermatologia. A terapia celular tem sido usada em clínicas para melhorar a qualidade da pele envelhecida, no preenchimento de rugas, sulcos e cicatrizes de acne. Nestes casos, a terapia consiste na extração de fibroblastos (produtores de colágeno e elastina), a partir de uma amostra de pele ou gordura, e em sua reinjeção na derme, explica a dermatologista Paula Bellotti, que trabalha com o Laboratório Excellion e com o professor Radovan Borojevic, titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Elizabeth Khoury Raposo, de 68 anos, fez duas aplicações, associadas a outros tratamentos dermatológicos, e aprovou.
— Rejuvenesci. Parece que estou vendo o meu álbum de fotografias de trás para a frente — brinca.
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