Desafio inclui adaptar equipamentos prontos, como o estádio do Engenhão e o Parque Aquático Maria Lenk
RIO - A quatro anos do início dos Jogos Paralímpicos do Rio, a cidade
ainda tem um longo caminho a percorrer para ser considerada acessível a
atletas, visitantes e cariocas com deficiências físicas, visuais e
auditivas. Além de tirar do papel novos equipamentos esportivos,
projetados com acessibilidade universal (dando ao deficiente autonomia
de circulação), o desafio paralímpico inclui adaptar equipamentos
prontos, como o estádio do Engenhão e o Parque Aquático Maria Lenk. Será
preciso ainda vencer as barreiras impostas pelas calçadas da cidade,
onde, segundo o Censo 2010 do IBGE, 89% dos 1,88 milhão de domicílios
não têm rampas para cadeirantes em suas imediações. Nos transportes,
estações de trem terão que ser repaginadas, a começar pelo ramal de
Deodoro, o principal a atender às áreas de competições do Maracanã e de
Deodoro. E o Rio Ônibus terá que acelerar a transformação da frota de
8.700 coletivos em 100% acessíveis — hoje esse percentual está em 60%.
As calçadas nada amigáveis do Rio serão alvo de um projeto de reforma, batizado de Calçada Lisa, que pretende adaptar 700 mil m² de passeios públicos nos próximos quatro anos. Segundo o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osorio, deverão ser investidos cerca de R$ 89,6 milhões a partir de 2013 na colocação de rampas para cadeirantes e piso tátil para orientação dos deficientes visuais. As obras serão concentradas em bairros de grande circulação de pedestres, a começar por Copacabana. Cinco mil rampas serão instaladas em calçadas de outros pontos da cidade.
— O Rio não é acessível. Temos um passivo grande nessa área — admite.
De acordo com o secretário, o Calçada Lisa focará em passeios públicos de áreas onde a urbanização está consolidada. As instalações olímpicas, como os Parques Olímpicos da Barra e de Deodoro, e projetos de reurbanização, como o Porto Maravilha e o entorno do Maracanã, já sairão do papel com acessibilidade total.
Sinal sonoro, só na Urca
Uma iniciativa que chega tarde diante das dificuldades diárias impostas a cadeirantes e deficientes visuais. Uma amostra dos problemas ficou evidente no teste feito, a pedido do GLOBO, pelo funcionário do Instituto Brasileiro dos Direitos das Pessoas com Deficiências (IBDD), João Carlos Faria da Rocha, nas calçadas de Copacabana. A proposta era descer a Rua Figueiredo de Magalhães até a Avenida Atlântica. Foi uma prova de esforço.
— Temos rampas em alguns lados da calçada e de outros não. Você não completa a travessia e tem que ir para a rua. Andar na calçada no Rio é como fazer slalom (canoagem em meio a obstáculos) — reclama.
Para os deficientes visuais, a situação é ainda pior. Sem piso tátil e recheadas de obstáculos imprevisíveis, como fradinhos, buracos, orelhões e jardineiras, as calçadas são um convite a acidentes, na opinião da assistente de compras e deficiente visual Márcia Marisa Costa:
— O Rio só tem um sinal de trânsito sonoro, na Urca. No resto da cidade somos obrigados a pedir a ajuda dos outros para atravessar. As calçadas também não têm padronização.
Se a pé a dificuldade é enorme, nos transportes públicos a situação não é diferente. Relatório feito mês passado pelo IBDD mostra que, das 99 estações da SuperVia, apenas duas estariam capacitadas a atender pessoas com deficiências: as de Manguinhos e Bonsucesso. Os maiores problemas encontrados são falta de rampas de acesso, catracas intransponíveis a cadeirantes e ausência de piso tátil para orientação dos cegos e de sinais luminosos para os deficientes auditivos. A SuperVia diz que reformará todas as estações até 2020, num investimento de R$ 150 milhões. Mas promete acelerar o passo no ramal de Deodoro, que deverá ter sua reformulação concluída no ano que vem. Principal ramal que atenderá ao público durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, o ramal tem 18 estações, que receberão piso tátil, rampas, elevadores, banheiros adaptados, bilheterias mais baixas e portões de acesso especial a cadeirantes. As primeiras intervenções começaram em agosto, pelas estações de Piedade, Quintino e Cascadura.
— Se os jogos fossem hoje, as pessoas com deficiências não conseguiriam ir ao Engenhão ou ao Maracanã — ressalta a superintendente do instituto Teresa Costa D’Amaral.
Na avaliação do IBDD, as estações do metrô estão em melhores condições, por terem passado por reformas recentemente. Segundo o superintendente da Metrô Rio, Joubert Flores, as 35 estações ganharam 236 equipamentos de acessibilidade, como plataformas verticais para cadeirantes, elevadores, piso tátil e painéis em braile. Mas o metrô ainda precisa reformar antigas composições que, apesar de possuírem avisos sonoros de fechamento de portas, não dispõem de alertas visuais para os deficientes auditivos. Já os 19 novos trens chegam com avisos sonoros, visuais e mapas em braile, mas apresentam desníveis nas portas de acesso.
— Os trens antigos serão adaptados. Os novos estão em fase de calibragem. Eles atendem às normas brasileiras de acessibilidade, que permitem desnível de até oito centímetros. Mas queremos trabalhar abaixo disso — diz Flores.
Ônibus precisam ter piso mais baixo
O IBDD lança críticas aos ônibus. Segundo Teresa D’Amaral, embora muitos coletivos já disponham de elevadores, o ideal seria que a frota fosse equipada com piso baixo, permitindo o acesso dos deficientes sem a ajuda de terceiros. Ela diz ainda que o primeiro BRT do Rio, o Transoeste, apesar de ter ônibus acessíveis, tem rampas de acesso íngremes. A distância entre as estações também é problemática:
— Fui da delegação brasileira nas Paralimpíadas de Atlanta (1996). Lá os ônibus tinham elevadores de cadeirantes e as filas eram enormes para embarque e desembarque nas vilas paralímpicas. Precisaram improvisar com rampas provisórias para acesso direto aos ônibus. O receio é que isso aconteça no Rio. No Transoeste, apesar dos ônibus com piso baixo, as rampas não permitem que o cadeirante circule sozinho. E as estações são distantes até para quem não tem problema físico.
Segundo o Rio Ônibus, os 40% coletivos da frota que não são acessíveis serão substituídos até 2014 por veículos mais modernos, com plataformas de embarque para cadeirantes.
As calçadas nada amigáveis do Rio serão alvo de um projeto de reforma, batizado de Calçada Lisa, que pretende adaptar 700 mil m² de passeios públicos nos próximos quatro anos. Segundo o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osorio, deverão ser investidos cerca de R$ 89,6 milhões a partir de 2013 na colocação de rampas para cadeirantes e piso tátil para orientação dos deficientes visuais. As obras serão concentradas em bairros de grande circulação de pedestres, a começar por Copacabana. Cinco mil rampas serão instaladas em calçadas de outros pontos da cidade.
— O Rio não é acessível. Temos um passivo grande nessa área — admite.
De acordo com o secretário, o Calçada Lisa focará em passeios públicos de áreas onde a urbanização está consolidada. As instalações olímpicas, como os Parques Olímpicos da Barra e de Deodoro, e projetos de reurbanização, como o Porto Maravilha e o entorno do Maracanã, já sairão do papel com acessibilidade total.
Sinal sonoro, só na Urca
Uma iniciativa que chega tarde diante das dificuldades diárias impostas a cadeirantes e deficientes visuais. Uma amostra dos problemas ficou evidente no teste feito, a pedido do GLOBO, pelo funcionário do Instituto Brasileiro dos Direitos das Pessoas com Deficiências (IBDD), João Carlos Faria da Rocha, nas calçadas de Copacabana. A proposta era descer a Rua Figueiredo de Magalhães até a Avenida Atlântica. Foi uma prova de esforço.
— Temos rampas em alguns lados da calçada e de outros não. Você não completa a travessia e tem que ir para a rua. Andar na calçada no Rio é como fazer slalom (canoagem em meio a obstáculos) — reclama.
Para os deficientes visuais, a situação é ainda pior. Sem piso tátil e recheadas de obstáculos imprevisíveis, como fradinhos, buracos, orelhões e jardineiras, as calçadas são um convite a acidentes, na opinião da assistente de compras e deficiente visual Márcia Marisa Costa:
— O Rio só tem um sinal de trânsito sonoro, na Urca. No resto da cidade somos obrigados a pedir a ajuda dos outros para atravessar. As calçadas também não têm padronização.
Se a pé a dificuldade é enorme, nos transportes públicos a situação não é diferente. Relatório feito mês passado pelo IBDD mostra que, das 99 estações da SuperVia, apenas duas estariam capacitadas a atender pessoas com deficiências: as de Manguinhos e Bonsucesso. Os maiores problemas encontrados são falta de rampas de acesso, catracas intransponíveis a cadeirantes e ausência de piso tátil para orientação dos cegos e de sinais luminosos para os deficientes auditivos. A SuperVia diz que reformará todas as estações até 2020, num investimento de R$ 150 milhões. Mas promete acelerar o passo no ramal de Deodoro, que deverá ter sua reformulação concluída no ano que vem. Principal ramal que atenderá ao público durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, o ramal tem 18 estações, que receberão piso tátil, rampas, elevadores, banheiros adaptados, bilheterias mais baixas e portões de acesso especial a cadeirantes. As primeiras intervenções começaram em agosto, pelas estações de Piedade, Quintino e Cascadura.
— Se os jogos fossem hoje, as pessoas com deficiências não conseguiriam ir ao Engenhão ou ao Maracanã — ressalta a superintendente do instituto Teresa Costa D’Amaral.
Na avaliação do IBDD, as estações do metrô estão em melhores condições, por terem passado por reformas recentemente. Segundo o superintendente da Metrô Rio, Joubert Flores, as 35 estações ganharam 236 equipamentos de acessibilidade, como plataformas verticais para cadeirantes, elevadores, piso tátil e painéis em braile. Mas o metrô ainda precisa reformar antigas composições que, apesar de possuírem avisos sonoros de fechamento de portas, não dispõem de alertas visuais para os deficientes auditivos. Já os 19 novos trens chegam com avisos sonoros, visuais e mapas em braile, mas apresentam desníveis nas portas de acesso.
— Os trens antigos serão adaptados. Os novos estão em fase de calibragem. Eles atendem às normas brasileiras de acessibilidade, que permitem desnível de até oito centímetros. Mas queremos trabalhar abaixo disso — diz Flores.
Ônibus precisam ter piso mais baixo
O IBDD lança críticas aos ônibus. Segundo Teresa D’Amaral, embora muitos coletivos já disponham de elevadores, o ideal seria que a frota fosse equipada com piso baixo, permitindo o acesso dos deficientes sem a ajuda de terceiros. Ela diz ainda que o primeiro BRT do Rio, o Transoeste, apesar de ter ônibus acessíveis, tem rampas de acesso íngremes. A distância entre as estações também é problemática:
— Fui da delegação brasileira nas Paralimpíadas de Atlanta (1996). Lá os ônibus tinham elevadores de cadeirantes e as filas eram enormes para embarque e desembarque nas vilas paralímpicas. Precisaram improvisar com rampas provisórias para acesso direto aos ônibus. O receio é que isso aconteça no Rio. No Transoeste, apesar dos ônibus com piso baixo, as rampas não permitem que o cadeirante circule sozinho. E as estações são distantes até para quem não tem problema físico.
Segundo o Rio Ônibus, os 40% coletivos da frota que não são acessíveis serão substituídos até 2014 por veículos mais modernos, com plataformas de embarque para cadeirantes.
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