Cresce a procura por implantes de
silicone cada vez maiores e aumenta o número de adolescentes que desejam
fazer essa cirurgia plástica. Especialistas indicam como evitar
problemas
Mônica Tarantino e Rachel Costa
As brasileiras estão redefinindo seu padrão de beleza corporal.
Querem seios cada vez mais fartos – e desejam isso cada vez mais cedo. A
constatação emerge de números obtidos por entidades que representam a
área da cirurgia plástica e também da observação dos mais experientes e
renomados cirurgiões plásticos do País do que acontece no dia a dia de
seus consultórios. “Há uma década, as mulheres do Brasil queriam ser
retas e musculosas. Agora buscam um corpo torneado e com mamas mais
projetadas”, afirma o médico José Horácio Aboudib, presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O especialista, assim como a
maioria de seus colegas, também não se surpreende mais ao encontrar na
sala de espera de sua clínica meninas de 14, 15 anos, querendo saber
como aumentar o número do sutiã. “Antes, elas queriam mudar o nariz,
corrigir a orelha ou tirar uma pinta. Agora, vêm para aumentar os
seios”, diz o cirurgião plástico Alexandre Senra, de São Paulo,
referência em cirurgia plástica de mama. No consultório do mineiro
Sebastião Guerra, chefe da Cirurgia Plástica do Hospital Mater Dei, de
Belo Horizonte, 10% das consultas com jovens menores de 18 anos. “Em vez
de festas ou viagens, muitas pedem aos pais uma prótese de silicone
como presente de 15 anos”, conta o médico.
O fenômeno agora registrado no Brasil é muito parecido com o que
ocorre em outros países, em especial nos Estados Unidos. Lá, como aqui, a
colocação de implantes para dar mais volume aos seios é a cirurgia
preferida no campo dos procedimentos estéticos. A mais recente pesquisa
sobre o tema, realizada em 25 países e divulgada na semana passada pela
International Society for Aesthetic Plastic Surgery (Isaps), revelou que
os EUA continuam puxando a fila dos países onde o procedimento é mais
realizado. Em 2011, foram 284.351 procedimentos. Depois vem o Brasil,
com 148.962 cirurgias para colocação de implantes de silicone. Em
terceiro lugar está o México, com 72.712 procedimentos.
TAMANHO
A advogada Veridiana trocou a prótese de 190 mililitros (ml) por uma de 255 ml
A procura por próteses maiores começou nos Estados Unidos, mas
desembarcou no Brasil trazida por um movimento de padronização de beleza
que se espalha pelo mundo. “A partir dos anos 2000, os padrões
começaram a ser mais universais”, afirma o cirurgião plástico Alexandre
Munhoz, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e consultor de uma das
marcas de implantes. “Há uma década, a brasileira usava implantes em
torno de 180 mililitros (ml). Agora, a média fica entre 200 ml e 340
ml”, observa. Na clínica do cirurgião plástico Aboudib, no Rio de
Janeiro, a média varia entre 255 ml e 315 ml. Seu colega mineiro
Sebastião Guerra lembra que não há mais no mercado próteses de 120 ml.
“O volume começa em 140 ml”, diz. “Há 25 anos, eu colocava 60 ml, 80 ml e
até 120 ml. Minha média atual chega a 280 ml”, afirma ele, que já
colocou implantes de 375 ml. Um levantamento da Allergan, fabricante de
próteses, dá uma ideia de como está ocorrendo a mudança. Segundo a
empresa, 31% das cirurgias feitas com próteses da marca no ano passado
usaram modelos de 300 ml, seguidas pelas de 340 ml. Os médicos afirmam
que os preços não diferem em relação aos implantes menores.
PACIÊNCIA
Thaissa queria colocar o implante desde os 15 anos. Mas seus
pais não permitiram. Ela só fez a cirurgia seis anos depois
A advogada Veridiana Olinésio, de São Paulo, e a atriz Franciely
Freduzeski, 33 anos, do Rio de Janeiro, estão entre as mulheres que
aumentaram o volume das próteses. Veridiana colocou a primeira prótese
aos 27 anos, de 190 ml, e aos 33 anos, após a gravidez, optou por uma de
255 ml. “Eu pareço mais bem-disposta”, conta. Franciely também trocou
após o nascimento do filho. “Coloquei 285 ml. Estou mais bonita.”
Assim como o tamanho mais avantajado dos seios, a idade cada vez mais
precoce de quem busca esse efeito obedece a uma tendência mundial.
Quando começou a ser realizado, o implante de silicone era quase
restrito a mulheres mais velhas, por volta dos 45 anos, que desejavam
recuperar as formas da juventude. Hoje, não se trata mais de restaurar
algo que foi perdido, mas simplesmente de tornar os seios mais atraentes
e bonitos para as próprias jovens. O médico Sebastião Guerra, por
exemplo, atendeu uma menina de 13 anos que insistia em aumentar o peito
porque tinha certeza de que isso mudaria sua vida. Queria tanto que
convenceu os pais. “Ela não saía de casa, não ia à piscina, não vestia
uma blusa mais decotada”, lembra o cirurgião.
O desejo de ficar mais bonita é absolutamente legítimo. Os
especialistas alertam, no entanto, para a necessidade de ter bom-senso e
fazer as devidas ponderações na hora de escolher como e quando se
submeter à cirurgia. Aumentar demais o tamanho dos seios e colocar
próteses muito cedo traz riscos que não devem ser ignorados. No que diz
respeito ao volume, há chance de o contorno da prótese ficar destacado
na região do colo quando o diâmetro da mama não é respeitado. “Pode
haver também uma extensão não harmoniosa na direção lateral ou a
possibilidade de as próteses se encostarem, o que dá um efeito muito
artificial”, observa o cirurgião plástico Renato Saltz, radicado em Salt
Lake City, nos Estados Unidos, e ex-presidente da American Society of
Aesthetic Plastic Surgery. “Por isso é fundamental respeitar a anatomia
original da mama e seus limites”, diz.
DESEJO
Orientada pelos pais, a paulistana Julia Spinardi esperou quatro
anos antes de colocar a prótese. Está feliz com o resultado
Mais um desdobramento possível é a queda da mama se a pele da
paciente não der sustentação ao volume inserido. Também pode ser que a
mulher não goste do resultado. Aí, o jeito é enfrentar uma nova
operação. “Tenho feito muitas trocas de implantes maiores por menores em
jovens que querem parecer mais elegantes”, diz o cirurgião plástico
Marcelo Sampaio, do Núcleo de Mastologia do Hospital Sírio-Libanês, em
São Paulo.
Em relação à idade, o estágio de desenvolvimento do corpo da
adolescente é decisivo. A menarca, ou primeira menstruação, por exemplo,
é um dos critérios de seleção usados por alguns médicos. Outros só
realizam a cirurgia se a paciente concluiu o processo de maturação
sexual e suas mamas alcançaram o que se chama de estágio 4, do tamanho
do de uma mulher adulta. “Para os endocrinologistas, a conclusão do
desenvolvimento corporal só ocorre por volta dos 17 anos. Pode ser que
se dê antes, mas também pode ser que as mamas não tenham chegado ao seu
tamanho definitivo. É preciso examinar a adolescente muito bem”, explica
a endocrinologista Cláudia Cozer, coordenadora do Núcleo de Obesidade e
Transtornos Alimentares do Hospital Sírio-Libanês. Depois dessa etapa, a
glândula mamária não cresce mais, ainda que possa ganhar volume por
causa da distribuição de gordura corporal. “Médicos mais conscienciosos
não deveriam colocar implantes antes dessa idade, a não ser em situações
muito sérias de alterações do desenvolvimento”, afirma a médica.
* Alexandre Senra, Alexandre Munhoz e Renato Saltz
É consenso que a colocação de implantes de silicone em jovens mal
selecionadas para o procedimento pode provocar grandes estragos. “Se a
prótese esticar demais a pele, pode comprimir a glândula mamária da
adolescente e atrapalhar o crescimento”, explica o cirurgião Sebastião
Guerra. Outro risco é o surgimento de estrias, um dos principais efeitos
colaterais desse tipo de cirurgia quando feita na adolescência. “Em
geral, elas aparecem quando o implante é maior e faz os tecidos de
sustentação se romper, abrindo caminho para a flacidez futura”, explica o
cirurgião plástico Carlos Uebel, presidente da International Society
for Aesthetic Plastic Surgery.
Para evitar erros tanto na escolha do tamanho como na definição da
idade para colocar a prótese de silicone, a cirurgia plástica oferece
novidades e, principalmente, muito conhecimento. Em relação ao tamanho,
por exemplo, novos recursos dão uma noção antecipada dos resultados da
colocação do implante. Isso é possibilitado por programas de computador
que, a partir de imagens digitais das pacientes, fazem uma simulação em
3D de como ficará o corpo após a cirurgia. “O objetivo é ter uma ideia
mais realista do resultado”, explica o cirurgião plástico Ricardo
Cavalcanti, de São Paulo. O instrumento está sendo usado por
especialistas como Cavalcanti e o médico Alexandre Senra, de São Paulo,
entre outros.
Também é possível transpor as medidas do seio original para os sites
dos fabricantes e avaliar diversos tamanhos sugeridos. Além disso,
durante a cirurgia, os especialistas costumam testar alguns modelos
pré-selecionados antes de inserir o implante definitivo. “São tentativas
de aproximar o resultado final daquilo que a paciente espera. As
chances de isso acontecer são maiores se o cirurgião for experiente e a
mulher não alimentar falsas expectativas. Por isso deve-se conversar
muito antes”, afirma o cirurgião Renato Saltz. A apresentadora de
televisão Monica Apor, 31 anos, seguiu esse roteiro de recomendações e
colocou uma de 250 ml. “Queria um corpo mais harmonioso e consegui”,
diz.
MUDANÇAS
Franciely (acima) colocou prótese de 285 ml após o nascimento
do filho. Monica (abaixo) seguiu as recomendações do
médico e está satisfeita com o implante de 250 ml
Quanto à idade certa, há alguns parâmetros disponíveis. Nos Estados
Unidos, a recomendação da American Society of Aesthetic Plastic Surgery é
não fazer procedimentos cirúrgicos estéticos em menores de 21 anos. No
entanto, conforme pesquisa da entidade, até 1,5% das cirurgias de
aumento de mama nos EUA é feita em garotas com menos de 18 anos. A
sociedade internacional sugere não realizar o procedimento antes dos 16
anos.
Nessa questão, é preciso considerar ainda a maturidade emocional das
garotas. “Algumas meninas se sentem muito sedutoras e poderosas com seus
implantes. Podem precisar de apoio psicológico para pensar sobre o que
está acontecendo com elas”, diz o psiquiatra Bruno Raffa, do Hospital
São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O
papel dos pais é decisivo nessa situação. “Eles, que geralmente pagam
pelo procedimento, precisam participar da discussão e colocar limites.
Faz parte do crescimento”, diz o médico. Raffa aconselha os cirurgiões a
se certificarem de que a adolescente conseguiu entender todas as etapas
do procedimento e as mudanças pelas quais seu corpo passará. O médico
precisa também avaliar o grau de expectativa da menina. “Se ela tiver
prognósticos irreais, continuará insatisfeita”, diz o especialista.
Alguns médicos encaminham as pacientes mais jovens para uma avaliação
psicológica antes de decidir se fazem ou não a cirurgia.
PROJEÇÃO
O cirurgião plástico Senra usa aparelho que simula como será o resultado
Quando os passos são dados a seu tempo, a satisfação aparece. Foi
assim com a estudante de direito carioca Thaissa Rodrigues, 23 anos, que
colocou 230 ml há dois anos. A vontade começou aos 15 anos, mas seus
pais conseguiram adiar a realização do desejo. “Ainda bem que eles
fizeram isso, porque agora o resultado ficou muito bom e mais
proporcional”, diz. A paulistana Julia Spinardi, 19 anos, viveu um
processo parecido. “Queria aumentar os seios desde os 15, mas meus pais
não deixaram e só pude fazer a cirurgia recentemente”, conta. “Agora
estou contente.”
Fotos: David Falk/gettyimages, João Castellano e Orestes Locatel/ag. Istoé, Pedro Dias, Kelsen Fernandes
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